Na era pós-Jorge Jesus, a diretoria do Flamengo entrou numa vibe de que técnicos brasileiros não tinham competência ou não serviam para comandar o caro, badalado e europeizado elenco rubro-negro. Tão logo o português se mandou para o Benfica, Marcos Braz e Bruno Spindel deram as costas ao mercado nacional, fizeram as malas e embarcaram rumo à Europa em busca de outro profissional importado. Depois de uma série de entrevistas, contrataram o catalão Domènec Torrent. O procedimento se repetiu depois da dispensa dos serviços de Renato Gaúcho e o acerto com o português Paulo Sousa. Profissionais nacionais viraram tampões, soluções emergenciais. Basta observar os contratos de curta duração.
O fato é que as melhores correções de rumo do Flamengo em meio à crise foram lideradas por treinadores brasileiros. Herdeiro da prancheta de Torrent, Rogério Ceni levou o time aos títulos do Campeonato Brasileiro, Supercopa do Brasil, Taça Guanabara e Campeonato Carioca.
Dorival Júnior acaba de suceder Paulo Sousa e dá mostras de que está devolvendo o Flamengo aos trilhos. Afastou o time da zona de rebaixamento no Brasileirão. Classificou para as quartas de final da Copa do Brasil e da Libertadores com muito sofrimento nas partidas de ida e exibições muito convincentes na volta contra Deportes Tolima e Atlético-MG.
A vitória desta quarta-feira por 2 x 0 contra o Galo devolve ao Flamengo algo que faltava nas gestões anteriores: plano de jogo para uma partida específica. Faltou isso, por exemplo, na final da Libertadores do ano passado contra o Palmeiras. Abel Ferreira tinha um plano. Renato Gaúcho foi surpreendido pela estratégia do português e demorou a reagir depois de o adversário escanear a fragilidade tática do time no setor de Bruno Henrique, Filipe Luís, Andreas Pereira e David Luiz. Ali nasce a trama de Dudu e o gol de Raphael Veiga.
Foi diferente no triunfo contra o Galo. O Flamengo não esteve brilhante como nos tempos de Jesus, mas teve comportamento coletivo exemplar do início ao fim da partida contra os atuais campeões da Copa do Brasil. Há muito tempo não se via um time tão comprometido com as ideias de um treinador. A marcação encaixou. Isolou Hulk do jogo. Nacho não o encontrava. Rodinei e Filipe Luís deram pouco espaço aos avanços de Guilherme Arana e de Mariano.
O Flamengo também explorou certo cansaço do Atlético-MG. O Galo parecia pregado. Sufocado pelo inferno rubro-negro, faltava fôlego para competir. O goleiro Everson quase evitou o pior no primeiro tempo, mas a arrancada do dedicado Pedro seguida de uma assistência milimétrica para Arrascaeta — nome do jogo — abriu o caminho para a vitória.
Dorival também resgatou a marcação na saída de bola do adversário. O lance do segundo gol nasce de uma blitz de Gabriel Barbosa e Pedro no sistema defensivo do Atlético. Pressionado, Junior Alonso perde a disputa para Pedro e comete a falta crucial. O Flamengo aproveita o mini escanteio pela direita cobrado por Everton Ribeiro, Pedro desvia e Arrascaeta mergulha de peixinho com a força suficiente para vê-la passar da linha. Dois gols chorados do uruguaio.
A equipe rubro-negra também trocou o comportamento blasé nas exibições sob o comando de Paulo Sousa pela vibração sob a batuta de Dorival Júnior. O sangue voltou a ferver. Foi possível notar mais de uma vez os jogadores comemorando roubada de bola e até chutão para lateral. Jogadores como David Luiz, Pedro, Arrascaeta e Gabigol foram ao limite da exaustão em nome da modernidade exigida pelo futebol coletivo cobrado pelo técnico Dorival Júnior. A expulsão do vilão Junior Alonso fez o Flamengo respirar no instante em que recuava perigosamente.
A classificação imponente diante do Atlético-MG não ofusca problemas graves dos dois times. Rodinei é uma caixinha de surpresas. Oito ou oitenta. Capaz de entregar exibições de gala como aquela diante do Tolima e gol contra na derrota para o Corinthians. Excelente apoio ao ataque diante do Galo e calafrios na recomposição defensiva. O Atlético tentou se criar por ali.
Por falar nas costas de Rodinei, o Galo teve dificuldade contra o Flamengo desde que o arisco Keno se machucou na partida de ida. Keno está para o Atlético como Bruno Henrique para a equipe rubro-negra. São os homens de velocidade, do drible, da quebra das linhas. A dinâmica do jogo seria outra se ambos estivessem bem. Keno entrou em campo aquém da capacidade física. Bruno Henrique nem foi relacionado. Ele se recupera de cirurgia.
O losango do meio de campo, com João Gomes, Thiago Maia, Éverton Ribeiro e Arrascaeta demanda ajustes nos movimentos. Adversários mais intensos e ligados no jogo saberão explorar essas deficiências enquanto os ajustes não forem feitos. Ao que parece, as correções serão feitas nos duelos válidos pelas Copas. É quando Dorival Júnior consegue usar a formação considerada de gala por ele. O técnico não repetirá a formação dos duelos contra Tolima e Atlético neste sábado contra o Coritiba, no Mané Garrincha.
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