Coluna Brasília-DF
As dificuldades de relacionamento entre o presidente Jair Bolsonaro e os partidos de centro levaram os governadores a um maior protagonismo na Câmara dos Deputados. Em São Paulo, por exemplo, deputados ligados ao governo estadual fazem a felicidade dos prefeitos com liberação de recursos do estado para os municípios e já se mostram dispostos a ajudar o governador João Doria no que for preciso. O governador do Pará, Helder Barbalho, já conseguiu arrancar de Rodrigo Maia a votação das compensações da Lei Kandir para estados exportadores, que, se aprovadas na semana que vem, representarão R$ 10 bilhões a menos no caixa da União.
Bolsonaro sentiu o tranco e combinou que, quando voltar de Israel, receberá os presidentes de partidos que estiverem dispostos a conversar com o governo. A ida de Paulo Guedes ajudou a baixar a poeira no Senado, a Casa que tem por tradição evitar derrotas a governos em início de Legislatura, combinado com um presidente da República recém-chegado ao exercício do mandato. A intenção dos senadores na noite de terça-feira era acelerar a votação da proposta de emenda à Constituição (PEC) que torna obrigatória a liberação de recursos oriundos de emenda de bancada, mas o líder Fernando Bezerra Coelho conseguiu jogar essa bola para escanteio. A ordem, agora, é evitar que os governadores ganhem protagonismo sobre o governo federal no curto prazo e cumpra-se o processo de descentralização planejado em etapas pela equipe econômica. Afinal, não dá para transformar um presidente eleito democraticamente em rei da Inglaterra da noite para o dia.
Onde mora o perigo
De nada adiantou os ministros de Estado percorrerem as comissões da Casa, retomando o diálogo com o Congresso, uma vez que o próprio presidente Jair Bolsonaro, numa entrevista, voltou a colocar fogo na relação com Rodrigo Maia. O receio dos mais fiéis aliados de Bolsonaro é de que, com o presidente prestes a viajar a Israel — ele embarca no próximo domingo —, o governo sofra novas derrotas, comprometendo as contas públicas. A subida do dólar e a queda da bolsa, ontem, foram um sinal de que o diálogo precisa ser retomado antes da viagem.
Por enquanto, é só pressão
Quem conhece o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirma que o fato de ele ter dado a entender que deixará o governo, caso sua proposta não seja aprovada, foi apenas “força de expressão”. Ele tem um plano B, que passa justamente pelo Orçamento verdade, ou seja, paga-se o que der. O que não der… paciência.
Quem pariu Matheus…
Aliás, a equipe econômica não se sentiu tão derrotada com o fato de o Congresso ter aprovado o Orçamento impositivo para as emendas de bancada. Se os parlamentares querem ter o poder de dar a palavra final sobre a aplicação dos recursos orçamentários, têm de ter responsabilidade para aprovar apenas o que pode ser executado. “Sem terrenos no céu e lotes na lua”, diz um secretário do governo.
Agora, vai
O presidente Jair Bolsonaro decidiu convidar alguns deputados para acompanhá-lo a Israel. Há quem diga que deveria ter feito o mesmo quando foi aos Estados Unidos na semana passada.
De onde não se espera nada…
O ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, saiu da audiência na Câmara, ontem, com aliados de Jair Bolsonaro considerando que ele colocou um pé fora do governo. Ninguém engoliu o fato de ele usar Pablo Escobar como exemplo de promoção de educação na Colômbia.
Perde-ganha I/ O gesto do governador do DF, Ibaneis Rocha, de ceder o seu avião para que o ex-presidente Michel Temer pudesse sair da prisão e voltar para São Paulo sem ser incomodado, foi visto como uma tentativa de recuperar terreno para presidir o MDB.
Perde -ganha II/Ibaneis tinha sido muito criticado por potenciais aliados por causa das declarações críticas à cúpula do partido, na reunião ampliada da Executiva nacional da sigla, na semana passada. Agora, terá de recomeçar do zero.
Ele já sabia/ Emedebistas ainda engasgados com as declarações do governador do DF lembram que, quando Ibaneis ingressou no partido, Eduardo Cunha estava preso, assim como Geddel Vieira Lima. Logo, o então candidato não entrou de “gaiato no navio”.
Por falar em Eduardo Cunha…/ Seus mais fiéis escudeiros dizem que nem ele teve coragem de levar a votos o Orçamento impositivo para emendas de bancada.