Primeiro capítulo do depoimento de Pazuello deixa claro descaso inicial do governo com vacinas

Publicado em CPI da Covid

Até aqui, o ex-ministro Eduardo Pazuello cumpriu o script de defender o presidente Jair Bolsonaro, “que nunca me ordem para nada” e contou com o senador Flávio Bolsonaro para jogar a bola para fora de campo todas as vezes em que foi apertado pelo relator, ou se mostrava meio impaciente com a insistência sobre determinadas perguntas.

Para os senadores, porém, alguns pontos estão claros, em especial, os referentes às vacinas. Na avaliação de muitos, ficou líquido e certo que o vai-e-vem do acordo com o Instituto Butantan, no ano passado, foi uma questão política. O que levou a esse entendimento foi o fato de Pazuello dizer que o presidente Jair Bolsonaro, “quando ele recebe uma posição política de São Paulo, ele se posiciona como agente político também”, referindo-se ao governador João Dória.

Apesar de Pazuello ter dito com todas as letras que “a posição de agente político ali não interferiu em nada o que fazíamos com o Butantan”, os senadores se baseiam no fato de ter havido um recuo no acordo no ano passado, aquele anunciado inicialmente para o fornecimento de 46 milhões de doses para o Programa Nacional de Imunização. E o próprio presidente disse, com todas as letras, que mandou não comprar a vacina da China.

A história de que a Controladoria Geral da União (CGU) e a Advocacia Geral da União (AGU) recomendaram ao governo não comprar a vacina da Pfizer, por causa das cláusulas contratuais, quando Pazuello citou ainda o Tribunal de Contas da União, que negou, levou Renan Calheiros a pedir uma agência de checagem. A ideia é buscar em tempo real a checagem de dados para a CPI poder confrontar o depoente na hora. Se não for possível essa contratação, assessores e consultores do Sido serão convocados para essa tarefa.

Além das vacinas, a falta de oxigênio em Manaus e o descaso em não providenciar um avião para buscar o produto da Venezuela (isso só foi feito pra levar de outras regiões do Brasil) também são pontos que vão merecer uma nova rodada de perguntas ao ministro, por causa das versões diferentes que o ex-ministro apresentou agora e outra.Agora, ele diz que soube da crise em 10 de janeiro à noite e o próprio ministro já disse em oportunidades anteriores que tinha sido informado, por exemplo, em 8 de janeiro e, quando vidas estão em jogo, dois dias fazem diferença.

Todos esses temas serão esmiuçados amanh, bem como as compras do Ministério da Saúde e as contratações da pasta. E certamente não será a última vez do ministro ali. Espera-se, inclusive, mais à frente uma acareação entre ele e o governador do Amazonas, Wilson Lima, certamente virá. Essa temporada da CPI ainda promete muita tensão nos próximos dias e meses.