Abel Ferreira não inventou moda no empate por 1 x 1 com Atlético-MG, suficiente para levar o atual campeão Palmeiras pela sexta vez à final da Libertadores. Há referência na biografia dele da utilização de uma linha de cinco defensores e ele foi buscá-la no arquivo pessoal. O que não deu certo em 22 e 30 de setembro de 2020 contra o Krasnodar da Rússia na fase eliminatória da Champions League funcionou na noite desta terça-feira na classificação heroica diante do Galo, no Mineirão.
Antes de aceitar o convite do Palmeiras, Abel Ferreira comandava o modesto PAOK da Grécia. Eliminou o Benfica de Jorge Jesus da Champions League em jogo único, por 2 x 1, usando o sistema 3-4-3, e conquistou o direito de avançar na fase eliminatória do torneio continental. Duelou com o Krasnodar em partidas de ida e volta. Perdeu ambas por 2 x 1 usando o sistema 5-4-1. Bem parecido com o 5-3-2 adotado no duelo tático da volta com Cuca no empate por 1 x 1 com o Palmeiras.
Abel Ferreira sabia que o PAOK era inferior tecnicamente a Benfica e Krasnodar, mas o técnico português tem uma virtude: é inquieto na busca por um jeito de competir. Mesmo que a forma escolhida nem sempre seja agradável aos críticos. Abel agiu exatamente assim na série contra o Atlético-MG na semifinal. Assumiu que teria dificuldades contra um elenco mais qualificado e repertório variado do que o do Palmeiras.
Assim como propôs contra o Benfica do compatriota Jorge Jesus, e o Krasnodar do russo Murad Musaev, Abel Ferreira recorreu a uma velha artimanha dos técnicos de futebol: jogou no erro do adversário. O Krasnodar até falhou, mas venceu os dois duelos por 2 x 1. O Atlético-MG poderia ter feito mesmo. Hulk perdeu pênalti no Allianz Parque. O Galo vencia na volta, em Belo Horizonte. No entanto, deu ao Palmeiras as oportunidades que Abel Ferreira queria.
Gostemos ou não, a estratégia arriscada de Abel Ferreira, sempre no fio da navalha, foi bem sucedida, mas o Atlético-MG perdeu para os próprios erros. Hulk desperdiçou pênalti na partida de ida. Aquela bola na trave ao deslocar Weverton na primeira partida obrigaria o Palmeiras a ter outra postura no Mineirão. A falha de Nathan Silva no duelo à parte com Gabriel Veron no lance crucial do segundo tempo transformou o ambiente no Mineirão e consolidou o sucesso alviverde.
Abel Ferreira lembra José Mourinho. Quando o Special One acusava inferioridade em relação ao Barcelona de Pep Guardiola, era capaz de convencer um craque como o camaronês Samuel Eto’o a fazer o papel de lateral depois expulsão de Thiago Motta a fim de segurar resultado em semifinal de Champions League, no Camp Nou.
Foi assim naquele triunfo da Internazionale na semifinal de 2010. Guardadas as devidas proporções, Dudu foi o Eto’o do Abel na partida do Allianz Parque. Marcou mais do que jogou, ficou exausto e saiu do campo indignado por ter jogado sem a bola. A bola pune, mas também consagra. Decisivo contra o São Paulo, Dudu brilhou novamente contra o Atlético-MG.
O triunfo do Palmeiras é gigante. O time paulista é o terceiro campeão no século a alcançar duas finais consecutivas. O Boca Juniors esteve nas decisões de 2003 e 2004. O River Plate nas edições de 2018 e 2019. Atual campeão, o Palmeiras irá a Montevidéu em 27 de novembro. Está na briga pelo tri para igualar os feitos de Grêmio, São Paulo e Santos. Pode ser o primeiro bi em anos consecutivos desde a sequência do Boca Juniors de Carlos Bianchi em 2000 e 2001.
Tem que respeitar.
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