O governo pode até pensar em convocar o Congresso em janeiro para acelerar a reforma da Previdência. Mas os parlamentares, em especial quem se vê levado a dar explicações à Justiça, não querem saber de pisar em Brasília com a colaboração da Odebrecht fervendo neste verão. A maioria deseja votar o teto de gastos, as leis orçamentárias, sumir do mapa e torcer para que, na volta do recesso, a poeira já tenha baixado.
… E Michel, às mudanças
Diante dessa realidade, o presidente Michel Temer foi aconselhado a aproveitar o período para organizar melhor o governo, de forma a tentar salvar o próprio mandato que a colaboração premiada da Odebrecht chacoalha. A avaliação geral é a de que o fato de estar no comando do país joga no colo de Temer grande parte do desgaste nesse processo. A ordem é não se deixar derrubar com o barulho da bala e trabalhar para tentar sair da linha de tiro. Falta combinar com os adversários. Eduardo Cunha, inclusive.
Mal-estar
Os tucanos foram acusados pelos peemedebistas de tentarem transformar a indicação de Antonio Imbassahy para a secretaria de Governo em fato consumado antes que o presidente Michel Temer tivesse anunciado. Agora, é aproveitar o fim de semana para tentar acalmar a todos. O centrão irritado com a escolha de Imbassahy, e o PSDB incomodado com a hesitação. É o clima na base aliada cada vez pior.
Na boca da base
O nome de Antonio Imbassahy nem tinha circulado e senadores já reclamavam dessa grande proximidade entre PSDB e governo: “A preocupação do PSDB é recuperar o poder. Até se o Michel tiver uma popularidade de 90% em 2018, os tucanos terão candidato a presidente”, dizem aliados do governo.
Lula, a Zelotes e o PT
A intenção de muitos integrantes do PT em eleger Lula presidente do partido foi colocada em xeque ontem, com a nova denúncia sobre tráfico de influência. Há quem diga que, com três processos e um inquérito nas costas, o ex-presidente não terá condições de comandar uma legenda dividida. O melhor é preservá-lo dessa briga interna para, se for possível, lançá-lo candidato a presidente da República em 2018. Afinal, diante do lamaçal que se transformou a política, é bem capaz que o povo perdoe o ex-presidente e o reeleja. Essa é hoje a esperança do PT.
Quem cala consente
Nomeado relator da lei de abuso de autoridade em 2009, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) mandou centenas de ofícios a comandantes de instituições públicas pedindo sugestões para o texto. Não recebeu respostas.
Amigos de ocasião/ O presidente do Senado, Renan Calheiros, não esquece aqueles que chegaram na primeira hora a seu gabinete, antes de o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir mantê-lo no cargo. E registrou: Os tucanos começaram a chegar só depois do voto de Celso de Mello, dando a senha para que o senador permanecesse no cargo.
Ironia da ocasião/ Justamente na semana em que Renan Calheiros descumpriu a liminar do ministro Marco Aurélio de Mello, vem à tona a preliminar da delação do executivo da Odebrecht Cláudio Mello em que o senador alagoano é tratado como “Justiça”. Nada é por acaso.
Prisão domiciliar?/ Na semana passada, foi o deputado Aníbal Gomes que ouviu poucas e boas no aeroporto de Fortaleza. Chegou ao ponto de seu segurança socar um cidadão. Agora, foi o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, ser chamado de “ladrão” num shopping em São Paulo. O vídeo viralizou nas redes sociais.
Enquanto isso, no Ceará…/ O governador Camilo Santana, do PT (foto) , não escondeu o desconforto ontem ao se ver obrigado a aplaudir um discurso do senador Eunício Oliveira, na solenidade do programa Minha Casa/Minha Vida. Os dois são adversários ferrenhos e mal se cumprimentam. O próprio Temer foi frio, a cada vez que Camilo puxava conversa. O governador é ligado ao ex-ministro Ciro Gomes, aquele que já chamou o PMDB de quadrilha.