O futebol do Distrito Federal não terá representantes na Série C do Campeonato Brasileiro pelo oitavo ano consecutivo. Último clube da cidade a figurar na terceira divisão em 2013, o Brasiliense era a última esperança de acesso da capital em 2020, mas está eliminado da Série D pelo Mirassol por 5 x 2 no placar agregado. A vitória por 2 x 1 no jogo de volta deste domingo, no Serejão, com gols de Zé Love, foi inútil na soma dos resultados. Antes, o Gama havia sido despachado pelo Goianésia na segunda fase. Resta aos times do quadrado a disputa da Copa Verde, de 20 de janeiro a 24 de fevereiro.
Enquanto os times do DF fecham temporariamente para balanço mirando o início do Candangão 2021 e a Copa Verde, o blog aponta os erros do Brasiliense na campanha da Série D. O atual vice-campeão candango teve a melhor campanha da primeira fase da quarta divisão entre os 64 times candidatos ao título, mas dá adeus ao torneio no segundo mata-mata. Antes, havia eliminado com facilidade o Real Noroeste. Estão no blog também os 10 motivos para o fracasso do Gama na Série D, publicados depois da queda contra o Goianésia.
1. Complexo de vira-latas
É a quinta eliminação do Brasiliense em competições nacionais contra adversários paulistas em 20 anos de história. Como mostrou o blog no post anterior deste domingo, perdeu a final da Copa do Brasil para o Corinthians em 2002, foi superado pelo Santos no mata-mata nacional de 2006, caiu contra o Guarani na edição 2012, deu adeus diante do Oeste em 2018 e nesta Série D do Campeonato Brasileiro fracassa na queda de braço com o Mirassol nas oitavas.
2. Quatro técnicos em um ano
Sabe aquela cantiga da brincadeira Escravos de Jó: “tira-bota-deixa-ficar”? Resume bem o entra e sai de técnicos no Brasiliense. A temporada começou com o Mauro Fernandes. Ele perdeu o emprego para Márcio Fernandes, demitido depois da derrota para o arquirrival Gama no Candangão. Chegou Edson Souza. Apesar de ele ter feito a melhor campanha entre 64 clubes, saiu para a entrada de Vilson Taddei. A bola rolou oito meses neste ano: a média de um técnico a cada dois meses. Uma amostra de que isso não daria certo: dos 11 titulares no jogo de volta da final do Candangão contra o Gama, em 29 de agosto, no Bezerrão, só quatro estavam em campo na vitória deste domingo sobre o Mirassol: Badhuga, Algo, Zé Love e Romarinho. É muita mudança!
3. Bipolaridade
A diretoria do Brasiliense não deu continuidade ao trabalho de Márcio Fernandes depois da derrota nos pênaltis para o arquirrival Gama na final do Candangão. Escolheu demitir o treinador. Ele caiu com apenas duas derrotas em 12 jogos. Em contrapartida, demitiu Edson Souza quando o profissional ostentava a melhor campanha entre os 64 times da Série D. Perdeu só dois jogos em 18 à frente do time: um para Tocantinópolis e outro para o Gama. E agora: Vilson Taddei fica? Qual é o critério?
4. O pecado da inveja
O olho grande do Brasiliense em cima do elenco do arquirrival Gama, bicampeão do Distrito Federal, foi um pecado capital. Aos poucos, o time de maior poder econômico da capital tirou peças-chave do concorrente ao longo do ano: Peu, Balotelli, Luquinhas e Jefferson Maranhão. A cereja do bolo foi o técnico Vilson Taddei, que ostentava apenas quatro derrotas em 50 jogos à frente do Gama e chegou às pressas ao Brasiliense para o duelo com o Real Noroeste. No fim das contas, não subiram Gama nem Brasíliense.
5. Equívocos
Algumas contratações são absurdas. O meia Douglas, de 38 anos, estava próximo da aposentadoria quando desembarcou no Brasiliense. Fez horas extras no DF e encerrou a carreira. O paraguaio Luis Ibarra, o Neymar paraguaio,30 nem sequer estreou. Carlos Eduardo, ex-Grêmio e Flamengo, é outra aquisição questionável. Não funcionou no Juventude, que briga pelo acesso na Série B. Por que funcionaria no Brasiliense? Fernando Henrique causou desconforto em Edmar Sucuri.
6. Ilusão
Alertei algumas vezes aqui no blog para a fragilidade do Grupo A-6 da Série D e as cascas de banana no caminho dos candangos. O Brasiliense acreditou que a melhor campanha entre os 64 clubes numa chave contra Gama, Atlético-BA, Tupynambás, Bahia de Feira, Caldense, Villa Nova e Palmas era senha para conquistar uma das quatro vagas à Série C. Sabe quantos times daquela chave estão classificados para as quartas de final da quarta divisão? Nenhum! O Brasiliense era o último dos “moicanos”.
7. Efeito Zé Love
Suspenso na partida de ida contra o Mirassol, o centroavante artilheiro do Brasiliense na Série D do Campeonato Brasileiro fez uma falta danada ao time na derrota por 4 x 0 para o time paulista no jogo de ida disputado no interior paulista. Sem ele, o time candango teve um ataque inexperiente e inofensivo na casa do adversário. Para se ter uma ideia da relevância do Zé Love para a linha de frente, ele contabiliza 21 gols em 28 jogos nesta temporada. Dois deles no confronto com o Mirassol.
8. Média de idade
Um time obrigado a fazer no mínimo quatro gols para forçar a disputa por pênaltis não pode entrar em campo com 30 anos! Essa era a média de idade dos 11 titulares do Brasiliense para correr atrás do jovem time do Mirassol, que começou a partida com placar de 4 x 0 favorável construído em casa. Sete jogadores do Brasiliense tinham 30 anos ou mais. Fora do conceito moderno de futebol. A média dos 11 do Mirassol era de 24,8. Heitor, o único acima dos 31. Bato na tecla da média de idade desde o ano passado.
9. Abandono da base
A formação de jogador é a alma de um clube. É nela que o garoto aprende a amar a camisa que veste e entende os conceitos do time que defende. Infelizmente, o Brasiliense abandonou o trabalho de formação. Resultado: falta amor à camisa do time. Jogadores vêm e vão sem o mínimo apego à camisa amarela. Na contramão, rivais como Real Brasília e Gama enfrentam as dificuldades de investir na base, dão as caras na Copa São Paulo de Futebol Júnior e colhem os frutos da academia.
10. Apequenamento
O Brasiliense nasceu gigante. Em cinco anos foi da segunda divisão do Candangão à Série A do Campeonato Brasileiro. Foi vice-campeão da Copa do Brasil (2002), campeão da Série C (2002) e da B (2004), voltou às semifinais da Copa do Brasil em 2007, mas depois disso perdeu o respeito. No ano que vem, completará oito temporadas consecutivas na quarta divisão. Um desperdício tratando-se do clube com mais potencial financeiro no futebol do Distrito Federal.
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