Do cozidão na casa do governador à fritura na CBF: a última agenda de Walter Feldman em Brasília

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A última missão oficial do ex-secretário-geral da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Walter Feldman, fora da sede da entidade, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, mostrou, aqui em Brasília, que ainda havia certa sintonia entre ele e o presidente interino da entidade — Antônio Carlos Nunes de Lima — até a véspera da apresentação da carta dos clubes da Série A com reivindicações como a criação da Liga Nacional, a redução dos estaduais e a equiparação com as federações no peso dos votos para presidente da entidade.

O blog apurou que Nunes e Feldman almoçaram em locais diferentes no dia da abertura da Copa América, estiveram juntos, no Mané Garrincha, na estreia do Brasil contra a Venezuela, e voltaram na mesma aeronave — o jatinho da CBF — à Cidade Maravilhosa na segunda-feira posterior à vitória do Brasil sobre a Venezuela.

Apesar das agendas diferentes na hora do almoço na passagem pela capital federal, isso aumenta os indícios de que Feldman perdeu o emprego por causa do acolhimento simpático aos clubes da Série A, na última terça-feira (15/6). Na ocasião, os times da primeira divisão entregaram carta à CBF manifestando reivindicações com a criação da Liga Nacional e igualdade de peso novo voto com as federações nas eleições para presidente da entidade.

Na manhã de 13 de junho, um domingo, dia da abertura da Copa América na capital federal, Feldman e Nunes almoçaram em endereços distintos no Distrito Federal. Enquanto o coronel Nunes e sua turma saboreavam rodízio na churrascaria mais badalada do Setor Hoteleiro Sul, no centro de Brasília, a 10 minutos do Mané Garrincha, Walter Feldman, até então elo da CBF com o governo do presidente da República, Jair Bolsonaro, depois do afastamento de Rogério Caboclo, dirigia-se a outro ponto da cidade.

O até então secretário-geral desembarcou em voo de carreira no aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek e seguiu para a residência do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (PMDB). O blog apurou que ele teria sido convidado para almoçar um cozido preparado por um badalado Chef da cidade com o mandatário do executivo local. Assim foi.

Encantado com o prato, Walter Feldman deixou a residência do governador quando Ibaneis, rubro-negro assumido, e amigos, preparavam-se para assistir ao jogo do Flamengo contra o América-MG pela televisão. O secretário se despediu e partiu rumo ao Mané Garrincha para acompanhar o jogo de abertura da Copa América entre Brasil e Venezuela.

Como havia informado o blog no início daquela manhã de domingo (15/6), Ibaneis Rocha não foi ao estádio. O presidente da República, Jair Bolsonaro, também viu de casa. O “W.O.” dos dois principais políticos do Distrito Federal causou estranheza nas cúpulas da CBF e da Conmebol. Motivo: há dois anos, Bolsonaro havia desembarcado com sua comitiva no Morumbi, em São Paulo, para a abertura da Copa América 2019 entre Brasil e Bolívia.

A expectativa era pela presença, pelo menos, do presidente. Afinal, a pedido de Rogério Caboclo e de Walter Feldman, Bolsonaro assumiu o papel de principal fiador da Copa América no Brasil depois do cancelamento do torneio na Colômbia e na Argentina.

Walter Feldman encontrou-se com o coronel Nunes no Mané Garrincha. Na gestão de Rogério Caboclo, o secretário-geral costumava aparecer em fotos importantes. Foi quase sempre assim nas visitas, por exemplo, ao Palácio do Planalto, quando Feldman, político muito bem relacionado na Esplanada dos Ministérios e no Palácio do Planalto, acompanhou o mandatário afastado da CBF e o poderoso chefão da Fifa, Gianni Infantino, no encontro com Bolsonaro. Ele fez a ponte, por exemplo, para que o país recebesse a toque de caixa o Mundial Sub-17 2019. À época, a Fifa desistiu de realizar o torneio no Peru e remarcou na última hora para o Brasil.

Na abertura da Copa América, Feldman, um dos intermediários da Copa América no Brasil, foi ofuscado. Alejandro Domínguez agradeceu publicamente ao coronel Nunes pela recepção ao torneio. Estavam com ele, em segundo plano, Feldman, Ednaldo Rodrigues, um dos vice-presidentes da CBF, o presidente da Federação de Futebol do Distrito Federal, Daniel Vasconcelos, o presidente da Comissão Nacional de Médicos do Futebol, Jorge Pagura, e o diretor financeiro da entidade máxima do futebol brasileiro, Gilnei Botrel.

Há relatos de quem esteve na tribuna de que a relação entre Feldman e Nunes foi cordial durante a partida. Outra fonte ouvida pela reportagem definiu como no limite da tolerância. O fato é que o presidente interino e o secretário-geral dormiram em Brasília e viajaram juntos de volta para o Rio de Janeiro, na manhã de segunda-feira, no jatinho particular da CBF. Quem acompanhou tudo de perto jura que, até ali, estava tudo certo. Nunes havia, inclusive, abordado a primeira ordem do presidente afastado, Rogério Caboclo, para demitir Feldman. A harmonia começaria a chegar ao fim a partir da articulação dos clubes pela Liga Nacional e a desconfiança da maioria dos presidentes das federações de que Feldman estaria ao lado dos times para enfraquecê-los. Nunes não suportou a pressão e cedeu, como contamos aqui na última quinta-feira.

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Marcos Paulo Lima

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