Copa América: o destempero de uma Seleção ruim da cabeça e doente do pé

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Escrevi depois da estreia contra a Costa Rica e repito no empate por 1 x 1 com a Colômbia: a Seleção precisa gerenciar as emoções. Sugeri até uma sessão do filme de animação Divertida Mente 2 na concentração. Trata sobre ansiedade. A personagem principal, Riley, é uma jogadora de hóquei no gelo aprendendo a lidar com novas emoções na transição da infância para a adolescência. Muitos jogadores convocados estão deixando de ser meninos sob a pressão de virar homens a toque de caixa em um torneio oficial. O Brasil necessita de um divã.

Como explicar a pilha de Vinicius Junior no início da partida? Uma cotovelada em James Rodríguez ao levar um chapéu. Dedo em riste para o juiz Jesus Valenzuela na tentativa de evitar o cartão amarelo que poderia ter sido vermelho. Murros e tapas no gramado na sequência da não marcação do pênalti cometido por Muñoz — e ignorado pela equipe de arbitragem e o VAR. Erro gravíssimo, mas Vini também poderia ter sido expulso por reclamação acintosa. É preciso ter cuidado em competições de ponta.

Os bastidores são pesados. É no mínimo imprudente a Conmebol escalar um argentino para comandar a Arbitragem de Vídeo (VAR) em um jogo do Brasil. O escolhido foi Mauro Vigliano.  Há uma “guerra fria” desde que Lionel Messi e Lionel Scaloni soltaram o verbo contra o apito na Copa América de 2019 no Brasil. Lembram? “A corrupção e os juízes não deixam as pessoas aproveitarem, e o futebol está arruinado. Acho que está armado para o Brasil”, pressionou o camisa 10 da Argentina à época depois de ser expulso contra o Chile na decisão do terceiro lugar, na Neo Química Arena, em São Paulo.

Vinicius Junior ama lances de efeito. Irritou os jogadores do Paraguai ao protagonizar lance semelhante na segunda rodada. No futebol e na vida há uma máxima: “Se não sabe brincar, não desça para o play”. O que Vini faz com os marcadores, James Rodriguez também pode. O atacante brasileiro sentiu-se desrespeitado pelo chapéu e agrediu o meia colombiano. Vini acerta muito, faz uma temporada digna de Bola de Ouro, mas neste episódio, errou! Está fora do clássico de sábado contra o Uruguai pelas quartas de final.

Ele não era o único esquentadinho. O técnico Dorival Júnior costuma ser equilibrado à beira do campo. O comportamento dele durante a partida surpreendeu. Quem deveria passar tranquilidade ao time estava pilhando a equipe com reclamações, gestos e uma visível inquietação do início ao fim da partida. A falta de gestão das emoções fez com que ele saísse do eixo e tomasse quatro decisões óbvias e equivocadas durante a partida.

Dorival Júnior troca Lucas Paquetá por Andreas Pereira. Saca João Gomes para a entrada de Éderson. Sai Rodrygo, entra Savinho. Douglas Luiz substitui Bruno Guimarães. Resumo: quatro trocas no estilo seis por meia dúzia. A única intervenção ousada foi aos 41 minutos do segundo tempo. O atacante Endrick entra na vaga do lateral-esquerdo Wendell.

O Brasil encerra a partida praticamente no sistema 3-3-4: Alisson; Danilo, Éder Militão e Marquinhos; Douglas Luiz, Éderson e Andreas Pereira; Savinho, Endrick, Raphinha e Vinicius Junior.  As mudanças não mudam o jogo. A Colômbia termina com mais posse de bola, domina a Seleção e coloca na roda aos gritos de “olé” da torcida em maioria na arena.

O descontrole do Brasil vem desde a estreia contra a Costa Rica. Danilo bateu boca com torcedores críticos da Seleção em Los Angeles. O time caiu nas pilhas do Paraguai e da Colômbia em alguns lances. Houve um princípio de confusão rapidamente controlado.

A Seleção não perdeu porque o centroavante Borré do Inter desperdiçou gol incrível em um jogo simbólico: Foi o dia em que três meias vinculados a times do Brasileirão — Richard Rios (Palmeiras), James Rodriguez (São Paulo) e John Arias (Fluminense) engoliram o setor de criação formado por três atores de clubes da badalada Premier League. Bruno Guimarães (Newcastle), João Gomes (Wolverhampton) e Lucas Paquetá (West Ham) foram saindo de fininho da partida.  Resultado: o Brasil termina a partida descaracterizado.

Há uma baixa relevante para o clássico contra o Uruguai, mas não parece difícil de resolver. Rodrygo pode assumir a função de Vinicius Junior na esquerda. Endrick assumiria o papel de centroavante e Raphinha ficaria mantido na direita. No entanto, imagino que Dorival Júnior colocará Gabriel Martinelli no lugar de Vini e manterá o sistema de jogo. Independentemente de tática, o Brasil precisa, mesmo, de um divã.

Está ruim da cabeça e doente do pé.

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Marcos Paulo Lima

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