A Macedônia tem um norte: sobre o esporte no país algoz da Itália e a força das ex-repúblicas iugoslavas

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Jamais menospreze uma ex-república da Iugoslávia no futebol. A dissolução da potência do Leste Europeu faz 30 anos. A extinção causada pela guerra adicionou sete seleções à Família Fifa. Só duas ainda não disputaram a Copa do Mundo como nação independente: a Macedônia do Norte, algoz da Itália na repescagem, e a novata Kosovo. Croácia, Sérvia, Eslovênia, Bósnia e Herzegovina e Montenegro — parceira da Sérvia na edição de 2006 —, participaram da competição ao menos uma vez.

Unida, a Iugoslávia chegou às semifinais da Copa em 1930 e perdeu duas decisões da Euro, em 1960 e 1968. Separada, testemunhou o vice da Croácia no Mundial da Rússia, em 2018, e a glória da Sérvia no Mundial Sub-20 de 2015.

Uma conversa rasa sobre o sucesso da Macedônia do Norte contra a Itália reduziria a discussão a clichês como zebra, acaso, caixinha de surpresas ou não tem mais time bobo. Acuso a incompetência da Squadra Azzurra, mas é preciso, também, olhar com lupa o trabalho feito no país de dois milhões de habitantes — 67º no ranking da Fifa.

Trocadilho à parte, a Macedônia tem um norte. Disputou a Euro-2020. Evoluiu contra Holanda, Áustria e Ucrânia. Campeão da Champions League em 2010 pela Internazionale, o ídolo Pandev jogou o torneio continental.

Há um ano, a Macedônia do Norte ganhou da Alemanha fora de casa, por 2 x 1, em Duiburg, pelas Eliminatórias. Ajudou a deixar a Romênia para trás e avançar em segundo à repescagem.

A Macedônia do Norte eliminará Portugal, de Cristiano Ronaldo? Em condições normais de temperatura e pressão, não! E daí? A seleção levou os fãs às ruas do país para uma festa atípica. O país está acostumado a comemorar feitos olímpicos. Tem duas medalhas nos Jogos. Um dos heróis chama-se Magomed Ibragimov — protagonista do bronze em Sydney-2000 no wrestling (antiga luta olímpica). Dejan Georgievski ganhou prata no taekwondo em Tóquio-2020. A Macedônia é bicampeã de clubes no handebol masculino. O RK Vardar levou o título em 2017 e 2019. O basquete é uma outra referência.

O sucesso no futebol se dá em um momento contraditório. Há uma onda de escândalos na federação, porém incapaz de minar o blindado trabalho do técnico Blagoja Milevski e de jóias como o meia Elif Elmas, de 22 anos, do Napoli.

O êxito da Macedônia do Norte pode ser atribuído, ainda, ao amor à pátria. Antes da Euro, a marca alemã Jako trocou o vermelho vivo da camisa por bordô. Deu ruim! A população protestou em defesa das cores da bandeira.

E há o sobrenatural. Em 2021, o presidente do país, Stevo Pendarovski, foi até o Vaticano e presentou o papa Francisco com uma camisa customizada da Macedônia do Norte. “Pedi ao papa que apoiasse a nossa seleção e ele me prometeu que oraria por nós”, disse à época. Quando falta futebol, até a fé em reza brava move montanhas como a Itália.

*Coluna publicada na edição de sábado (26.3.2022) na edição impressa do Correio Braziliense.

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Marcos Paulo Lima

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