Coluna Brasília-DF/Por Leonardo Cavalcanti
Que a relação do Planalto com o Congresso melhorou com a chegada do general Luiz Eduardo Ramos à Secretaria de Governo, quem acompanha o dia a dia na Esplanada já sabia. Esta coluna mostrou, na semana passada, que o aumento da governabilidade verificado pela consultoria Prospectiva, que mede a fidelidade dos parlamentares ao Palácio, aumentou nos últimos dois meses. O que está fora do radar de parte dos políticos e técnicos é um método próprio para acompanhar as demandas de congressistas, governadores e prefeitos que batem à porta do governo em busca de recursos para as bases eleitorais.
Há três meses no cargo, Ramos elaborou com a equipe uma espécie de planejamento estratégico para acompanhar todos os passos das demandas dos políticos em Brasília. A primeira tarefa foi fazer com que as áreas de secretaria, como assessoria parlamentar, assuntos federativos e articulação social, atuem de modo integrado. A partir de planilhas, a equipe do general tenta fechar o cerco sobre a dificuldade na liberação do dinheiro para o político e, antes da verba liberada, avançar sobre as necessidades dos moradores (eleitores) da localidade.
Por fim, o governo federal divide com o parlamentar o bônus pela entrega dos recursos. Ao longo do processo de liberação, é feito um levamento nas redes sociais dos políticos para avaliar a fidelidade do aliado com o Planalto. A estratégia é não apenas ter o acompanhamento sobre as votações, mas sobre o próprio discurso dos políticos nas bases eleitorais. Assim, eventuais traições, tanto nos plenários do Congresso quanto nas ruas, são registradas. Um detalhe: a eleição de 2020 está logo ali.
Osmose // Se não bastasse o vazamento das conversas entre os integrantes da força-tarefa da Lava-Jato, a revelação do ex-procurador-geral Rodrigo Janot de que mataria Gilmar Mendes enfraqueceu ainda mais a imagem do Ministério Público. Há um detalhe ainda não avaliado pelo pessoal do governo: até que ponto o desgaste é ruim para o novo procurador-geral Augusto Aras? Tem gente boa que acredita que ele, por ter isolado a lista tríplice da categoria, se fortaleceu.
Escolha do PGR // Se Bolsonaro um dia se arrepender de ter escolhido Augusto Aras para chefiar o Ministério Público, não vai poder reclamar nem com o papa. A decisão do presidente partiu da cabeça do próprio presidente, contrariando inclusive os fundamentalistas de direita das redes sociais, que eram contrários a Aras.
Monitoramento // Levantamento da consultoria Levels nas redes mostra que a escolha de Aras não agradou nem à oposição nem aos apoiadores de Bolsonaro. No flanco governista, as mensagens contra o procurador representaram 68% da rede. Na oposição, o suposto conservadorismo de Aras sobre homossexualidade e família foi a maior crítica. A coleta de dados ocorreu na última quarta-feira, dia da aprovação de Aras.
Cautela I // Os principais interlocutores do Planalto estão aliviados com a disposição de Bolsonaro em diminuir a exposição logo no início do dia, quando escorava na grade e desandava a falar. As declarações ocorriam quase sempre depois de receber mensagens no WhatsApp de gente no Planalto ligada ao vereador fluminense Carlos Bolsonaro, que pesca todo tipo de insanidade nas redes e repassa para o presidente, sugestionando as declarações agressivas.
Cautela II // Um período de tranquilidade total ocorreu durante o período que Bolsonaro passou hospitalizado por causa da cirurgia para correção de hérnia. Por recomendação médica, conseguiram tirar o celular das mãos de Bolsonaro por alguns dias. A fofoquinha de banco de praça não deveria interessar ao prefeito da quadra, não deveria interessar ao presidente. A piada era que o Ministério da Saúde adverte: ler mensagens de ódio logo cedo atrapalham o governo.