Dome Dome surpreendeu o campeão Toronto e foi surpreendido pelo Galo. Foto: Alexandre Vidal/Flamengo Dome surpreendeu o campeão Toronto na MLS e foi surpreendido pelo Galo. Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Da MLS ao Brasileirão: a coerência de Doménec Torrent nas estreias por New York City e Flamengo

Publicado em Esporte

Domènec Torrent viveu o outro lado da moeda na estreia como técnico do Flamengo. Viu o “desafiante” Atlético-MG derrotar o atual campeão brasileiro no Maracanã. Bem diferente do que aconteceu em 24 de junho de 2018. Há dois anos, ele debutava pelo New York City como franco atirador e venceu o Toronto FC – detentor do título da Major League Soccer – por 2 x 1.

O técnico catalão teve seis dias de trabalho até a estreia no Flamengo. No New York City, assumiu em 11 de junho de 2008 e estreou duas semanas depois com uma virada por 2 x 1 contra o Toronto FC. Os dois gols foram marcados pelo centroavante norueguês Berget (assista ao vídeo da estreia de Dome no City).

 

Torrent havia herdado a prancheta de Patrick Vieira. O francês usava o sistema tático 5-4-1 no New York City. Chamo atenção para um detalhe: a coerência do novo técnico do Flamengo nos dois casos. Torrente manteve o mesmo desenho tático do antecessor na estreia à frente do time norte-americano. Venceu de virada no 5-4-1, inclusive com David Villa aberto pela esquerda.

O ex-auxiliar de Pep Guardiola começou a mexer no tabuleiro a partir da segunda exibição.  Passou do 5-4-1 para o 4-3-3 na derrota para o Chicago Fire, por 3 x 2. Patrick Vieira também havia utilizado esse formato, mas parecia tê-lo arquivado até deixar o cargo. Antes da chegada de Torrent, alternou configurações usando 3-5-2 e 4-1-4-1.

 

Doménec Torrent fez a sétima melhor campanha da temporada regular da MLS em 2018 ao assumir o time praticamente na metade da liga; no ano seguinte foi protagonista do melhor desempenho na história do time ao terminar em primeiro lugar na Conferência Leste — segundo na classificação geral da fase de pontos corridos atrás apenas do Los Angeles Galaxy. Nas duas ocasiões, o City foi eliminado nas semifinais dos playoffs da conferência

 

A tentativa de um trabalho autoral veio no terceiro jogo. Sem Berget e Villa, improvisou o maestro do time como falso nove. O argentino Maxi Moralez assumiu o papel de centroavante postiço em um sistema 4-2-3-1. Foi o homem de referência na vitória por 1 x 0 no clássico contra o arquirrival New York Red Bull. Gol de quem? Moralez! Foram quatro vitórias consecutivas neste formato, com variação para o 4-3-3 no triunfo sobre o Orlando City.

Portanto, não se assuste se Arrascaeta pintar como falso nove uma hora dessas. O truque não seria revolucionário. Mano Menezes usou Arrascaeta como falso 9 no Cruzeiro contra o Flamengo na decisão da Copa do Brasil de 2017. O uruguaio tem perfil para cumprir a missão. Astro do New York City na chegada de Torrent, o espanhol David Villa adaptou-se ao treinador. Atuou aberto na esquerda, mas também fez o papel de centroavante.

 

Primeira vez em 19 jogos que o Flamengo (time principal) não faz gol. A última havia sido na derrota para o Liverpool, em 21 de dezembro do ano passado, na decisão do Mundial de Clubes da Fifa. A estatística não leva em conta as partidas disputadas pelo time sub-20 no início do Carioca

 

Assim é Doménec Torrent. Por trás da cautela na manutenção do legado de Jorge Jesus até a metade do segundo tempo da derrota para o Atlético-MG, há um treinador inquieto. A ponto de precipitar alternativas ao encerrar o jogo em um sistema tático retrô dos primórdios do futebol, o 2-3-5, recurso resgatado pelo mestre Pep Guardiola no Bayern de Munique e no Manchester City. Para dar certo, isso precisa ser devidamente treinado e o chip tem que estar incutido na mente do time.

Jorge Sampaoli já tem o Atlético-MG nas mãos. Errou na escalação no primeiro tempo, tomou sufoco e poderia ter perdido o jogo se o Flamengo não abusasse de desperdiçar gols. Porém, o argentino consertou o Galo usando um trunfo que Domènec Torrent ainda não tem. Sampaoli conhece o Flamengo mais que o catalão. Torrent herdou timaço, mas precisa decifrá-lo. A mudança não é tão simples. Tem preço. Alguém pagará caro pela derrota. Talvez, o Atlético-GO.

 

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