A ambição do santo de casa
Candidato a deputado federal, o presidente do PRTB, Levy Fidelix, tem dito que será presidente da Câmara, em caso de vitória de Jair Bolsonaro. Para quem não se lembra, Levy comanda o partido do candidato a vice, o general Hamilton Mourão, aquele que, conforme antecipou a coluna Brasília-DF ontem, criticou o 13º salário e o adicional de férias.
Antes de se apresentar para comandar a Câmara, Levy tem ainda que passar pelo crivo do eleitor paulista e dar muitas explicações ao Tribunal Superior Eleitoral. As irregularidades no uso dos recursos do fundo partidário são recorrentes na agremiação. As análises de 2009 a 2012, por exemplo, detectaram mais de R$ 1 milhão aplicados irregularmente, segundo informações disponíveis no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Tanto é que o TSE pediu devolução ao erário de parte dos valores recebidos pelo partido.
Diante de tanta confusão, já tem gente no grupo aliado a Bolsonaro disposta a dar uma chega pra lá geral no partido do vice. Não dá para Mourão dizer que quer moralizar o Brasil, e até criticar as leis trabalhistas, se o seu próprio partido tem as contas sob suspeita de irregularidades no TSE.
O tiro no pé do general
Ainda que o general Mourão tenha tentado reduzir o estrago da sua declaração sobre o 13º salário, a campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) dedicará os próximos dias a explorar a crítica. Ontem, por exemplo, o tucano mostrou em seu programa de tevê a página deste blog, que publicou a notícia em primeira mão. Se você ainda não viu o vídeo, está lá. Não menciona “planejamento gerencial”, nem tampouco foi descontextualizada.
O estrago está feito
Alckmin sabe bem o que uma declaração mal colocada pode causar. Em 2006, quando disputou contra Lula, ele passou todo o segundo turno jurando que não privatizaria o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e a Petrobras. A defensiva lhe tirou votos naquele ano. Agora, embora Bolsonaro tenha desautorizado o general, e o próprio Mourão tenha recuado, a suspeita está lançada.
Onde pega
Mourão é preparado, demonstra conhecimento de economia em suas exposições e já disse que a reforma constitucional pode ser feita por uma comissão de notáveis, sem passar pelo Congresso. Esses detalhes somados serão fartamente explorados nas redes sociais para dizer que o capitão Bolsonaro pode estar apenas servindo de ponte para um mandato do general.
CURTIDAS
Temer isolado/ Agora, no 3º andar do Planalto, onde está o gabinete presidencial, até os funcionários têm acesso controlado às salas usadas pelo presidente da República. São quatro estações de portas de vidro espalhadas no corredor. Ou seja, está no fim aquela história do sujeito que vai visitar um assessor do outro lado e termina na sala de Michel Temer ou da chefia de gabinete sem ser convidado. Para passar ali agora, só com autorização formal.
Histórias de Roriz I/ O ex-governador do DF Joaquim Roriz não perdia a chance de dar conselhos a aliados interessados em saber como ele conquistava a simpatia da população local. Certa vez, chamado a uma reunião da campanha de José Serra, em 2002, ele não titubeou: “Tem que fazer que nem eu: dar cesta básica, leite, lote”. Serra arregalou os olhos. Enquanto candidato, não tinha como fazer isso.
Histórias de Roriz II/ Cristovam Buarque, depois de perder a eleição para Roriz, quis saber de alguns eleitores mais humildes o porquê do voto no oponente. A resposta deu aos aliados do petista — que ouviram a história — a razão do sucesso: “O Cristovam fez o saneamento, mas se não fosse o Roriz, eu não estava aqui, no meu lote”.