Uma virtude de um técnico é o respeito ao adversário. Não menosprezá-lo. O Flamengo parte em vantagem de 3 x 1 rumo a Belo Horizonte para o duelo de volta da final da Copa do Brasil na Arena MRV porque Filipe Luís venceu o debate de ideias contra Gabriel Milito no primeiro tempo desse domingo, no Maracanã, ao espelhar o sistema tático do Atlético.
Gabriel Milito não abre mão do formato 3-4-3 com variáveis para 3-4-2-1 ou 3-4-1-2. O que fez Filipe Luís? Formatou o Flamengo em um falso 3-4-3. Em tese, parecia 4-2-3-1. Na prática, o lateral-esquerdo Alex Sandro alinhava com Léo Ortiz e Léo Pereira na zaga. Emulou Filipe Luís. O técnico fez isso várias vezes quando era jogador do próprio Flamengo.
Consequentemente, Wesley assumiu o papel de construtor no meio de campo ao lado de Gerson, Evertton Araújo e de Michael disfarçado de ala-esquerdo como se fosse o “Scarpa” do Flamengo. A missão dele era justamente essa: confrontar o ala-direito do Galo.
Se na frente o Atlético tinha Hulk, Paulinho e Scarpa ou Arana se revezando na formação do trio ofensivo, o Flamengo respondia com Plata, Arrascaeta e Gabriel Barbosa na frente.
As válvulas de escape dos dois lados deram o tom da partida. Scarpa teve a primeira chance em uma escapada da direita para dentro e finalizou de esquerda. Rossi evitou o gol alvinegro. Do outro lado, Gabriel Barbosa recuou e deu lançamento milimétrico para a projeção de Michael aberto na esquerda e o time rubro-negro quase abriu o placar.
Michael incomodava Scarpa e conseguia escapadas. Do outro lado, Wesley articulava o Flamengo como lateral em alguns momentos, e no papel de falso meia em outros sempre apoiado pelos passes de Gerson. Foi assim várias vezes até Wesley partir em velocidade com a bola pelo meio, serviu Michael e Gabriel Barbosa fez a ultrapassagem. A finalização cruzada foi parcialmente defendida por Everson, mas Arrascaeta acompanhava o lance e empurrou a bola para dentro da rede para abrir o placar no Maracanã.
As duas participações de Gabriel Barbosa no início da partida foram recompensadas pelo gol dele depois da compreensível discussão entre o técnico Filipe Luís e Gabigol. O técnico não gosta do atacante recuando para buscar jogo. Prefere vê-lo perto da área atacando espaço. Gosta de tê-lo mais pela direita. E assim o camisa 99 conseguiu aproveitar a sobra de uma bola aérea no meio de campo para invadir a área em diagonal e fazer 2 x 0. A etapa inicial poderia ter acabado 3 x 0 se o desatento Plata não vacilasse em outra oportunidade.
O intervalo dá oportunidade a Gabriel Milito de reorganizar o Atlético. O argentino não faz substituições, porém muda a postura do time. A marcação se encaixa, o ataque passa a se encontrar com a aproximação entre Scarpa, Hulk e Paulinho. O Galo era melhor no jogo e ameaçava diminuir até ceder um contra-ataque aos anfitriões.
Alcaraz partiu com a bola dominada e a repassou a Gabriel Barbosa. Posicionado na meia esquerda, o atacante dominou a bola e finalizou com a frieza de quem coleciona 16 gols em finais com a camisa rubro-negra. Um chute cruzado indefensável para Everson.
A melhor versão do Atlético tem Deyverson ao lado de Hulk e de Paulinho. No entanto, o centroavante disputou a Copa do Brasil pelo Cuiabá e não pode representar o Galo nesta competição. Gabriel Milito não confia em Eduardo Vargas. Muito menos em Alan Kardec. A necessidade fez o treinador apostar no improvável. Alan Kardec entrou para fazer o papel de Deyverson postiço e conseguiu balançar a rede pela primeira na temporada graças a uma falha individual de quem não é disso: autor do passe para a casquinha de Plata antes do segundo gol do Flamengo, Léo Ortiz errou gravemente na frente do atacante do Galo.
O Flamengo venceu devido ao comportamento tático no primeiro tempo. Dominou o setor de Scarpa e diminuiu as conexões dele com Hulk e Paulinho. Não suportou a vantagem de 3 x 0 porque faltaram preparo físico e qualidade. A intensidade do Flamengo tem caído muito na etapa final. Foi assim contra o Internacional no segundo tempo de quarta-feira. Acuado diante da pressão colorada, o time não conseguia se articular nem finalizar.
O Galo fez um porque Milito rendeu-se ao sistema que o levou à final da Libertadores ao colocar Alan Kardec na função desempenhada pelo titular Deyverson. Hulk, Paulinho e Scarpa ganham mais opções e o Atlético fica menos travado taticamente.
A equipe rubro-negra levará 3 x 1 para Belo Horizonte com a certeza de que contará com os retornos de Pulgar e de Bruno Henrique. O Galo precisa vencer por dois gols de diferença para forçar a decisão por pênaltis e será campeão com três de vantagem.
Nada é impossível para um time que derrotou o River Plate por 3 x 0 na partida de ida das semifinais da Libertadores e tem uma torcida viciada em um mantra conjugado na primeira pessoa durante toda a conquista da Copa do Brasil em 2014: “Eu acredito”.
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