Por Carlos Alexandre de Souza –
Poder pátrio e direito à vacina
No mesmo dia em que uma nota técnica do Ministério da Saúde afirma que a vacinação de crianças contra a covid-19 é segura, o presidente Jair Bolsonaro insiste em alimentar a confusão que se estabeleceu em mais este episódio da pandemia. O chefe do Executivo afirmou que não autorizaria a imunização da filha, Laura, de 11 anos. Disse haver dúvidas em relação aos imunizantes. E ainda mandou recado ao Supremo Tribunal Federal, antecipando uma nova crise institucional.
Ao trazer a discussão para o lado pessoal, o presidente confunde a população. Faz uso do poder pátrio, um direito essencialmente do indivíduo, para tratar de uma questão coletiva, que é a saúde dos brasileiros neste momento da pandemia. Tornar pública uma decisão que diz respeito à família Bolsonaro evidencia a estratégia do presidente de misturar vida privada com vida pública, com propósitos políticos.
Como chefe de governo, Bolsonaro deveria dar respaldo às diretrizes definidas pelo Ministério da Saúde em relação à imunização. A própria pasta ocupada por Marcelo Queiroga começa a se render aos fatos. Manifestou, ao STF, que a vacinação de crianças é recomendável e segura. Mas o chefe do Planalto acredita que, citando o exemplo pessoal, vai convencer a opinião pública do contrário.
Provocação
Em entrevista para redes de TV em Santa Catarina, Bolsonaro comentou sobre a mensagem que enviará aos brasileiros no fim do ano, nos mesmos moldes da gravação feita para o Natal. “Já convoco pessoal da esquerda a fazer superpanelaço para comemorar três anos sem corrupção”, ironizou.
Batendo panela
O presidente e a primeira-dama, Michelle, foram alvo de panelaços em algumas regiões do país durante o pronunciamento de Natal. A mensagem de ano-novo deve ser exibida em rede nacional de rádio e televisão no próximo dia 31.
Ajuda à Bahia
Dois ministros do governo federal — João Roma (Cidadania) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) — auxiliam o estado da Bahia a enfrentar as chuvas que já mataram 20 pessoas. Nos próximos dias, o governo pretende liberar R$ 20 milhões em socorro aos municípios baianos.
Corte no orçamento
Na ponta do lápis, a ajuda federal a desabrigados vem caindo. O governo reduziu em 43% a verba destinada à Defesa Civil entre 2020 e 2021. O órgão é responsável por combater enchentes e viu suas verbas empenhadas caírem de R$ 1,63 bilhão no ano passado para R$ 918,6 milhões neste ano
Junte-se
O vice-procurador-geral da República Humberto Jacques de Medeiros enviou ao Supremo Tribunal Federal manifestação em favor de um pedido do ex-juiz Sergio Moro para juntar o link de uma entrevista concedida pelo presidente Jair Bolsonaro aos autos do inquérito que investiga suposta tentativa de interferência política do chefe do Executivo na Polícia Federal.
Sem chantagem
Na entrevista, concedida ao jornal Gazeta do Povo, Bolsonaro afirmou que, em reuniões ministeriais, dizia que ‘não queria ser blindado, mas não podia admitir ser chantageado’.
Cargos na PF
No parecer, Humberto Jacques pondera que a entrevista auxilia o Ministério Público Federal a formular juízo sobre o caso, considerando que a investigação mira suposta ‘busca de favorecimento pessoal pelo presidente a partir da indicação de cargos de direção na Polícia Federal’.