Lula contrata crise com o parlamento ao rechaçar semipresidencialismo

Publicado em coluna Brasília-DF

Ao rechaçar a discussão do semipresidencialismo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) marca desde já um embate com os congressistas no ano que vem, caso seja eleito. O mundo mudou, a Câmara dos Deputados mudou. Hoje, graças às emendas impositivas — ou seja, de liberação obrigatória pelo governo —, tem muito mais independência do que 19 anos atrás, quando Lula foi eleito presidente pela primeira vez. Nos bastidores do Congresso, há quem diga que se Lula quer apoio, não vale começar apontando o que os parlamentares devem fazer ou debater.

Quem entende do andar da carruagem afirma que, antes de conversar sobre os temas em debate no Parlamento, há uma eleição no meio e que, passado o período eleitoral, será preciso um pacto sobre o Orçamento, condição preliminar para definir a agenda política do futuro. Ou seja, não dá para brigar com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), desde já.

Se o governo não retomar o controle de, pelo menos, parte dos investimentos, o Poder Executivo não terá capacidade de impor a sua pauta. Especialmente se vencer com um país dividido.

Caso à parte

Menos de 24 horas depois do encontro do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), com o Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, para tentar estabelecer a paz entre os Poderes e servir de ponte entre o Executivo e o Judiciário, a multa de R$ 405 mil que o ministro Alexandre de Moraes impôs a Daniel Silveira reaviva a exaltação dos ânimos. No Planalto, a reação à multa foi de palavrões e xingamentos. Moraes, porém, quer que o caso Daniel Silveira sirva de exemplo para mostrar que decisões judiciais precisam ser cumpridas.

Falem bem, falem mal…
… Mas falem de mim. Lula tem conseguido dominar a pauta da pré-campanha. Só tem um probleminha: em alguns casos, esse controle corre o risco de tirar mais votos do que agregar. O PT quer que ele concentre as falas em dois temas: economia (inflação) e ameaças à democracia. Fora isso, até aqui só deu confusão.

E a terceira via, hein?
Aos poucos, as candidaturas vão perdendo força. As apostas, hoje, indicam que restarão João Doria, pelo PSDB, e Ciro Gomes, pelo PDT. Simone Tebet está com dificuldades de segurar o MDB.

Enquanto isso, no PSD…
Gilberto Kassab não terá dificuldades em levar o partido a apoiar Lula, ainda que seja no segundo turno. A leitura de muitos por ali é de que alguns estados que querem o partido livre de coligação para presidente da República, se não houver uma candidatura própria, não descartam fechar com o petista — como deve acontecer no Rio e em São Paulo.

Paz relativa/ Ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que já acompanharam reuniões entre Alexandre de Moraes e o PT, com a presença do ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão, juram que os embates entre os dois ficaram no passado. O tempo dirá.

O corpo fala/ O semblante de Geraldo Alckmin, quando Lula defendeu os sindicatos ao receber o apoio do Solidariedade, foi lido por alguns dos presentes como de suma contrariedade. A impressão é a de que nem tudo são flores na aliança. Por enquanto, só impressão.

Encontro de gigantes I/ Os ministros aposentados do STF Marco Aurélio Mello e Nelson Jobim confirmaram presença como palestrantes no IV Encontro Nacional de Lideranças Empresariais, em 2 de agosto, no estádio Mané Garrincha.

Encontro de gigantes II/ O evento ocorre na largada da campanha eleitoral e reunirá 600 representantes dos principais setores da economia brasileira — indústria, bancos, fundos de pensão, inovação, ciência e tecnologia. Momento propício para discutir o Brasil.

Aliados pedem a Lula guinada ao centro para conter crescimento de Bolsonaro

Publicado em coluna Brasília-DF

Os mais moderados apoiadores de Lula na seara política dizem que ou ele faz logo uma guinada ao centro, ou correrá o risco de ser ultrapassado por Jair Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto. Em São Paulo, levantamentos já detectaram esse movimento. Portanto, melhor moderar logo o discurso do que ficar
esperando o auge da campanha.

Até aqui, Lula praticamente fechou os partidos de esquerda, mas não está agregando votos ao centro. Se continuar assim, a tendência, segundo alguns, é surgir espaço para algum nome da terceira via, ou Bolsonaro tomar mais espaço de centro. As duas situações preocupam os apoiadores do petista.

E a tensão não vai passar

A tomar pelas manifestações nos atos pró-governo, a tensão com o Supremo Tribunal Federal não vai terminar tão cedo. Será de altos e baixos ao longo de toda a campanha.

Não será fácil para ninguém
Não é só Bolsonaro que tem problemas com o ministro Alexandre de Moraes. O PT terá entre seus advogados nesta eleição o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão, mas o deixará nos bastidores. É que Aragão e Moraes, futuro presidente do TSE, tiveram um embate em 2017 que até hoje não foi resolvido. Aragão acusou Moraes, seu então sucessor no Ministério da Justiça, de ligações com o PCC, e Moraes respondeu que iria processar Aragão para que o antecessor aprendesse a “calar a boca”.

Turma da paz
Os petistas planejam colocar como seus representantes junto ao TSE a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, e o secretário-geral, Paulo Teixeira, uma dupla para lá
de paciente.

Faça a conta
Ainda não há lastro orçamentário para o aceno a mais vagas para contratação de policiais que o presidente Bolsonaro fez em telefonema ao ministro da Justiça, Anderson Torres, enquanto conversava com apoiadores no cercadinho do Alvorada. Porém, no Planalto, a turma diz que algo terá que ser feito. Falta combinar com o caixa do governo, que já está para lá de apertado.

Quem prorroga quer briga/ O PTB viu na prorrogação dos inquéritos envolvendo o deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) no Supremo Tribunal Federal um sinal de que o ministro Alexandre de Moraes não deixará barato a concessão da graça ao parlamentar. A avaliação dos petebistas é a de que quem quer paz tem que fazer gestos.

Pauta religiosa I/ A sessão de hoje da Câmara dos Deputados vem sob encomenda para atrair a bancada evangélica. Estão em pauta o Dia Nacional do Cristão, a garantia ao livre exercício da crença e dos cultos religiosos, e, ainda, um terceiro que veda qualquer alteração, edição ou adaptação de textos e versículos
da Bíblia.

Pauta religiosa II/ O projeto que proíbe até adaptação dos tetos bíblicos promete provocar confusão. Afinal, há uma vasta literatura adaptada de passagens bíblicas.

Vamos votar!/ As candidatas do concurso Miss Bumbum 2022 também entraram na campanha para que os jovens tirem o título de eleitor. Todas elas posaram para fotos com o documento em mãos.