Parlamentares do centro pisam no freio na votação da PEC

Publicado em coluna Brasília-DF

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) bem que tentou colocar o carro na frente dos bois, ou seja, aprovar a PEC da Transição antes de anunciar a equipe de governo. Porém, os parlamentares dos partidos de centro começam a pisar no freio e só vão pensar em votar a PEC da Transição depois de conhecidos os nomes do futuro governo. Até aqui, a transição capaz de encher um ginásio de esportes obteve apoio formal, mas não orgânico, ou seja, que “entregue” votos ao futuro governo para aprovação de seus interesses.

Apesar das grandes comissões temáticas da transição, quem trabalha mesmo são cinco ou seis, conforme avisou o ex-presidente Michel Temer em entrevista ao Correio publicada no último domingo. Portanto, ou Lula anuncia logo seus ministros, ou ficará sem tempo para aprovar a proposta de emenda constitucional. Não por acaso, cresce o número de adeptos a trocar a PEC por uma medida provisória. A decisão final ficará para a semana que vem. Ou seja, nesse vai-não-vai, o futuro governo corre o risco de fechar novembro sem uma definição.

Problemas diluídos
A inclusão de tanta gente na equipe de transição tem um objetivo claro: evitar que se exponha desde já as divergências entre o grupo do vice-presidente Geraldo Alckmin e o PT. Nos primeiros dias de convivência no CCBB, houve divergências e, agora, com tantos parlamentares e técnicos, fica mais difícil identificar quem é quem.

O recado de Valdemar…

O pedido do presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, para investigação das urnas no segundo turno, mostra que ele não abandonará o presidente Jair Bolsonaro. Ficará na oposição.

…na terra de Murici
Isso significa que Lula precisará atuar “no varejo”, se quiser parte dos votos do PL. Apoio automático, avisam integrantes do partido, nem pensar. Ali, será cada um por si.

PSB quer, mas…
Parlamentares que pegaram uma “franjinha” das emendas do relator-geral, o chamado orçamento secreto, pedem o fim dessas propostas. Só tem um probleminha: Não são maioria hoje na Casa.

Mudança de hábito/ A maioria dos integrantes da equipe de transição do futuro governo que compareceu à reunião no Ministério da Saúde usava máscaras de proteção. No atual governo, ninguém. A contar pela publicação do deputado Alexandre Padilha (PT-SP), que já foi ministro da área, atentando para esse detalhe, a tendência é tornar o uso obrigatório na área da saúde, se o número de casos de covid continuar a subir.

Vai ser assim/ Se o presidente Jair Bolsonaro decidir não entregar a faixa presidencial a Lula, o vice-presidente Hamilton Mourão deve assumir
essa missão.

A volta?/ O presidente Jair Bolsonaro planeja retomar as lives das quintas-feiras. Muitos aliados acreditam que será esta noite.

Copa & Política/ Final de ano sempre é o momento que os projetos impopulares aterrissam na pauta do plenário da Câmara e do Senado. E, agora, com a Copa do Mundo no palco principal, todo o cuidado é pouco. A hora é de torcer pelo Brasil, com um olho no gato, outro no peixe.

PEC da Transição é teste de risco

Publicado em coluna Brasília-DF

A ideia de apresentar uma Proposta de Emenda Constitucional que garanta os recursos para o Auxílio Brasil de R$ 600 e outras despesas “inadiáveis” ainda não conta com o apoio de todos os partidos. Primeiro, vai virar o maior teste para a formação da base do futuro governo, antes mesmo de sua posse. Segundo, promete virar uma árvore de Natal com uma série de interesses parlamentares embutidos.

Já tem gente interessada em colocar no texto a correção da tabela do Imposto de Renda, dos recursos destinados ao SUS para compor o novo piso da enfermagem e outros projetos dos congressistas, inclusive uma parte do Orçamento de 2023.

Nesse cenário, se o novo governo fechar mesmo a apresentação de uma PEC, será a hora de saber quem de fato apoiará o governo Lula, quem jogará sempre na oposição. E isso, com o Congresso “antigo”, ou seja, que ainda tem em sua composição parlamentares que não conseguiram se reeleger. Dentro da futura base, já tem muita gente dizendo que começar com PEC, nesta reta final de ano, arrisca ampliar e muito os gastos num momento de orçamento apertado. O tempo é curto e o risco é enorme.

Sempre cabe mais um
Se a PEC da Transição emplacar, já tem governador se movimentando para incluir no texto a compensação para a queda de arrecadação decorrente da redução do ICMS de combustíveis e energia. E outros pedidos virão.

Veja bem
Não está descartada, em vez de uma PEC, que colocaria o futuro governo em teste antes da posse, negociar com o Tribunal de Contas da União (TCU) uma espécie de “licença para gastar”. Se for juridicamente viável, é por aí que se buscará a saída para o pagamento dos R$ 600.

Por falar em TCU…

Com a PEC da Transição em fase de discussão na equipe do presidente Lula, o presidente da Câmara, Arthur Lira, encontrou a justificativa perfeita para deixar a eleição do futuro ministro do Tribunal de Contas da União para o ano que vem. A vaga que pertence à Câmara está em disputa nos bastidores desde julho e, pelo visto, permanecerá assim por mais alguns meses.

Ordem dos fatores
A avaliação de aliados de Lira é a de que, se ele colocar esse tema em análise agora, certamente deixará alguém insatisfeito pelo caminho. O melhor, então, é esperar a eleição do presidente da Câmara no ano que vem, para, depois, escolher o ministro ou a ministra que substituirá Ana Arraes.

Quatro na roda/ Até aqui, são candidatos Jhonatan de Jesus (Republicanos-RR), o mais votado no estado; Soraya Santos (PL-RJ); Hugo Leal (PSD-RJ); e Fábio Ramalho (MDB-MG), que, mesmo com 77.604 votos, não se reelegeu.

O show de Alckmin/ O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, foi considerado um “gol de placa” na coordenação da transição. Sua passagem por Brasília, acompanhado da direção do PT, foi vista como um sinal de consolidação da frente ampla.

Por falar em frente ampla…/ Lula tem repetido a aliados que é preciso ampliar a base para o centro. A fala dele tem sido na linha de “a esquerda, nós já temos. Precisamos é do centro e de uma parcela da centro-direita”.

Eles tocam de ouvido/ Lula e Alckmin estão em linha direta. Falam-se várias vezes o dia. Na época do primeiro governo Lula, em 2002, com Alckmin governador de São Paulo e Lula, presidente eleito, eles se encontraram num evento em Minas e Lula comentou, quando os dois falavam sobre agricultura. “O nome que eu quero para ministro é aquele que você está pensando”. E, Alckmin, sem mencionar Roberto Rodrigues, que foi seu ministro, disse, “então aproveita que ele está aí”.