Um olho nos votos, outro em Janot

Publicado em coluna Brasília-DF

 

Os estrategistas do governo e aqueles nem tão governo assim consideram que o presidente Michel Temer está trabalhando com uma “zona de segurança e conforto” ainda irreal em relação ao desfecho da crise política. O aumento de imposto, por exemplo, foi visto como um sinal de que Temer age como se a fatura estivesse liquidada, e não está. Enquanto o procurador-geral, Rodrigo Janot, estiver na busca de novas informações para fortalecer uma segunda denúncia contra o presidente, todo o cuidado é pouco.

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A percepção dos parlamentares é de que Temer não tem tantos problemas em relação ao Congresso porque as pessoas não foram às ruas pedir a saída dele, como fizeram no ano passado, quando do impeachment da presidente Dilma. Aumento de imposto, entretanto, pode levar a população de volta às ruas contra o governo. E, nesse caso, a ampla maioria governista na Câmara tende a encolher.

O que ele diz
Todas as vezes em que se refere a delações do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e do doleiro Lúcio Funaro, o presidente Michel Temer responde “risco zero” de o envolverem em algo escuso. Pode sim, surgir uma reunião aqui, outra acolá. Porém, nada de dinheiro para lá e para cá.
O que muitos apostam
Eduardo Cunha não deve ter muito para falar porque, no papel de líder do PMDB e, depois, de presidente da Câmara, não era operador. Para completar, a mulher e a filha estão praticamente livres. Funaro é diferente. Ele mexia com dinheiro e é considerado franco-atirador. É dele que Janot quer tirar suas flechas.
Onde pega I
A ideia de usar as Forças Armadas em operações de surpresa no Rio de Janeiro está diretamente relacionada à reclamação das tropas. Uma das principais é a falta de segurança jurídica para os militares que, por exemplo, ferirem algum civil.
Onde pega II
No Haiti, onde os soldados integram força de paz, há o guarda-chuva da ONU, que protege as Forças de qualquer processo. No Brasil, não há proteção jurídica aos militares em ações de garantia da lei e da ordem. Nos tempos de ocupação da favela do Alemão, um traficante morreu numa troca de tiros, e soldados do Exército responderam criminalmente.

Próximos capítulos/ O presidente Michel Temer considera encerrado o episódio DEM e vai se dedicar, na próxima semana, a cuidar dos outros partidos com problemas, em especial o PSDB, das declarações ácidas, como a de Cássio Cunha Lima. Há 15 dias, Cunha Lima afirmou que, em 15 dias, o país teria um novo presidente. Amigos de Temer brincavam: “Estava certo, afinal, o presidente viajou à Argentina”.

A galera pede/ Pesquisas internas do DEM indicam que 65% dos soteropolitanos apoiam a renúncia de ACM Neto (foto) ao mandato de prefeito de Salvador. Calma, pessoal! É apoio para concorrer ao governo da Bahia em 2018.

Vamos ver/ A todos que perguntam se ACM Neto será mesmo candidato ao governo estadual, ele responde que ainda tem tempo para decidir, leia-se, clarear o cenário. “Não darei um salto numa piscina sem água”, disse o prefeito a um amigo.

Fim das quadrilhas/ No Ministério Público há quem diga que as quadrilhas de São João ficaram para trás, assim como a denúncia que o procurador- geral, Rodrigo Janot, planejava fazer contra Michel Temer. Isso porque, só com Funaro, sem Eduardo Cunha, Rodrigo Rocha Loures e outros, não há como acusar Temer por formação de quadrilha.