Soltura de André do Rap revolta a Polícia Federal: “Retrocesso”

Polícia federal
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Coluna Brasilia-DF

Não tem categoria mais revoltada, hoje, com a soltura do traficante André do Rap do que a Polícia Federal, que passou cinco anos para prender o bandido e se vê obrigada a conviver com a saída dele pela porta da frente do presídio. O presidente da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal, Edvandir Paiva, aciona uma metralhadora giratória.

“Vivemos um retrocesso no combate à criminalidade no país”, disse ele, em entrevista que foi ao ar, ontem à noite, na Rede Vida de televisão. Ele se referiu, em especial, ao pacote anticrime, que saiu do Parlamento de uma forma muito diferente do que foi concebido e terminou sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro.

“O presidente foi avisado de que deveria vetar alguns pontos, mas decidiu, politicamente, não vetar”, afirmou, ao explicar que o então ministro da Justiça, Sergio Moro, não tinha conhecimento da política para fazer valer o seu projeto.

Paiva foi além. Disse que “todos os presidentes, sim, tentam interferir na Polícia Federal” e trata do pacote anticrime como algo que terminou votado de afogadilho e que, ironicamente, foi sancionado em 24 de dezembro. “Em 2018, a população queria o combate ao crime. Hoje, está vendo um retrocesso”, lamentou.

Os recados para Fux

A resposta do Supremo Tribunal Federal (STF) ao caso de André do Rap não muda a situação do criminoso foragido, mas coloca, na visão de juristas, balizas ao comportamento de Luiz Fux, enquanto presidente do Supremo: respeito à colegialidade, zelo pela Corte, ou seja, não tem essa de uma decisão monocrática expor o colegiado e ficar por isso mesmo.

Por falar em decisão monocrática…

O voto mais esperado desta quinta-feira é o do ministro Marco Aurélio Mello, o novo decano da Corte.

Votação “café com leite”

Por mais que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, acene com a perspectiva de votação da reforma tributária ainda este ano, as excelências não acreditam. É que a comissão de deputados e senadores, da qual sairá um projeto para votação nas duas Casas, não tem validade regimental, ou seja, se votar ali, não contará nem na Câmara nem no Senado.

Ficou feio/ A busca e apreensão na casa do vice-líder do governo no Senado, Chico Rodrigues (DEM-RR), e a notícia publicada na revista Crusoé, de que ele tentou esconder dinheiro entre as nádegas, circulou no WhatsApp de grupos de senadores. As excelências achavam que a história de dinheiro na cueca era coisa do passado.

Enquanto isso, no Planalto…/ Muitos ficaram boquiabertos com a história. Chico Rodrigues é considerado um dos mais experientes da base governista.

Depois, a gente conversa I/ O PT paulistano fez cara de paisagem à proposta de Lindbergh Farias de o partido abrir mão da candidatura e apoiar Boulos (PSol). Considera que o assunto foi levantado como uma mensagem para o público carioca.

Depois, a gente conversa II/ Porém, a fala pública do ex-senador deixou muita gente irada e disposta a tirar satisfações quando terminar o processo eleitoral. Afinal, partido que falta voto é igual à casa que falta pão, todo mundo briga e ninguém tem razão.

Caso André do Rap faz Moro reaparecer e desfilar como mocinho

Boneco inflável do juiz Sergio Moro na Esplanada
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Em conversas reservadas, os políticos são unânimes em afirmar que a concessão de liberdade ao traficante André do Rap abriu um portal para que o ex-ministro da Justiça Sergio Moro desfile, cobrando medidas de combate à impunidade.

De quebra, Moro, em todas as entrevistas que concedeu, foi incisivo ao dizer que o presidente Jair Bolsonaro deveria aproveitar a popularidade para levar a base aliada a aprovar a prisão em segunda instância.

Nas rodas da política, a avaliação é de que o ex-ministro volta à cena em grande estilo, ao lado do anseio da sociedade e do fim das chicanas que geram impunidade. Tudo isso justamente no momento em que Bolsonaro estreita laços com o Centrão, em que estão alguns que querem ver Moro bem longe.

Porém, a cada problema na área da Justiça e da Segurança Pública, como a soltura de André do Rap, o ministro reaparece no papel de mocinho. E já tem muita gente no grupo bolsonarista de olho: embora, hoje, o presidente esteja com uma avaliação positiva para concorrer à reeleição, há quem diga que não dá para deixar os adversários desfilando, totalmente livres de marcação.

Modulação em boa hora

Com o caso André do Rap aterrissando hoje no plenário, a previsão é de embate entre o ministro Marco Aurélio Mello, que soltou o traficante, e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, que reformou a decisão do novo decano do STF. Porém, vai-se chegar a uma solução para que não se repitam casos como o do bandido líder do Primeiro Comando da Capital (PCC).

Corra, MP, corra

A soltura do traficante André do Rap fez com que representantes do Ministério Público corressem contra o prejuízo. O dia foi de buscar todas as prisões provisórias que precisam ser renovadas. Os dados oficiais do Sisdepen apontam 221.566 detentos provisórios, ou seja, serviço não falta.

Decano, com aposto

Em conversas reservadas, os próprios colegas do ministro Marco Aurélio Mello diziam que ele terá de conviver, por um bom tempo, com o aposto: “Aquele que soltou um dos líderes do PCC André do Rap”. Porém, o polêmico ministro vai carregar, também, a responsabilidade de sua ação ter aberto o debate sobre a prisão provisória no Brasil e, de quebra, o da segunda instância.

Ministro na defesa/ O ministro das Comunicações, Fábio Faria, não deixa escapar uma oportunidade de pontuar as posições do presidente Jair Bolsonaro. Em suas redes sociais, faz questão de citar a Organização Mundial de Saúde (OMS) e “fique em casa”: “Com o confinamento, teremos uma duplicação da pobreza e desnutrição infantil no próximo ano”, escreve, para completar em letras garrafais: OMS reconhece que Bolsonaro estava certo”.

Ex-ministro no ataque/ A postagem de Fábio Faria vem logo depois da entrevista do ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta ao programa Roda Viva, em que as divergências entre Bolsonaro e o ex-deputado do DEM, mais uma vez, foram expostas.

Ministro no tribunal/ A história recente tem apenas um ministro afastado do cargo: Cristiane Brasil, ainda no governo do presidente Michel Temer, que, nomeada, foi impedida de assumir o Ministério do Trabalho. Daí, toda a atenção para o julgamento sobre o afastamento de Ricardo Salles do Ministério do Meio Ambiente, pela Justiça Federal do DF, marcada para 27 deste mês.

Administração pública em debate/ O Instituto Brasiliense de Direito Público abre, hoje, às 19h, o 10º Seminário de Administração Pública on-line, com a mesa-redonda Pacto Federativo no pós-pandemia. Na live, gente que hoje tem peso para definir o futuro.

Administração pública em debate II/ A abertura está a cargo do ministro da Economia, Paulo Guedes; do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ); e dos governadores do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e do Maranhão, Flávio Dino. A moderação é do ministro Gilmar Mendes, do Supremo
Tribunal Federal.