O segundo título consecutivo dos técnicos portugueses na Libertadores reabre o debate sobre os métodos de trabalho dos profissionais brasileiros e lusitanos. Em 2019, Abel Braga comandou o Flamengo na fase de grupos, mas Jorge Jesus corrigiu os rumos de um time que sofreu até a última rodada contra o Peñarol, em Montevidéu, para confirmar presença no mata-mata. Nesta temporada, Vanderlei Luxemburgo era o comandante do Palmeiras na primeira fase. Avançou facilmente no Grupo B com 16 pontos de 18 possíveis, fez a melhor campanha geral, mas as ideias do professor e a qualidade do jogo alviverde desagradavam.
Abel Braga e Vanderlei Luxemburgo tiveram nas mãos os elencos mais caros e sortidos do país. Porém, pecaram na escolha da forma de jogar. Havia muita qualidade e pouco futebol. Abel chegou a dizer que não havia espaço entre os 11 titulares para Arrascaeta e Everton Ribeiro. Ele insistiu que era um ou outro. Irritava os torcedores e era criticado pela imprensa. Frustrava a “nação” rubro-negra com um repertório pobre diante de um investimento altíssimo.
Sim, Abel não contava, ainda, com Rafinha e Filipe Luís nas laterais. O volante Gerson e o zagueiro Pablo Marí também desembarcaram no Ninho do Urubu depois da saída de Abel. Sem eles, trabalhava com Pará e Renê nas alas, Léo Duarte na zaga com Rodrigo Caio e Cuéllar ao lado de Arão na proteção aos beques. Em vez de propor jogo, esperava contra-ataques com um repertório mais do mesmo em relação ao futebol praticado no país à época.
O português Jorge Jesus assumiu e mudou tudo. Ganhou reforços, é verdade, mas teve habilidade para colocar cada peça em seu devido lugar no time. Ensaiou cada movimentação do time e o transformou em uma engrenagem quase perfeita. Arrancou suspiros da torcida e até mesmo dos rivais apreciadores de ideias menos preguiçosas e mais elaboradas. Os conceitos do português desbancaram na final o baita River Plate, de Marcelo Gallardo.
Luxemburgo pecou na insistência de travar o Palmeiras. Torná-lo excessivamente pragmático. Teve mérito ao apostar nos jovens Gabriel Menino, Patrick de Paula, Danilo e Gabriel Veron, mas o time alviverde jogava com o freio de mão puxado. Foi incapaz de derrotar o frágil Corinthians no Paulistão. Conquistou o Estadual na decisão por pênaltis, no Allianz Parque. Acumulou 20 jogos invicto, mas a qualidade do futebol não ornava com a invencibilidade. O empate em casa com o time C de um Flamengo vítima de surto de covid-19 e as derrotas em sequência para Botafogo, São Paulo e Coritiba culminaram com a demissão de Luxemburgo.
Ouço faz algum tempo que o ex-treinador do Palmeiras tem dificuldade para lidar com a nova geração de jogadores. Até começa bem, mas, aos poucos, perde o vestiário. Críticas coletivas ou individuais um pouquinho mais fortes, sobretudo as públicas, irritariam o grupo.
A história da Liga dos Campeões da Europa tem dois técnicos portugueses campeões: Artur Jorge (1987) e José Mourinho (2004 e 2010). Agora, a Libertadores também. Depois de Jorge Jesus (2019), Abel Ferreira (2020) está na lista dos treinadores lusitanos campeões do principal torneio de clubes da América do Sul
Coube ao auxiliar Andrey Lopes pavimentar o caminho para a chegada de Abel Ferreira. O assistente fez excelente trabalho. Deixou uma ideia de jogo pronta para o português aplica-la ou não, com direito a vitória por 3 x 0 contra o Atlético-MG, no Allianz Parque. Inteligente e conciliador, Abel percebeu que o time havia engrenado. Em vez de jogar o trabalho de Andrey ao chão para colocar a própria assinatura, adaptou-se a ele.
O grande trunfo de Abel Ferreira foi conquistar a confiança do vestiário. Convencer os jogadores a comprar as ideias dele. O apreço do elenco pelo português é inegável. Ele soube ler e interpretar como funciona o elenco do Palmeiras. O auge da campanha do bicampeonato foi o triunfo por 3 x 0 sobre o River Plate, na Argentina. Na duelo de volta, o Palmeiras tomou um baile dentro do Allianz Parque, mas estava com sorte de campeão. Foi salvo pelo VAR em três lances capitais da derrota por 2 x 0 e marchou firme rumo ao título.
Há uma intersecção nos êxitos de Jorge Jesus no Flamengo e de Abel Ferreira no Palmeiras: a conquista do título com pouco tempo de serviço. O Mister, como era chamado pelos jogadores, assumiu o time rubro-negro em 17 de junho de 2019 e levou ao bi da Libertadores em 23 de novembro, ou seja, 159 dias depois de herdar a prancheta de Abel Braga. O também português Abel Ferreira tomou posse em 4 de novembro e brindou o clube com o segundo título continental — o primeiro da carreira dele — com 87 dias de trabalho.
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