O presidente Michel Temer escolheu Raquel Dodge para o cargo de procuradora-geral da República em menos de 24 horas depois de conhecida a lista tríplice. Assim, dá uma clara demonstração de que joga rápido para dividir o poder na Procuradoria Geral da República e “apagar” o brilho do atual procurador-geral, Rodrigo Janot. Agora, muitos procuradores vão começar a gravitar em torno de Raquel, transformando Janot num “pato manco”, expressão que os americanos usam para se referir a presidentes que estão no final de seus mandatos, sem chances de reeleição. Temer foi bem ao estilo do velho ditado português “rei morto, rei posto”, no caso, “rei morto, rainha posta”.
Somado ao discurso de ontem no Planalto, o movimento de hoje mostra que os aliados de Temer não estavam brincando ao dizer que, até setembro, quando haverá a troca de comando na Procuradoria, a política seria marcada por um duelo entre Temer e Janot, conforme anunciou a coluna Brasília-DF no último domingo. No discurso de ontem, Temer fez uma comparação. Disse que atribuir a ele a condição de destinatário dos R$ 500 mil da mala entregue a Rocha Loures seria o mesmo que dizer que Janot seria receptor dos milhões recebidos pelo procurador Marcelo Miller, aquele que deixou a força-tarefa da Lava Jato para se juntar ao grupo de advogados que negociava o acordo de leniência da JBS. “Jamais faria uma ilação dessas”, disse Temer, depois de fazer a comparação. Essa briga ainda terá novos capítulos. Especialmente, agora, com dois pólos de poder nos bastidores da Procuradoria. Um no ocaso, outro em curva ascendente.