Ao dizer hoje cedo que a chance e recriação do Ministério da Segurança Pública é “zero” nesse momento, o presidente Jair Bolsonaro deixa claro que não quer ver o ministro da Justiça, Sérgio Moro, fora do governo. E ao completar que, em politica, as coisas mudam, acrescente que, no futuro, tudo pode ser diferente. Assim, aos poucos, Bolsonaro vai testando a capacidade de o ministro “engolir sapos”. Até aqui, Moro já engoliu vários constrangimentos.
O primeiro foi a ordem para revogar a nomeação e Ilona Szabó para o conselho de Politicas Criminais. Depois, o país ouviu o presidente dizer que, ao fecho a nomeação de Moro para a Justiça, havia acertado no pacote a ida do ministro para o Supremo Tribunal Federal, passando a ideia de que Moro no Poder Executivo era apenas um “pit stop” até que a vaga para o STF estivesse aberta (será aberta em novembro deste ano, com a aposentadoria do ministro Celso de Mello).
Moro não gostou desses dois primeiros “sapos”. Ele foi para o governo com a promessa de junção das duas pastas, Justiça e Segurança. Anunciou inclusive que sua missão era usar essas duas áreas para tentar sufocar o crime organizado no país. O presidente, por sua vez, que faria essa união, ao fechar a ida do ex-juiz para a sua equipe em novembro de 2018. Naquele dia, estávamos nós, jornalistas, na porta do condomínio do então presidente eleito, esperando a saída de Moro, que confirmou o convite.
O próprio Bolsonaro, em entrevista naquele dia às emissoras católicas, confirmou a união das pastas como uma das condições para que Moro aceitasse o cargo. Por isso, aliados do presidente ontem ficaram constrangidos quando o capitão declarou há dois dias que Moro foi para o governo sem que houvesse a promessa de junção das duas pastas. Essa promessa houve e foi revelada pelo próprio presidente à época.
Fraga na reserva
As pressões para recriação a pasta vão além dos secretário de Segurança Publica e Bolsonaro resiste. Aliás, auxiliares de Bolsonaro frisam que as imagens do encontro no Planalto com os secretários de Segurança Pública deixam claro algum desconforto do presidente ao dizer que estudaria a criação do ministério da Segurança. Em conversas reservadas, os assessores disseram inclusive que Bolsonaro deu uma declaração protocolar, para não deixar que os secretários saíssem dali com as mãos abanando. Porém, como cada declaração presidencial equivale a um tiro de canhão, o estrago estava feito.
O ex-deputado Alberto Fraga, que conversa com o presidente quase todos os dias, procurado por jornalistas, foi direto ao dizer que “Moro não foi o responsável pela redução dos homicídios no Brasil”. Fraga, que é policial, atribui os números ao trabalho conjunto de policiais militares, civis e bombeiros. Ele é considerado o nome mais próximo de Bolsonaro para assumir a Segurança Publica. E, justiça seja feita, Fraga também destacou que Bolsonaro não havia dito que iria recriar a pasta.
Hoje, o presidente deixou isso mais claro: Não vai recriar o Ministério. A população, por sua vez, já sabe, pelo menos, um dos limites de Moro, que ainda é o ministro mais popular do governo. Por enquanto, o presidente escolheu ficar com Moro e, consequentemente, um Ministério da Justiça mais encorpado. E, assim, termina mais um capítulo da guerra fria entre o presidente e seu ministro mais popular. Segue o baile.