Há uma semana, publicamos entrevista exclusiva com o deputado federal Eduardo Bandeira de Mello, ex-presidente do Flamengo. Ele passou a limpo os seis anos de mandato no clube mais popular do país e falou sobre a adaptação à vida em Brasília, no Congresso Nacional. Guardei alguns trechos do bate-papo comigo, o colega Danilo Queiroz e o repórter fotográfico Ed Alves no gabinete dele na Esplanada dos Ministérios para publicar aqui no blog Drible de Corpo.
Na conversa a seguir, o político vinculado ao PSB-RJ topou falar sobre outros temas polêmicos na agenda não somente do clube carioca, mas do futebol brasileiro.
Nesta parte da entrevista, Eduardo Bandeira de Mello opina sobre o velho sonho do Flamengo de construir um estádio próprio, opina sobre a possibilidade de o clube passar do regime associativo para o modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF), defende a implementação o Fair Play Financeiro, admite o fracasso da Primeira Liga liderada pela dupla Fla-Flu, prega a união da Liga do Futebol Brasileiro (Libra) e da Liga Forte Futebol (LFF) e até sugere o nome de um técnico para assumir a Seleção Brasileira. A preferência dele é por um profissional nacional. O deputado confessa: é mais um devoto à espera da segunda vinda de Jesus ao Flamengo.
É a favor da construção de uma casa própria para o Flamengo?
O Maracanã sempre foi o estádio do Flamengo. Se o Flamengo tiver condições de ficar com o Maracanã permanentemente em um contrato de concessão longo, que dê segurança jurídica e econômica para o clube fazer as modificações que precisam ser feitas no próprio estádio. Se tiver essa segurança, partindo de um edital bem-feito, seria o melhor dos mundos para o Flamengo e para o estado do Rio de Janeiro. O Maracanã sempre foi a casa do Flamengo. Se a gente tiver como o nosso estádio, não precisaria partir para um outro projeto.
O terreno especulado para erguer a arena não é bom?
O Maracanã, de todos que eu conheço no mundo, tem a melhor localização, apresenta as melhores condições para que a torcida compareça. Tem um trem ali do lado, tem metrô, sistema viário, tudo é amigável. Então, eu sou a favor do Maracanã. Agora, se por alguma circunstância, o Governo do Estado do Rio de Janeiro disser que não, o Flamengo não vai ter o Maracanã nunca, se esse sonho for totalmente afastado, pode, sim, partir para um estádio próprio.
Há dinheiro em caixa para uma obra desse porte?
Hoje, tem condições financeiras, capacidade de endividamento, poderia comprar um terreno, construir, financiar, se associar com a iniciativa privada, em algum projeto comercial ou de entretenimento. Isso eu acho perfeitamente possível, mas o ideal seria ter o Maracanã. Fazer as adaptações para receber torcedores que hoje não têm como pagar. Se não for possível, a gente parte para outro. Seria uma pena porque o Maracanã sem o Flamengo não existe.
O assunto SAF começa a circular nos corredores do Flamengo. O que acha?
Hoje, não precisamos nos preocupar com isso. Temos clubes que partiram para esse modelo societário. A grande maioria estava em uma situação financeira caótica, delicada e teve que partir para isso para garantir sobrevivência. Não é o caso do Flamengo. O Flamengo fez o seu dever de casa como entidade sem fins lucrativos e acho que fez muito bem. No futuro, daqui a 10, 20 anos, em outras condições, mas tem que ser analisado com critério, com cuidado pelo Conselho do Flamengo, pelos sócios, pelos torcedores e nunca admitir qualquer tipo de conflito de interesse.
O que seria esse conflito de interesse?
Nós vamos vender só 20%, mas vou comprar uma parte para mim. Isso jamais. Como não pode também entrar na Liga, mas essa empresa que vai gerir eu vou participar do capital dela na pessoa física. Isso é uma vergonha. Se o Flamengo, um dia, partir para o modelo de SAF, precisa ter todos os cuidados para que o interesse do clube seja o único a ser atendido, e nunca pessoais de dirigentes, de sócios, seja de quem for.
A favor ou contra Fair Play Financeiro no futebol brasileiro?
Totalmente a favor. É uma necessidade.
Há uma queda de braço entre Libra e LFB. Por que a Liga não sai do papel?
A Primeira Liga foi uma iniciativa no sentido de estabelecer uma alternativa para campeonatos estaduais que eram totalmente inviáveis do ponto de vista econômico ou esportivo. Teve problemas também, tanto que não foi para frente. Eu sou a favor da organização dos clubes em ligas. Os campeonatos deveriam ser geridos até por uma, mas, hoje, você não tem muita segurança econômica nem jurídica para entrar, estabelecer uma liga e assumir compromisso de longo prazo.
Hoje, não precisamos nos preocupar com isso (SAF). Temos clubes que partiram para esse modelo societário. A grande maioria estava em uma situação financeira caótica, delicada e teve que partir para isso para garantir sobrevivência. Não é o caso do Flamengo. O Flamengo fez o seu dever de casa como entidade sem fins lucrativos e acho que fez muito bem
Por que há insegurança econômica e jurídica?
Primeiro, o modelo de organização de governança do futebol brasileiro é totalmente na mão da CBF. A liga só vai existir se a CBF permitir e enquanto permitir. A atual administração da CBF tem tido algumas ações assim, bastante elogiadas, mas ninguém garante que isso seja para a liga. O modelo a CBF permitiu que os clubes se organizassem, mas você não sabe se daqui a dois, três anos, ela pode mudar de ideia e dizer esquece.
O Brasil foi pioneiro em ligas ao criar a Copa União e ficou para trás.
Em 1987, os clubes foram organizar o campeonato e, na época, quando a CBF viu que era um bom negócio, fez outro e teve aquela pouca-vergonha de cruzamento que a gente (Flamengo) sofre até hoje com isso. Essas ligas que estão sendo colocadas agora são para organizar o Campeonato Brasileiro, mas não há nenhuma ingerência sobre o calendário. Como pode isso? Liga que só funciona durante oito meses. Com todos os conflitos de datas que existem, Datas Fifa. É isso que nós vamos vender? Nós não poderíamos vender uma coisa muito melhor se o calendário tivesse na mão da própria Liga e ela pudesse organizar, mesmo sem acabar com os campeonatos estaduais? Eu sou a favor, mas gostaria que pudessem ter ingerência sobre o calendário. Isso daí é um fator determinante para aumentar a atratividade do produto.
Quais são os riscos nessa situação arrastada?
Muito cuidado com venda de qualquer tipo de propriedade. É por cinquenta anos. Libra e LFF são duas entidades defendendo dois grupamentos e seus interesses. O ideal seria que tivesse uma só. No futuro, pode ser que parta para uma, mas com todas essas salvaguardas para a liga não ficar dependendo de uma canetada.
A Seleção está sem técnico. Quem sugeriria ao presidente da CBF se fosse consultado?
Os problemas do futebol brasileiro, e isso reflete na Seleção, vão muito além da definição do técnico. Se a gente conseguir mudar a governança, inclusive da forma como a gente trata as categorias de base, a captação dos nossos atletas, não ficaríamos preocupado com técnico. A gente lida com essa questão como se ele fosse aquele todo-poderoso, que tudo depende dele.
O debate é estrutural então…
Se colocar o Guardiola, que é o melhor técnico do mundo na opinião da maioria das pessoas, na Seleção brasileira, se não mudar a estrutura, não há garantia de que vai dar certo. Alguns treinadores estão despontando muito bem. Não vai chegar na Seleção Brasileira e ser a solução para todos os problemas.
Quem recomendaria ao presidente da CBF?
Eu gosto muito do Fernando Diniz, do Dorival (Júnior). Até não deveria ter saído do Flamengo naquele momento. Gosto muito do treinador do Fortaleza, o Juan Pablo Vojvoda. São três treinadores que estão hoje no futebol brasileiro e eu tenho muita admiração pelo trabalho.
O senhor é mais um torcedor fervoroso à espera da segunda vinda de Jesus?
Todo rubro-negro lembra com saudade do Flamengo do Jorge Jesus. Ele revolucionou não somente o futebol do Flamengo, como o futebol brasileiro. Todo mundo começou a tentar imitar. A passagem dele foi absolutamente fantástica e todo rubro-negro tem saudade.
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