Se algum parlamentar mais ao centro tinha dúvidas sobre a independência do Banco Central ou necessidade de confrontar o BC no quesito juros, as declarações do presidente da instituição, Roberto Campos Neto, hoje de manhã, em evento do BTG Pactual e a entrevista ao Roda Viva da TV Cultura jogaram todos para fora do campo. Nas duas oportunidades, ele se mostrou aberto ao diálogo, Hoje cedo, ainda pediu ao mercado que tenha paciência com o governo que só tem 45 dias e tem boa vontade. Campos Neto ainda se colocou à disposição para conversar com o presidente Lula e quem mais chegar. “Quero ter outra reunião com o presidente Lula, com os ministros. É importante explicar o trabalho do Banco Central e estar próximo (do governo)”, afirmou na entrevista ao Roda Viva. Sem sair do script daquilo que se espera de alguém que ocupe um cargo de tamanha relevância, Roberto Campos Neto não escapou de nenhuma pergunta, nem sequer de sua participação no WhatsApp dos ex-ministros de Jair Bolsonaro. “Você desenvolve relações ao longo de quatro anos. Precisa diferenciar”, disse, tentando separar as estações. Quanto às reclamações de que o BC estaria agindo politicamente, ele lembrou que no ano eleitoral elevou os juros, o que contraria essa versão de ação política por parte da autoridade monetária do país.
Entre os congressistas , sua fala foi considerada um divisor de águas e reforçou o apoio dos partidos mais conservadores a Campos Neto. Quanto ao PT, o presidente do Banco Central ainda terá que procurar afinar a viola. A contar pelo discurso da presidente do partido, Gleisi Hoffmann, no aniversário do PT, na noite de ontem, o partido não está convencido da ação técnica do BC. Gleisi foi incisiva ao reclamar dos juros altos e disse que “não há risco fiscal”. Ela lembrou que o país tem reservas cambiais elevadas e acusou o Banco Central de “corroborar com a mentira”. Para completar, chamou o mercado de “atrasado”, diante do mundo. E, com todas as letras, e entonações, disse que “não há acomodação possível com crianças passando fome”. Ou seja, a depender do PT, o discurso de diálogo do presidente do Banco Central, meio “Robertinho paz e amor”, que lembra o do “Lulinha paz e amor” dos tempos de polarização com os tucanos, ainda não fez efeito.