Eleição na Câmara: Discrição, mas sem perder de vista

Publicado em Política

POR LUANA PATRIOLINO — A disputa para a sucessão de Arthur Lira (PP-AL) na Presidência da Câmara começou bem mais cedo do que se esperava — e apesar do período eleitoral, de Congresso vazio, continua a todo vapor. O deputado deixará o cargo somente em fevereiro de 2025, mas os deputados Hugo Motta (Republicanos-PB), Elmar Nascimento (União-BA) e Antonio Brito (PSD-BA) articulam intensamente para costurar apoio na votação.

Embora sem emitir sinais de que tem alguma preferência, o Palácio do Planalto vem acompanhando de perto essa movimentação. Afinal, não dá para deixar o barco correr depois da derrota histórica do governo Dilma Rousseff, que, em 2015, endossou a candidatura do petista Arlindo Chinaglia contra Eduardo Cunha. O então emedebista venceu a disputa e, um ano depois, deu início ao processo que resultou no impeachment da presidente.

O que as urnas dirão?

O governo Lula 3 corta um dobrado para consolidar a base no Legislativo. Mesmo com figuras essenciais, como o ministro Fernando Haddad (Fazenda) e o vice-presidente Geraldo Alckmin, o Planalto tem dificuldades em lidar com um Congresso fragmentado e com o poder do Centrão nas duas Casas. A expectativa é para aquilo que emergirá das urnas, em outubro. Se o leque de apoios do governo sagrar-se vencedor, o diálogo fluirá com mais facilidade.

Abraço de afogado

Se as pesquisas estiverem corretas, em São Paulo a disputa, agora, é entre Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSol). O performático Pablo Marçal (PRTB) já é visto como carta fora do baralho — assim como José Luiz Datena (PSDB) e Tabata Amaral (PSB). O tucano anunciou que não apoiará ninguém caso caia no primeiro turno. A deputada é mais polida — e tende a fechar com Boulos. O problema é o influenciador: se ficar neutro, seus votos devem migrar para Nunes. Mas, caso declare apoio à reeleição do prefeito, pode dar um abraço de afogado.

Será mesmo?

Seja como for, Pablo Marçal chega em 2026 com um patrimônio considerável de votos e conhecido nacionalmente por conta do histrionismo. Tem verbalizado que tentará a Presidência da República. Mas como o que ele fala não se escreve, pode migrar para a disputa — por São Paulo — de uma das duas vagas ao Senado. O que será um tormento para o bolsonarismo.

“Vai dar ruim”

Um dos que estará na briga pelo Senado, representando a direita, certamente é o hoje deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). O outro será, a princípio, alguém fechado em acordo entre o ex-presidente e o governador Tarcísio de Freitas. Pode ser Marçal? Pode, pois até lá ele tem tempo para pedidos de perdão e de composições diversas. Mas, a preços de hoje, o influenciador é visto mais como elemento desestabilizador do que agregador.

Invasão de território

Depois de perder espaço para Nunes entre os eleitores evangélicos, segundo a recente pesquisa do Datafolha, Marçal agendou para amanhã um encontro virtual com pastores e líderes religiosos. Gravou vídeo convidando para uma videochamada no começo da tarde. O influenciador volta a invadir a seara do bolsonarismo — que não aceitará isso passivamente — e pode ter cometido pecado mortal.

Use com moderação

A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) tem discutido com os congressistas a importância de o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) salvaguardar o trabalhador no momento da demissão e financiar habitação, saneamento e mobilidade. Segundo a entidade, tramitam 202 projetos no Congresso que criam novas hipóteses de saque do Fundo. “Só com o saque-aniversário, R$ 121 bilhões deixaram de ser utilizados na habitação. Até 2030, o impacto pode chegar a R$ 230 bilhões”, lamenta o presidente da CBIC, Renato Correia.

Mão na massa

Mais de 600 pessoas participam do SDGs in Brazil, promovido pelo Pacto Global da ONU — Rede Brasil, em Nova York. Entre eles, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, e a skatista e medalhista olímpica Rayssa Leal (foto). Eles se juntaram a lideranças empresariais, governamentais e cientistas para discutir, entre outros temas, a sustentabilidade. “O crescimento do interesse das corporações por iniciativas em prol do desenvolvimento sustentável é animador, mas é preciso ir além. Todos os agentes da sociedade precisam agir”, disse à coluna Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU.

Sem vínculo trabalhista

Duas novas decisões do STF confirmam a inexistência de vínculo de emprego em contratos de franquia. Destacando o princípio constitucional da livre iniciativa, o ministro Nunes Marques cassou acórdãos do TRF-4 que reconheciam o elo entre donos de corretoras de seguro franqueadas e a Prudential. Até agora, a seguradora saiu vitoriosa em 23 ações no Supremo.