Coluna Brasília-DF/Por Leonardo Cavalcanti (Interino)
Na ausência de Jair Bolsonaro — em viagem aos Estados Unidos —, o presidente em exercício Hamilton Mourão tem tentado se mostrar um vice fiel, que defende o chefe, ataca governos anteriores e evita avançar o sinal nas atribuições do cargo. Foi dessa forma que o general discursou, ontem, no almoço empresarial do Lide Brasília. Durante um discurso de 13 minutos, ele traçou os desafios brasileiros na economia (reformas tributária e previdenciária), na segurança, na área social e na ambiental. A palestra foi elogiada pelo público.
Segundo Mourão, o Brasil elegeu Bolsonaro para resgatar o orgulho, para levar a nação de volta aos trilhos. Um detalhe não passou despercebido, entretanto, por parte da plateia mais atenta: no momento de citar e elogiar o time escolhido, o vice se referiu apenas aos ministros da Economia, Paulo Guedes, e da Justiça, Sérgio Moro — chegando mesmo a mencionar integrantes da equipe das pastas, como Marcos Cintra, secretário da Receita. Falou também das ações do Ministério da Infraestrutura, chefiado por Tarcísio Gomes de Freitas.
Sem nome
Na parte das perguntas, Mourão foi questionado sobre desafios para a educação, mas não fez qualquer referência ao ministro Ricardo Vélez que, como se sabe, foi indicado ao cargo pelo escritor Olavo de Carvalho. A pasta é alvo de controvérsias justamente por causa dos chamados olavetes e pelas cortinas de fumaça, como a orientação para que escolas lessem o slogan da campanha de Bolsonaro, além de gravarem alunos cantando o hino.
Olavo
Vale lembrar que, um dia antes da chegada de Bolsonaro aos EUA, Olavo acusou Mourão de ter uma “mentalidade golpista”. “Eles estão governando e usando o Bolsonaro como camisinha. Isso é o que eles querem. O Mourão disse: ‘Voltamos ao poder por via democrática’. Como, se quem está no poder é o Bolsonaro e não vocês? Agora, ele (Mourão) acha que estão no poder, então, isso o que é? É golpe. Se não é golpe, é uma mentalidade golpista.”
Educação
Durante o discurso de ontem, Mourão foi cauteloso até mesmo quando alguém da plateia se referiu a ele como presidente. “Interino”, interrompeu o vice. Questionado por uma deputada se não poderia ser um dos interlocutores do governo com o Congresso no caso da tramitação da reforma da Previdência, ele deixou claro que só faria tal coisa com um pedido de Bolsonaro. “Sempre me balizei pela disciplina. Se o presidente me der a tarefa, estou à disposição.”
Nas redes I // A viagem de Bolsonaro estimulou debates polarizados no Twitter, principalmente na decisão pelo fim do visto de entrada dos Estados Unidos no Brasil sem qualquer reciprocidade. Estudo da Levels Inteligência em Relações Governamentais mostra que, ainda na quarta-feira, a controvérsia gerou 205 mil tuítes.
Nas redes II // O lado da defesa do governo Bolsonaro teve predominância, ocupando 46% do universo pesquisado com elogios ao decreto. A narrativa, nesse caso, é uma suposta criação de empregos e renda para os brasileiros com os turistas norte-americanos, australianos, canadenses e japoneses, também beneficiados pela decisão.
Nas redes III // As mensagens com tom mais crítico a Bolsonaro somaram 35% na rede, segundo a Levels. “(Os tuítes) repercutem principalmente a imagem de submissão do Brasil aos EUA, representada pela decisão unilateral dos vistos para turistas, e pela declaração do deputado Eduardo Bolsonaro (foto), do PSL-SP, sobre os imigrantes brasileiros ilegais”, mostra o relatório. O parlamentar disse que imigrantes ilegais são uma vergonha.
Saúde e fake news // Termina amanhã o seminário nacional da saúde pública com a imprensa Fake news e saúde, promovida pela Fiocruz Brasília. No painel de hoje, o debate será feito a partir de experiências reais no mundo das notícias falsas. Entre os palestrantes, jornalistas e pesquisadores da instituição. O Correio participará do evento com a série de reportagens especiais intitulada Memórias de mercenários.