Guerra de carimbos

Publicado em coluna Brasília-DF

Numa campanha curta e diante de uma profusão de candidatos, as alas da Câmara ligadas ao governo se viram como podem para detonar o adversário. Da mesma forma que alguns tentam carimbar Rogério Rosso como o candidato de Eduardo Cunha para ver se enfraquecem a candidatura dele, o centrão agora se refere a Rodrigo Maia (DEM-RJ) como o candidato de Lula “a fim de atrapalhar o impeachment”. Como a eleição é em dois turnos, o objetivo dos centristas é, na segunda rodada, transformar a eleição em um plebiscito contra ou a favor do impeachment e repetir o placar de 367 a 137. Falta combinar com o adversário. Maia foi um dos propulsores do impeachment e, se for por esse caminho, base contra base, e num jogo de carimbos à margem da política, quem vai perder é o governo.

O “x”da profusão

O surgimento de tantos candidatos a presidente da Câmara tem um motivo translúcido: a falta de instrumentos para o toma lá dá cá em que a política nacional se viciou ao longo dos anos. Não há uma presidência de comissão ou demais cargos da Mesa Diretora para contemplar quem retirar candidaturas. Para completar, quem sentar naquela cadeira assumirá a presidência da República em setembro, quando Michel Temer irá à China.

De ovos & galinhas

O deputado Paulinho da Força (SD-SP) ainda tentava ontem um acordo para que o centrão ficasse com o mandato-tampão e o PSDB com 2017. O problema é que, dizem alguns, não dá para confiar em todos os representantes do grupo. “Daqui a seis meses, o cenário é outro e quem acreditou no acordo terminará prejudicado”, dizia um tucano.

Contabilidade I

Sem o toma lá dá cá tradicional, os partidos fazem suas contas. O centrão aposta que Rogério Rosso (PSD-DF) tem 120 votos; Rodrigo Maia (DEM-RJ), 90; e Giacobo (PR-PR), 70. Os demais, avalia o grupo, estão com menos de 30.

Contabilidade II

Fora da contagem do centrão, o deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG) aposta no relacionamento pessoal para emplacar seu nome: “Aqui, o que conta na hora de eleger é a simpatia e o respeito aos colegas”, diz ele.

De olho em 2018 I

As razões para o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, elogiar tanto a candidatura de Rogério Rosso ao comando da Câmara vão além das qualidades de agregador do líder do PSD. A ideia é tentar fazer com que Rosso saia de um potencial adversário a aliado, candidato ao Senado. Falta combinar com o próprio Rosso e os eleitores.
De olho em 2018 II

Rodrigo Rollemberg se aproveita para tentar ganhar pontos na frente de outro adversário, Tadeu Filippelli, do PMDB. No papel de assessor especial do presidente Michel Temer e instalado no 3º andar do Planalto, Filippelli não tem muita liberdade para se mover nesta seara das candidaturas ao comando da Câmara, sob pena de terminar irritando outros partidos aliados ao governo.

Haja energético I/ Um grupo de integrantes da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara promete fazer de tudo para liquidar ainda hoje a votação do parecer sobre o recurso que Eduardo Cunha (foto) apresentou. Há quem diga que será uma prévia da eleição jogada até a madrugada.

Haja energético II/ A eleição, marcada para esta quarta-feira, também não será tranquila. A expectativa é a de que vare a madrugada, como ocorreu quando da eleição do azarão Severino Cavalcanti (PP-PE), em 2005, quando o PT, com dois candidatos, perdeu.

A hora delas!/ Alguns candidatos espalharam moças bonitas pela Câmara distribuindo panfletos. Rosso e Carlos Gaguim (PTN-TO) saíram na frente nesse quesito. “Eu estou com a campanha na rua. São tantos candidatos que quem obtiver 50 votos estará no segundo turno. Essa história de Centrão não existe. Agora, é cada um por si”, diz Gaguim.

Clube do Mickey/ Alguns candidatos tiveram o trabalho de pesquisar: pelo menos 16 deputados são considerados votos perdidos para a Presidência da Casa. Estão no exterior e não devem voltar a tempo de eleger o futuro comandante.