O futebol brasileiro tem algumas histórias inacreditáveis. Luiz Felipe Scolari é personagem de mais um delas. Em maio deste ano, o técnico protagonista de sete títulos em três passagens anteriores pelo Grêmio, entre eles Copa do Brasil, Brasileirão e Libertadores, foi considerado inapto à calçada da fama da Arena por uma comissão interna sob o argumento oficial de que Felipão continua em atividade. A desculpa pegou mal. Soou contraditória. Ídolo tricolor, Arce deixou suas pegadas no hall e é treinador do Cerro Porteño. O espaço imortaliza protagonistas do clube.
A polêmica virou queda de braço interna. O Conselho Deliberativo do Grêmio pediu parecer da Comissão de Assuntos Legais e Estatutários, que ratificou decisão da Comissão Memorial. A partir daí, foram acrescentados dois homenageados aos escolhidos anteriormente: Felipão e Luiz Carlos Silveira Martins, o Cacalo, ganharam o direito de se juntar ao ex-goleiro Galatto e ao ex-meia Osvaldo entre os condecorados. A cerimônia está marcada para setembro. Havia certa resistência por causa da maneira como Felipão deixou o cargo, em 2015, e foi para a China. Outros dizem que o “santo” do atual presidente não bate com o do treinador contratado.
Eis que, entre a desfeita e o mimo a Felipão em um desgaste absolutamente desnecessária, o Grêmio descobriu que precisa, mais uma vez, de um dos técnicos mais vitoriosos da história do clube. O treinador de 72 anos está, sim, na prateleira de profissionais como Renato Gaúcho e Oswaldo Rolla.
Scolari não disse sim aleatoriamente. Experiente, sabe que terá no Grêmio ingredientes para elaborar a velha receita. A diretoria deve estar consciente. Não pode esperar uma grande revolução na quarta passagem do profissional pelo cargo. A tendência é o time resgatar o estilo daquele Grêmio retrô de Scolari dos anos 1990, com marcação, força física e muita competitividade. Justamente o que tem faltado ao lanterna do Campeonato Brasileiro. Saco de pancadas, o time ainda não venceu. Aquele Grêmio moderninho dos tempos de Roger Machado e de Renato Gaúcho certamente ficou na memória.
O técnico observou o elenco e considera que pode extrair algo melhor dele em relação ao antecessor Tiago Nunes. Felipão tem o que sempre gostou: pelo menos um bom lateral. Rafinha pode ser o Arce dele. Por sinal, Rafinha foi testado no último amistoso da Seleção antes da Copa de 2014 e preterido por ele na lista final. Felipão preferiu Daniel Alves e Maicon, que não vivia boa fase, mas ficou com a vaga de reserva. Scolari também contará com uma dupla de dupla de zaga aquém dos bons tempos, mas possível de ser recuperada, formada por Kannemann e Pedro Geromel.
Do meio de campo para a frente, Felipão terá a pegada que sempre marcou seus trabalhos, e um velocista habilidoso para esticar bolas. No Palmeiras, era bola Dudu no título brasileiro de 2018. Na nova versão Scolari do Grêmio, tem tudo para ser bola no Douglas Costa.
Há boa relação do técnico com Maicon. Felipão também comandou Geromel e deve se cercar de atletas que foram comandados por ele, principalmente, no Palmeiras. São os casos de Thiago Santos e Diogo Barbosa. Aparentemente, o Grêmio andou várias casas atrás ao trocar os conceitos de Roger Machado e de Renato Gaúcho pelo estilo conhecido de Felipão. Isso não implica dizer que não dará certo. A ver…
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