A sucessão de Tite na Seleção, o lobby por estrangeiros e o desrespeito aos brasileiros

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Estão abertas as disputas por dois cargos relevantes no país do futebol: a presidência da República e técnico da Seleção. Escreverei sobre eleições no momento oportuno. O assunto ameno de hoje é a sucessão de Tite. Ele deixará o cargo depois da Copa. Faz-se um baita lobby por nomes como Pep Guardiola e Jorge Jesus. Não sou contra a contratação de técnico estrangeiro. Defendi e apoio a sueca Pia Sundhage. Faz bom trabalho na Seleção feminina. Só acho absurdo, desrespeitoso até, descartar alguns profissionais nacionais. Será que realmente não temos um nome capaz de assumir a rapaziada?

Uma lembrança. O Brasileirão tem oito técnicos importados, mas os últimos dois campeões são santos de casa. Em 2020, Rogério Ceni levou o Flamengo ao bi. No ano passado, Cuca protagonizou o Triplete do Galo: Mineiro, Copa do Brasil e Série A. São fracos? Não.

Cuca tem repertório variado de bons trabalhos. O último deles, de alto nível. Livrou Goiás e Fluminense do rebaixamento de maneira épica em 2003 e 2009, respectivamente. Guiou o Atlético-MG ao inédito título da Libertadores, em 2013, domando vestiário liderado por Ronaldinho Gaúcho. Encerrou a fila de 16 anos do Palmeiras na elite em 2016. Deu fim à abstinência de 50 anos do Atlético-MG no Brasileirão. Protagonizou o milagre de levar um modesto Santos ao vice continental em 2020. Perdeu a final para o Palmeiras devido ao destempero no fim do jogo. Instabilidade psicológica, sim, joga contra Cuca.

Falta de humildade, não. Desempregado em 2019, tirou o chapéu para os Jorges Jesus e Sampaoli. Em vez de menosprezar, minimizar ou relativizar o sucesso dos gringos, aprendeu com eles. “Acho o Sampaoli mais tático. Quando você vai jogar contra o time dele no domingo, não adianta assistir ao jogo da quarta. Não dá para amarrá-lo. O Jorge Jesus é diferente: ele tem uma filosofia de jogo e conseguiu fazer os jogadores do Flamengo terem harmonia com isso. Conseguiu fazer com que os jogadores tenham ambição de buscar a bola o tempo todo no ataque”. Os times de Cuca costumam competir e entreter.

Rogério Ceni é viciado em futebol. Workaholic. Foi vaidoso ao começar por cima no São Paulo, mas humilde ao dar passo atrás e evoluir no Fortaleza. Afoito ao trocar o Leão pelo Cruzeiro. Convicto ao assumir o Flamengo, administrar vaidades em um vestiário de “seleção” e empilhar quatro troféus no clube. Em dois anos, foi campeão da Série B pelo Fortaleza e da A no Flamengo.

Importado ou nacional, o cargo demandará do sucessor resiliência. Em seis anos, Tite teve de lidar com quatro presidentes da CBF diferentes, o fogo-amigo do calendário, enfrentar só uma seleção europeia em ciclo de Copa, submeter-se a duas Copas Américas em casa por arranjos políticos… Sem contar supostas tentativas do Palácio do Planalto de puxar o tapete dele e alçar o bom Renato Gaúcho. Guardiola, Jesus e outras grifes suportariam essas insanidades? Por essas e outras, Tite merece o hexa.

*Coluna publicada no último sábado (16.5.2022) na edição impressa do Correio Braziliense.

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Marcos Paulo Lima

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