Sigo em férias, mas acompanhando os movimentos no mercado da bola neste início de temporada. Um deles, a contratação de Marinho pelo Flamengo e a saída de Michael. Considero a ida do atacante para o Al-Hilal uma baita perda para o elenco rubro-negro. O robozinho não teve fundamentos nas divisões de base, mas era quem bagunçava os adversários quando entrava em campo. O futebol brasileiro está carente de atacantes “irresponsáveis”, o cara que pega a bola, parte para cima em velocidade e desequilibra. É sempre bom ter no grupo um leigo tático capaz de fazer a diferença na base da intuição no um contra um.
Michael fará falta, sim. A recuperação dele é um mérito de Rogério Ceni consolidado por Renato Gaúcho. Sucesso, também, do departamento de futebol, que olhou para o ser humano e não simplesmente a máquina de jogar bola. Michael luta contra a depressão. Que tenha suporte psicológico na Arábia Saudita. Posso estar errado, mas Michael não tem perfil de jogador tipo exportação. É para consumo interno. A distância do Brasil pode ser prejudicial a ele. Tomara que eu queime a língua.
O Flamengo perde essa característica intuitiva de Michael, mas acrescenta ao plantel mais um dos últimos três jogadores eleitos Rei da América — o prêmio mais antigo e tradicional do nosso continente oferecido pelo diário uruguaio El País. O atual número 1 nesta distinção é o argentino Julián Álvarez, do River Plate. Antes dele, Marinho (2020) e Gabriel Barbosa (2019) conquistaram o prêmio pelo desempenho na Copa Libertadores da América. Se você preferir levar em conta o anel da Conembol, o Flamengo passa a contar com os últimos três melhores do torneio: Bruno Henrique (2019), Marinho (2020) e Gabigol (2021).
Últimos 3 Reis da América (El País)
Reunir dois dos últimos três reis da América, ou os últimos três premiados pela Conmebol no elenco, é mais uma prova da robustez financeira do Flamengo no continente. Impõe mais respeito. Intimida os concorrentes.
Marinho foi um dos responsáveis por levar um Santos modesto à final da Libertadores em 2020. O atacante contribuiu com quatro gols e uma assistência. Encolheu na decisão contra o Palmeiras, é verdade, mas convenceu o colegiado de que mereceu o prêmio de Rei da América em 2020 pelo conjunto da obra na competição.
Um ano antes, Gabriel Barbosa teve papel decisivo no bicampeonato do Flamengo na Libertadores. Foi artilheiro do torneio com nove gols, dois deles anotados na épica virada contra o River Plate, por 2 x 1, no Estádio Monumental, em Lima.
Senhores dos anéis
Melhores da Libertadores nos últimos 3 anos (Conmebol)
A questão, agora, é como usar dois dos últimos três Reis da América juntos na Seleção. Um desafio nada fácil para o técnico português Paulo Sousa. Em tese, Marinho compete com Éverton Ribeiro na banda direita do ataque. Mas o treinador lusitano cogita escalar Gabriel Barbosa e Pedro na frente. É um quebra-cabeça complicado.
O Flamengo tem muita qualidade no ataque para poucas vagas. Paulo Sousa teria coragem de escalar Bruno Henrique, Marinho, Pedro e Gabriel Barbosa juntos? Arriscaria ter apenas dois homens no meio de campo, um deles, o intocável Arrascaeta. Deixaria Éverton Ribeiro no banco de reservas? Só consigo imaginar duas formas de fazer isso. Um Flamengo sem volantes ou sem laterais.
Alguém teria coragem de fazer isso? Vou arriscar duas sugestões…
A primeira no 4-4-2, sem volantes:
Diego Alves;
Isla, Rodrigo Caio, David Luiz e Filipe Luís;
Marinho, Everton Ribeiro, Arrascaeta e Bruno Henrique;
Gabriel Barbosa e Pedro.
A segunda no 3-5-2, sem laterais:
Diego Alves;
Rodrigo Caio, David Luiz e Filipe Luís;
Marinho, Everton Ribeiro, Wllian Arão, Arrascaeta e Bruno Henrique;
Gabriel Barbosa e Pedro.
Quem tem um elenco como o do Flamengo não pode fazer o óbvio. É preciso ir além. Ousar.
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