Coluna Brasília-DF
Número de manifestantes à parte, o que mais irritou os congressistas foi a fala do presidente Jair Bolsonaro elogiando as manifestações de domingo que, claramente, se mostraram contra o Congresso e o STF. Parlamentares dos mais variados partidos diziam em conversas reservadas que o presidente, apesar das ressalvas no discurso público, dá todos os sinais de que trabalha para jogar a população contra o Parlamento. E, verdade seja dita, o Congresso até aqui não se colocou contra as reformas. Ao contrário, estuda o projeto e cumpre os prazos. Os líderes estão tão desconfiados de que Bolsonaro quer mesmo é briga que nem a fala do presidente, propondo um pacto entre os Poderes, tirou essa impressão de inclinação ao confronto.
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É nesse clima que chega a hora da verdade para a Medida Provisória 870 (da reestruturação administrativa) — o primeiro teste pós-manifestações — e as negociações em torno da reforma da Previdência.
Cheiro de impasse I
Se o presidente Jair Bolsonaro quer distância dos “conchavos”, assim será. Caso o Senado mude o texto da MP 870 aprovado na Câmara , a Casa seguirá a resolução número 1 à risca. A Resolução fixa um prazo de três dias para análise da modificação feita pelo Senado Federal: o último dia será na sexta-feira.
Cheiro de impasse II
Se as ruas decretaram que nem o Centrão nem Rodrigo Maia prestam, o governo, maior interessado, que procure arregimentar os votos para aprovar a MP 870 numa sexta-feira, ligando e organizando uma maioria. Aliados do presidente, entretanto, dizem que a votação é obrigação do Congresso. E quem faltar que arque com as consequências.
“O texto só será mantido na forma aprovada pela Câmara se o presidente pedir publicamente”
Do senador Izalci Lucas (PSDB-DF), disposto a votar para devolver o Coaf ao Ministério da Justiça, onde está hoje o ex-juiz Sérgio Moro
Onde vai “pegar”
O governo monitora dia e noite os dados da economia e a ameaça de recessão técnica, visto hoje como o maior problema. Já existe o diagnóstico de que esse risco só será debelado se houver um diálogo mais harmônico entre os Poderes para levar adiante as reformas. O problema é que, com o Congresso e o STF achincalhados em manifestações pró-governo, a conversa fica cada vez mais difícil.
O desabafo da ministra/ Ao abrir a semana de orgânicos do Ministério da Agricultura, a ministra Tereza Cristina botou a boca no trombone contra aqueles que criticam a qualidade dos produtos brasileiros por causa dos agrotóxicos utilizados. “Considero um desserviço ao país, uma ação lesa-pátria, a campanha massiva de desinformação que alguns brasileiros de renome, inclusive com função pública, têm feito na internet contra a qualidade dos nossos alimentos. Nossos
concorrentes agradecem!”
O desabafo da ministra II/ Ao dizer que “a pior praga é a desinformação”, ela citou os biodefensivos, controle biológico de pragas, cada vez mais pesquisados e usados no Brasil. “Nem nós, nem o Ibama nem a Anvisa envenenamos o prato de ninguém.(…)
É uma irresponsabilidade total, ao se tratar de um assunto tão técnico, dizer que no Brasil se aplica pesticida porque se quer, aos montes, sem critério nenhum”, afirmou. “Eu fico realmente impressionada ao ver que, por mera disputa político-ideológica, se chegue a esse nível de mentira”.
Enquanto isso, no Planalto…/ A amigos, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Santos Cruz, considera a comunicação o maior desafio.