Do 3-5-2 do Grêmio ao 3-5-2 aleatório do Flamengo: Renato Gaúcho indica ter um velho novo plano

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Renato Gaúcho tem tanta qualidade no elenco ousou colocar em prática uma nova ideia para o Flamengo no primeiro tempo da vitória por 2 x 0 contra o Barcelona de Guayaquil no duelo de ida das semifinais da Libertadores. Arriscou, poderia ter sofrido gols se Diego Alves não estivesse em noite iluminada, mas deu pistas de que pode ressuscitar no Flamengo a linha de três defensores — 3-5-2 — usada naquele Grêmio vice-campeão do Brasileirão em 2013. Havia chamado atenção para essa possibilidade na estreia dele no cargo contra o Defensa y Justicia.

Rodrigo Caio, Willian Arão e David Luiz têm qualidade na saída de bola. Daí o Flamengo ter ser posicionado algumas vezes no primeiro tempo com Rodrigo Caio aberto na direita, Arão recuando de primeiro volante para o papel de zagueiro centralizado e David Luiz aberto do outro lado. Estava desenhando o sistema 3-5-2 quando o Flamengo tinha a posse de bola. Os laterais Isla e Renê ficavam espetados, praticamente como alas. Em tese, esse sistema favorece, principalmente, Isla. Os melhores dias da carreira dele foram atuando como ala. Basta lembrar o sucesso dele na seleção do Chile sob o comando de Jorge Sampaoli. Mas acho que Isla não aproveitou como deveria a oportunidade proporcionada pelo sistema aleatório.

Nesse modelo, Andreas Pereira foi fundamental em uma noite brilhante para comandar o meio de campo e fazer o time jogar, mas também exigiu humildade, menos vaidade e mais espírito coletivo de estrelas como Gabriel Barbosa, por exemplo. O camisa 9 atuou aberto na direita na maior parte do jogo, ou seja, fora da área. Everton Ribeiro, que costuma fazer esse papel, centralizava ao lado de Vitinho. Renê tinha certa liberdade para subir, mas avançava para dar liberdade a Bruno Henrique para invadir a área em diagonal. Assim fez os dois gols.

O 3-5-2 aleatório do Flamengo no primeiro tempo com a posse de bola. Imagem: Blog Drible de Corpo

Sem a bola, o Flamengo fazia a transição para a linha de quatro na defesa ou até cinco em algumas vezes, mas sem sincronia. Por isso o Barcelona achou espaço. A inserção de duas peças novas em um time que caminha para o fim da temporada demanda entrosamento. David Luiz e Andreas Pereira chegaram outro dia. Ambos estão tateando o que é esse Flamengo em constante mutação depois das eras Jorge Jesus, Doménec Torrent e Rogério Ceni e o início do trabalho de Renato Gaúcho. O que fez o Barcelona no primeiro tempo? Agrediu justamente a banda esquerda da defesa rubro-negra. David Luiz estreava e Renê volta ao time depois de um tempinho inativo para se recuperar de contusão. Somado a isso, os buracos deixados por Andreas Pereira e Arão na transição para a defesa. Falta de sincronia, óbvio.

O Flamengo do 3-5-2 no primeiro tempo não se repetiu no segundo. A saída de David Luiz fez o time voltar ao sistema trivial. O teste foi válido porque o Flamengo corrigiu os problemas da defesa na base da individualidade no ataque. O passe milimétrico de Gabriel Barbosa para Bruno Henrique foi sensacional. O contra-ataque com participações de Everton Ribeiro, Gabigol, Vitinho e Bruno Henrique arrancou aplausos. Mas o time não soube jogar com a bola.

A virtude de outros tempos virou dificuldade quando o Flamengo teve 11 contra 10 na maior parte do segundo tempo, ou seja, antes da expulsão irresponsável do zagueiro Léo Pereira. Aqui chamo a atenção para algo perigoso. Renato Gaúcho tem mexido mal no time. Isso pode ser perigoso no duelo de volta, em Guayaquil, e letal numa hipotética final da Libertadores contra os fortíssimos Palmeiras e Atlético-MG. O time tem insistido muito nas ações ofensivas pelo meio e nos passes e cruzamentos longos para a área. Em um deles saiu o primeiro gol.

O Grêmio de Renato Gaúcho no Brasileirão de 2013: vice-campeão atrás do Cruzeiro. Foto: Drible de Corpo

Quando se tem um jogador a mais, uma alternativa é explorar os lados do campo. No entanto, o Flamengo não tinha profundidade. Ganhou com a entrada de Michael em campo, mas faltava isso na outra banda. Talvez, a melhor decisão fosse abrir Everton Ribeiro na direita e deslocar Gabigol para o meio. Outra alternativa era a entrada de Kenedy na direita. Renato Gaúcho preferiu colocar Pedro em campo justamente para continuar investindo nas tentativas pelo meio e nas bolas alçadas na área. No meio de campo, Thiago Maia não entrou bem e o rendimento de Andreas Pereira caiu no papel de meia, teoricamente emulando Arrascaeta.

Para mim, a notícia da vitória do Flamengo é a possibilidade de uma linha de três na defesa. É preciso rever com lupa o que Renato Gaúcho propôs no primeiro tempo. Renato Gaúcho levou o Grêmio ao vice-campeonato no Brasileiro, atrás apenas do Cruzeiro, atuando na maior parte do campeonato com três zagueiros. Werley, Rodholfo e Bressan eram os três beques. Pará e Alex Telles, os alas. O meio de campo tinha Souza, Riveros e Ramiro. E o ataque do 3-5-2 contava com Kleber “Gladiador” e o centroavante Barcos. Funcionou.

Renato Gaúcho tem dois zagueiros com perfis de líberos — Rodrigo Caio e David Luiz — e um beque postiço com qualidade saída de bola: Willian Arão. A comissão técnica de Renato Gaúcho é estudiosa. Sabe, por exemplo, que Isla viveu seus melhores dias como ala na seleção do Chile em um sistema com três defensores. Com isso, ficava liberado para oferecer a Jorge Sampaoli o que tem de melhor, o apoio ao ataque. Isla é deficiente na marcação. Demanda cobertura, alguém que não o deixe tomar bola nas costas. A primeira e a última impressão do trabalho de Renato Gaúcho dão dicas. Ele terminou a partida de ida contra o Defensa y Justicia com três zagueiros. Usou esse modelo de forma aleatória no primeiro tempo. Antes ter mais de um modelo de jogo do que ser refém do samba de uma nota só. Mas é preciso entrosar!

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Marcos Paulo Lima

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