Os políticos não tiveram tempo de digerir o recado das manifestações de ontem, quando a tônica foi o combate à corrupção e o “fora Renan”. Logo cedo, lá estava a Policia Federal batendo à porta do ex-presidente da Câmara Marco Maia (PT-RS) e do ex-senador Vital do Rego (PMDB-PB), hoje ministro do Tribunal de Contas da União. Eles são suspeitos de terem recebido vantagens indevidas por proteger agentes públicos e privados na CPI da Petrobras. A ação tende a aumentar a pressão interna no Parlamento para aprovação da lei do abuso de autoridade, enquanto o recado das ruas foi justamente o inverso: Deixem a Lava Jato trabalhar.
A operação Lava Jato só termina no ano que vem e tem agora que desdobrar a colaboração premiada da Odebrecht. Conforme bem lembrou a coluna Brasília-DF no domingo, essa delação dos executivos transborda o Petrolão e se espalha ao setor elétrico e grandes obras do governo federal e estaduais, especialmente, no Rio de Janeiro. Ao colocar um holofote ali, as investigações devem comprometer ainda mais o ex-governador Sérgio Cabral e puxar outros personagens. A tendência dos parlamentares envolvidos, ou mesmo com medo, é agir como aquele sujeito que está se afogando: Se debater, puxando para baixo os colegas. Daí, a tentativa de alguns senadores na semana passada, de dar urgência à proposta de abuso de autoridade aprovada na Câmara __ algo que acabou rejeitado por ampla maioria.
A batalha campal
Nesta terça-feira, o clima no plenário do Senado não estará diferente. Um grupo capitaneado por Renan Calheiros tentará votar o projeto de abuso de autoridade, uma proposta que ninguém conseguiu analisar direito porque o relatório do senador Roberto Requião ainda não foi distribuído. Será a mesma batalha da semana passada num plenário que deverá apreciar ainda o fim da reeleição.
E a economia, hein?
A reunião do presidente Michel Temer no fim de semana com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, funcionou como um recado aos mais impacientes com a lentidão da recuperação econômica: Não adianta bater no ministro, porque o presidente não irá substituí-lo. Mexer na equipe agora será catastrófico,dizem autoridades do governo, uma vez que nem as primeiras medidas geradas pelo governo tiveram sua tramitação concluída no Congresso. A PEC do Teto de gastos, por exemplo, ainda precisa ser votada em segundo turno no Senado, o que está previsto para a próxima semana. A reforma da Previdência sequer foi enviada. O governo pretendia esperar essa última votação para enviar ao Congresso a reforma da Previdência. Mas, como o mercado tem pressa, a reforma previdenciária deve chegar ao Congresso esta sexta-feira.
É pra já!
O mercado espera medidas mais urgentes que possam dar um novo fôlego à economia, em especial, um respiro à produção e aos salários, de forma a reduzir o aperto das famílias e da índústria. Até aqui, todas as medidas do governo foram no sentido de conter os gastos públicos. A taxa de juro caiu pouco, os bancos continuam com seus lucros enquanto vem por aí a reforma da Previdência. Há quem defenda que o momento é de dividir a conta do déficit com todos, sob pena de o governo perder apoios e terminar transformando o “fora Renan” num “fora Temer”, hoje restrito aos movimentos que lutaram contra o impeachment de Dilma Rousseff. A ordem no governo é aproveitar janeiro para reorganizar o jogo a fim de entrar fevereiro com mais musculatura para a reforma previdenciária. Renan Calheiros tem apenas mais dois meses de mandato, na prática, duas semanas. O governo torce para que, nesse desespero para não se afogar, ele não puxe todos para o redemoinho da Lava Jato com medidas que denotem desespero. O momento exige calma e muito trabalho. Resta saber se, com a Lava jato batendo à porta, os políticos terão serenidade para isso.