As saídas de Eduardo Pazuello da Saúde e o pedido de demissão de Ernesto Araújo do cargo de ministro das Relações Exteriores têm o objetivo de tentar preservar o mandato de Jair Bolsonaro. O aumento do número de mortes por covid-19 e o colapso em hospitais, com falta de medicamentos básicos, atropelaram o discurso do governo, de que a pandemia estava passando, da resistência ao uso de máscaras e em relação à vacina, que lá atrás o presidente disse que não tomaria. Essa demora em atentar para a gravidade da situação fez com que os índices de popularidade do presidente despencassem, inclusive nas redes sociais, o principal medidor dentro do governo. Pressionado pela política, a ordem agora é mudar ou mudar. Caso contrário, “remédios amargos”, alguns “fatais”, como lembrou Arthur Lira, virão.
Na Saúde, a chegada de um médico, o cardiologista Marcelo Queiroga, transformou parte do discurso governista. Embora Queiroga tenha dito que a “política era de continuidade”, surgiu a “pátria de máscaras”, a visita aos hospitais, não para colocar um dúvida o número de mortes e sim para avaliar o que seria necessário para salvar vidas. De quebra, ainda o respeito às medidas de distanciamento social, como alternativa para situações de colapso.
Agora, é chegada a hora de resolver também a política externa. Desde a eleição de Joe Biden nos Estados Unidos, a pressão para a troca de Ernesto Araújo é forte. Ele, até na visão dos diplomatas, perdeu as condições de permanecer no cargo, porque é muito alinhado ao discurso do deputado Eduardo Bolsonaro contra os chineses. Além disso, apostou demais na eleição de Donald Trump e perdeu. Resta saber se o novo ministro de Relações Exteriores ajudará na mudança da política. Até aqui, não há indicação de isso vá acontecer. Se um novo ministro chegar sem mudança na política externa, a situação do presidente não vai se alterar. E os “remédios amargos” e, talvez, “fatais” vão continuar assombrando o Planalto.