A Liga dos Campeões da Europa mostra mais uma vez que assinar cheque com um valor surreal não é garantia de conquista imediata. Carrasco do Paris Saint-Germain nas oitavas de final do torneio ao fazer três dos cinco gols do time espanhol, Cristiano Ronaldo é uma prova de que é preciso dar tempo ao tempo, montar um time equilibrado em torno do craque da companhia. CR7 chegou ao Real como mais caro da história, mas só conseguiu levar o time ao título do Velho Continente cinco anos depois de ter lotado o Santiago Bernabéu na badalada apresentação. Neymar terá a mesma paciência no PSG?
Na temporada de 2009/2010, o presidente Florentino Pérez pagou € 94 milhões para tirar o então melhor jogador do mundo do Manchester United. O português havia levado o clube inglês ao título da Champions League em 2007/2008 e ao vice em 2008/2009. O Real Madrid amargava jejum desde 2002. Na primeira temporada, CR7, assim como Neymar neste ano, caiu nas oitavas de final. A trupe merengue foi varrida pelo Lyon.
O projeto do Real Madrid demorou mais quatro temporadas para ser vitorioso. Cristiano Ronaldo e companhia ficaram pelo caminho nas semifinais de 2011, 2012 e 2013. Até que, em 2014, o gol de Sergio Ramos no Estádio da Luz, em Lisboa, empatou a final com o Atlético de Madri, forçou a prorrogação e honrou o investimento que o clube havia feito cinco anos antes. Depois do primeiro título, Cristiano Ronaldo ganhou mais dois em sequência, em 2016 e em 2017 e acaba de levar o atual bicampeão às quartas de final desta temporada.
O xeque Nasser Al-Khelaifi apostou em um projeto de € 222 milhões. Fez aparentemente o mais difícil. Não era. Neymar precisa de um time que orbite em torno dele. O PSG tem o suficiente para consumo interno, ou seja, para o Campeonato Francês, Copa da França, Copa da Liga Francesa. Na Champions League, o nível é bem mais alto. Basta lembrar que, neste século, o torneio europeu teve apenas um campeão inédito — o Chelsea, em 2012. O magnata russo comprou o clube londrino em 2003. Antes do título, chegou a amargar o vice em 2008.
Champions League
Real Madrid na era Cristiano Ronaldo
2009/2010 – Oitavas
2010/2011 – Semifinal
2011/2012 – Semifinal
2012/2013 – Semifinal
2013/2014 – Campeão
2014/2015 – Semifinal
2015/2016 – Campeão
2016/2017 – Campeão
2017/2018 – Já está nas quartas
Daqui em diante, a incógnita é saber até que ponto Neymar está realmente comprometido com o projeto de mudar o patamar do Paris Saint-Germain. A eliminação precoce deixa a situação bem clara. Neymar pai e filho devem colocar o xeque contra a parede. Ambos vão querer dar pitaco quanto ao sucessor de Unai Emery (duvido que fique). Ouso dizer até que escolherão o nome. Também indicarão reforços. Caso contrário, Neymar, que já fez parte de uma engrenagem vitoriosa na conquista de 2015 do Barcelona, trocará novamente de clube.
O Paris Saint-Germain sabe que, hoje, já é difícil blindar Neymar de um desses projetos galácticos do Real Madrid, por exemplo, e que ficará muito mais complicado segurá-lo caso ele leve o Brasil ao hexa na Copa da Rússia. É possível até que o PSG prove do próprio veneno e apareça um Real Madrid ou um Manchester City ou United da vida para pagar a multa.
Na temporada de 2001/2002, por exemplo, o Real Madrid transformou Zidane no jogador mais caro da história do futebol muito mais devido ao sucesso na seleção da França — conquistou a Copa de 1998 e a Euro-2000 —do que na Juventus. Pagou € 77,5 milhões na época. Menos de um ano depois, o craque marcaria aquele golaço da vitória por 2 x 1 sobre o Bayer Leverkusen na final da Champions League. Aconteceu com o Real de Zidane. Não aconteceu com o PSG de Neymar. Coisas desse caprichoso esporte chamado futebol.
Por falar no Real Madrid, enquanto o recordista de títulos da Champions League se classificava no Parque dos Príncipes, um dos seus maiores ídolos, o goleiro Iker Casillas, disputava provavelmente, em Anfield Road, a sua última partida na história no torneio. O Liverpool eliminou o Porto, time do lendário goleiro espanhol — tricampeão da Champions pelo Real.
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