O Judiciário na guerra eleitoral
Os últimos dias de campanha eleitoral apontam para o ativismo do Poder Judiciário, sem precedentes. No Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Ricardo Lewandowski enfrentou o vice-presidente da Corte, Luiz Fux, e reforçou a liberação de entrevista de Lula à Folha de S.Paulo. Mal Lewandowski anunciou sua decisão, o juiz Sérgio Moro, do Paraná, levantou o sigilo de parte da delação do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci na qual o leque de acusações ao PT é farto.
Nesse clima, o presidente do STF, Dias Toffoli, vê escoar por entre os dedos o plano de pacificar a Suprema Corte. Ontem, em São Paulo, ele e Lewandowski tiveram uma conversa nada amigável, quando o presidente relatou seu plano de levar o caso da entrevista a plenário. Como chefe supremo do Poder Judiciário, Toffoli se preparava para ocupar o lugar de pacificador após as eleições. Antes, porém, ele terá de acalmar os ânimos no próprio STF. Começou, na noite de ontem, reafirmando sua autoridade e cassando, de próprio punho, a liminar de Lewandowski. Nos bastidores, há quem diga que não poderia ter outra atitude, diante das cobranças do colega. O Judiciário, que planejava atuar para pacificar o país no pós-eleitoral, agora entrou na guerra das paixões eleitorais, tão dividido quando os partidos e os eleitores. Ou Toffoli acalma os ânimos por ali ou perderá o papel de pacificador.
Bolsonaro e Doria
Em 2016, Fernando Haddad subiu alguns pontos na eleição para prefeito de São Paulo, e a consequência foi a maioria anti-PT levar João Doria, do PSDB, à vitória no primeiro turno. A subida do candidato do PSL, Jair Bolsonaro, de quatro pontos na pesquisa do Ibope, deixa claro que não é impossível ao capitão reformado repetir a performance de Doria.
Bolsonaro e Haddad
Os cálculos do grupo mais próximo da campanha do capitão reformado são de que Haddad tem hoje o teto do PT. E daí, dificilmente sairá, ainda que a eleição seja em dois turnos. Os aliados dele já contam, sim, com a vitória.
Alckmin e Doria I
A esperança do PSDB é de que o medo da vitória de Bolsonaro, ou de Haddad, leve uma parcela do eleitorado a dar ou ao petista ou ao capitão o mesmo destino de Celso Russomano em 2016. Ele despencou 10 pontos percentuais na última semana da campanha para prefeito de São Paulo, levando o tucano João Doria, que estava bem atrás, à vitória no primeiro turno.
Alckmin e Doria II
O ânimo dos tucanos reside na pesquisa BTG pactual, divulgada ontem, que apontou números diferentes dos do Ibope. No levantamento do BTG, Alckmin tem um crescimento de três pontos, chegando a 11%, na frente de Ciro Gomes (9%). Bolsonaro aparece com 31%, e Haddad, 24%.
CURTIDAS
No embalo de Palocci/ Embora sua equipe conte com a vitória no primeiro turno, Bolsonaro se prepara para a segunda rodada, e contra Fernando Haddad. Da mesma forma que seus opositores exploram as declarações de Hamilton Mourão com crítica ao 13º salário e ao adicional de férias, a turma do PSL de Bolsonaro vai passar a tratar da delação de Antonio Palocci, com denúncias contra o PT. De quebra, falará ainda do controle da mídia e da “democracia direta”, sem passar pelo Congresso, como prioridades do programa petista.
Nas ruas/ No Rio de Janeiro, um atento observador fez questão de contar o tempo que levaria para passar a carreata pró-Bolsonaro na frente de sua casa, no último domingo. Foram mais de 40 minutos.
Movimentos tardios I/ De olho nas pesquisas que hoje apontam a divisão do país entre as candidaturas de Bolsonaro e Haddad, os governadores do Espírito Santo, Paulo Hartung (foto), e de Santa Catarina, Eduardo Pinho Moreira, ambos do MDB, gravaram mensagens de apoio a Geraldo Alckmin. Ambos
não são do grupo do presidente
Michel Temer.
Movimentos tardios II/ Hartung menciona o risco de a polarização aprofundar a divisão dos brasileiros depois das eleições. O apoio, entretanto, talvez tenha vindo tarde. No domingo, Vitória viu uma das expressivas manifestações em prol de Jair Bolsonaro.