Dor, memória e repertório tático: como Gustavo Alfaro mudou o Paraguai

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São Paulo — A esperança do Paraguai de voltar à Copa do Mundo depois de três edições está depositada nas mãos de um argentino no mínimo exótico nascido em Santa Fé. O adversário do Brasil ainda não perdeu sob o comando de Gustavo Alfaro. Escalado pelo senhor de 62 anos, venceu o Brasil por 1 x 0, em Assunção, no primeiro turno das Eliminatórias, a Argentina por 2 x 1 e o Uruguai por 2 x 0, em Assunção. O sucesso tem pelo menos quatro pilares: dor, memória, repertório tático e tom profético.

Uma das virtudes do Paraguai é a mutação de sistemas. Foram cinco diferentes em nove exibições. O repertório variado apresenta o 4-2-3-1, 3-4-3, 5-4-1, 4-4-2 e o 4-4-1-1. Formado em engenharia química, profissão deixada de lado para se concentrar na carreira de técnico de futebol, ele experimentou o 4-4-2 no triunfo contra Messi e companhia; e superou a esquadra celeste por  2 x 0 na rodada anterior configurado no 4-4-1-1.

Campeão da Copa Sul-Americana em 2007 pelo Arsenal de Sarandí e do Torneio Clausura do Campeonato Argentino em 2012, com passagem por clubes como o Boca Juniors, e lembrado por bons trabalhos no Equador e na Costa Rica, Alfaro é uma espécie de filósofo da bola. Um dos princípios usados no Paraguai é ativar a dor de uma seleção carente da Copa desde a participação na África do Sul, em 2010.

“Eu entendi que a dor era o ponto de partida, que as cicatrizes eram o ponto de partida. Encontrei o ponto de partida. Acreditar em meio à dor e usar a dor como combustível foi o que nos manteve em movimento e o que nos torna privilegiados por termos o amor e o reconhecimento de um país hoje”, explica Alfaro, terceiro colocado nas Eliminatórias com 24 pontos, dois a mais do que o Brasil. São cinco vitórias e quatro empates desde que ele assumiu o cargo depois da eliminação do Paraguai na Copa América de 2024.

Além da dor, Alfaro gosta de ativar a memória dos jogadores. Ele entrou na mente dos jogadores ao lembrar do tempo de humilhação nos duelos com os adversários. A vitória mais importante da campanha é contra o Brasil. Ele consegue vencer o complexo de inferioridade. “Quando fomos ao Uruguai, eles disseram que nos venceriam por 3 x 0, que éramos o pior time das Eliminatórias. Contra o Brasil, todas aquelas habilidades individuais incríveis se chocaram contra aquela muralha guarani, que se recusou a ceder. Vencemos os campeões mundiais depois de sofrermos o primeiro gol. Ter memória é isso”, prega.

O momento de Gustavo Alfaro é de satisfação com o desempenho. “Em todos os lugares que passei, me senti muito livre para desenvolver o meu trabalho. Sinto liberdade, estou em sintonia com todos. Se quisermos nos classificar para a Copa do Mundo, temos que apostar na vitória”, disse na entrevista coletiva do último domingo.

Carlo Ancelotti só precisa tomar cuidado com uma característica do colega de profissão: a secação. Quando comandava o Equador, Gustavo Alfaro abraçou Tite no duelo em Porto Alegre pelas Eliminatórias e profetizou: “Siga lutando, porque esta é sua e você vai terminar sendo campeão do mundo. Lembre-se do que estou te dizendo. Você dignifica isso”. Tite alcançou as quartas de final e foi eliminado nos pênaltis pela Croácia.

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Marcos Paulo Lima

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