Novas regras complicam as eleições para deputado federal

Publicado em coluna Brasília-DF

As regras eleitorais ficaram mais duras e, ao colocar tudo na ponta do lápis, os comandantes partidários descobriram o tamanho do problema que terão pela frente. No Distrito Federal, por exemplo, são oito vagas na Câmara dos Deputados. Para eleger um deputado, são necessários algo em torno de 180 mil votos. Até 2018, os partidos lançavam 16 candidatos, ou seja, o dobro do número de vagas. Se tivesse coligação, poderia lançar mais oito, chegando a 24 candidatos.

Agora, não há mais coligações, e cada partido só poderá lançar o número de vagas mais um, num total de nove candidatos. Para completar, um deputado para obter a vaga com base na soma dos votos dos candidatos de seu partido precisa ter, sozinho, 20% do coeficiente eleitoral — no DF, algo em torno de 36 mil votos. Por esse critério, por exemplo, Celina Leão, que obteve 31 mil, estaria fora, e a vaga do oitavo deputado ficaria em aberto, uma vez que o Podemos, do suplente Professor Pacco, que obteve 39 mil votos, não tinha atingido o coeficiente, e o cálculo da sobra beneficiou o PP de Celina.

Se agora essa “sobra” já está dando muita discussão, imagine quando as urnas forem abertas, em outubro.

Sem trégua

O pedido de convocação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, ao Parlamento para que dê explicações sobre a vacinação de crianças contra covid-19, ainda no recesso, é o primeiro de uma série. O próximo deve ser o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, para esclarecer por que o governo não medirá o desmatamento do cerrado.

Mais um tiro no pé
A avaliação dos parlamentares é de que, ao deixar de medir o desmatamento no cerrado por falta de recursos para esse serviço, o governo desgastará mais ainda sua imagem no cenário internacional.

PL sonha grande
O presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, acredita que seu partido é um dos que mais tem condições de fazer uma bancada expressiva em 2022. Isso porque aquela turma do PSL que puxou a votação para deputado federal irá em massa para sua legenda, seguindo o caminho adotado pelo presidente Jair Bolsonaro.

Noves fora…
Se em 2018 os bolsonaristas saíram do zero e formaram a maior bancada, disputando com o PT, agora que saem de um partido organizado podem perfeitamente repetir a dose, apesar do desgaste do governo entre uma eleição e outra.

Jogo jogado
Os planos de Valdemar de fazer uma grande bancada servem tanto para o caso de Bolsonaro se reeleger quanto em caso de vitória de Lula. Para quem faz política há pelos menos quatro décadas, Valdemar não acredita em terceira via.

Dois contra Moro/ No aeroporto de João Pessoa, o pré-candidato do Podemos à Presidência da República, Sergio Moro, ouviu insultos como “traíra” e “golpista”. Vamos organizar: quem chama Moro de “traíra” são os bolsonaristas; de “golpista, os petistas.

Vai apanhar geral/ O ex-juiz da Lava-Jato vai ouvir xingamentos e receberá ataques dos dois polos que dominam a eleição presidencial deste ano. A estratégia dele é atacar os dois e, assim, reforçar sua posição na parcela do eleitorado que não quer nem Bolsonaro nem Lula.

Tudo para depois/ Com o carnaval de rua cancelado em, pelo menos, 11 capitais, a recuperação da economia também terá que esperar mais um pouco, especialmente o setor de turismo.

Caiu na rede/ A saga do tenista Novak Djokovic para tentar entrar na Austrália sem o comprovante de vacinação exigido pelo país virou meme na internet brasileira com o cartaz do filme O Terminal, em que o personagem vivido por Tom Hanks fica retido num aeroporto. Na rede e na atualidade, o “artista” é “Novax Djocovid”.

Bolsonaro aperta Queiroga

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O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que tem defendido o uso de máscaras por onde passa, balança no cargo, tal e qual seus outros colegas médicos, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, balançaram no ano passado. Aliás, há até entre aliados do governo quem veja o fato de Bolsonaro pregar a dispensa do uso de máscaras por quem já teve covid ou tomou vacina e, de quebra, levantar dúvidas sobre o número de mortos pela doença, como movimentos casados para tentar tirar a pandemia de cena e acelerar a retomada da economia. Diante dessa determinação presidencial, ou “o tal de Queiroga” faz o que Bolsonaro manda, ou pede o boné.

Queiroga está realmente com um problema: a ciência ainda não decretou o fim da pandemia. Para que isso ocorra, é preciso reduzir o contágio e aliviar o sistema de saúde, que continua sob pressão. Esta semana, por exemplo, 20 estados apresentaram situação preocupante de ocupação de leitos, 11 deles e o DF acima de 90%. Mato Grosso do Sul se viu obrigado a enviar pacientes para outros estados. Enquanto o país estiver com esse cenário, vai ser difícil acabar com a crise sanitária do jeito que deseja Bolsonaro.

No embalo de Wilson, resta a via Wagner

Depois que o governador do Amazonas, Wilson Lima, não foi depor na CPI da Pandemia, o depoimento do ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário, é considerada a tábua de salvação do senador Eduardo Girão para fazer valer a investigação sobre o uso de recursos enviados aos estados voltados ao combate e à prevenção da covid.

Assessoramento não é ilegal

Os senadores aliados ao Planalto vão bater na tecla de que o presidente da República tem direito a ouvir quem quiser para adotar as políticas de governo. Nesse sentido, já está separado para colocar num possível relatório alternativo na CPI o grupo que assessorou o presidente Fernando Henrique Cardoso na época do apagão.

Um tijolo a mais

O ingresso do governador do Maranhão, Flávio Dino, e do deputado Marcelo Freixo (PSol-RJ) no PSB dará mais peso no partido àqueles que defendem a candidatura de Lula. Assim, será menos uma agremiação para tentar compor uma alternativa à polarização entre o petismo e o bolsonarismo.

Este é o jogo da hora

Hoje, o petismo trabalha para tentar evitar qualquer outro candidato forte no seu campo, da mesma forma que o bolsonarismo age para tentar atrair as estrelas dos partidos mais conservadores.

Pode arrumar as gavetas/ Tem gente aconselhando Arthur Lira a esperar a volta das sessões presenciais na Casa para colocar em pauta a cassação do mandato da deputada Flordelis. Assim, ela ganha uma sobrevida, mas não escapa.

E o Daniel, hein?/ Há, no Congresso, quem aposte num relatório alternativo à suspensão de seis meses pedida pelo relator do caso Daniel Silveira. É que ele ainda tem outros processos para responder no colegiado, portanto, a ideia é ir subindo gradualmente a pena.

Agora vai/ Depois que o G-7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) jogou suas fichas na criação de um imposto global para as grandes multinacionais, o deputado Danilo Forte quer aproveitar a onda para dar mais visibilidade à sua proposta de taxação das gigantes de tecnologia das redes sociais e dos aplicativos.

E eles também/ Danilo Forte tem citado ainda esses aplicativos sobre jogos de futebol, que cresceram e apareceram nos últimos anos.

Discurso de Bolsonaro visa colocar seus apoiadores nas ruas contra a CPI

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A “pólvora” de Bolsonaro

A fala de Bolsonaro na solenidade da Semana das Comunicações, em que insinuou “guerra química” detonada pela China, embora não tenha citado o país diretamente, e ameaçou um decreto para derrubar as medidas restritivas tomadas para tentar evitar a proliferação do vírus, foi vista como uma forma de tentar intimidar a CPI da Covid. Porém, aliados do presidente garantem que a mensagem é uma resposta aos manifestantes que foram às ruas em defesa do governo e que pediam a abertura total das atividades no país. Mas, há dúvidas se o discurso ajuda a tirar um pouco o foco da comissão parlamentar de inquérito, onde o governo perdeu de lavada até o momento.

A ideia de Bolsonaro, de se manter fiel ao seu público mais radical e àqueles que pedem a abertura geral de todas as atividades, sem restrições, é no sentido de poder contar com o apoio de uma parcela da população, se o resultado da CPI for um parecer totalmente desfavorável e que o acuse de omissão na pandemia. Na comissão, a estratégia do governo ali ainda não conseguiu quebrar o G-7, grupo de oposição e independentes, e, pelo andar da carruagem, não conseguirá.

Cavalo de pau na diplomacia

Com o apoio do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, à quebra de patentes de vacinas contra a covid-19, diplomatas brasileiros radicados no exterior apostam que a posição do Brasil será seguir por esse mesmo caminho. Até aqui, o Itamaraty tinha se manifestado contra a medida.

“Fios desencapados”
Assim, aliados de Jair Bolsonaro se referem ao ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten e ao ex-ministro de Relações Exteriores Ernesto Araújo. Nenhum dos dois leva desaforo para casa ou engole sapo calado. Há quem diga que eles, agora, precisarão de treinamento regado a suco de maracujá e chá de camomila, antes da audiência, na próxima terça-feira.

Queiroga apresentará a correção de rumos
Em seu depoimento, hoje (6/5), aos senadores da CPI da Covid, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, terá a missão de abastecer a base governista com tudo o que o ministério ajustou desde que ele assumiu o cargo. A estratégia é passar a ideia de que qualquer deslize ficou para trás.

Vacinas & protocolos
Falará do protocolo em curso para o tratamento dos pacientes, sem hidroxicloroquina, da compra de vacinas e da perspectiva de ter os brasileiros imunizados até o final do ano. É uma estratégia do tipo “vamos pensar no futuro e deixar o passado para lá”.

Não fez nem “cosquinha”
A reação dos secretários de Fazenda estaduais e municipais contra a extinção da comissão mista que analisou a reforma tributária não fará o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), mudar de posição. Ele está convencido de que é preciso começar a analisar a proposta fatiada na Casa para garantir votação este ano.

Lula na área/ É hoje a conversa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com José Sarney, o oráculo da política brasileira a que todos recorrem, inclusive Bolsonaro. Para completar, o petista pretende, ainda, um tête-à-tête com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), aquele que o DEM preserva a quatro chaves para ver se consegue transformá-lo em candidato a presidente da República, em 2022.

Olho nele/ Pacheco é considerado equilibrado, preparado, agregador. De quebra, pode sair bem de Minas Gerais, onde nada impede que arrume uma boa coligação para apoiá-lo. O nome do senador, aliás, começa a aparecer discretamente em pesquisas.

Ele vai insistir/ O governador de São Paulo, João Doria, já fez chegar à executiva do PSDB que defenderá a manutenção das prévias do partido para presidente da República, em 17 de outubro. “Quem quer adiar prévias não quer prévias”, afirmou.

Alvo & querido/ Os bolsonaristas colocaram o senador Ciro Nogueira (Progressistas-PI) no radar dos ataques nas redes sociais e, por WhatsApp, distribuem vídeos do senador ao lado de Lula. Já o líder do DEM, senador Marcos Rogério (DEM-RO), é visto como o melhor da tropa de choque do governo.

E o Teich, hein?/ Cada grupo saiu com uma narrativa do depoimento do ex-ministro Nelson Teich. Os oposicionistas consideram que ele deixou claras as dificuldades de Bolsonaro em seguir as recomendações do Ministério da Saúde. Já os governistas consideram que ouviram dele o principal: Bolsonaro nunca disse diretamente ao ministro que ele tinha que incluir a hidroxicloroquina no protocolo do Ministério. E segue o baile.