Em 16 de agosto de 1992, uma parcela expressiva da população foi às ruas de preto, em protesto contra o então presidente Fernando Collor, que havia convocado o povo para pedir apoio. Collor, àquela altura acuado pela crise econômica e política, não conseguiu levar seus apoiadores às ruas. Hoje, Jair Bolsonaro, com crise econômica, politica e de saúde, conseguiu. As manifestações país afora foram expressivas o suficiente para lhe dar discurso, mas não para dar suporte para um golpe, ou ações mais radicais. Passado este Sete de Setembro, a vida seguirá tensa, uma vez que, em seus discursos, o presidente manteve o tom de ameaça ao STF: “Não mais aceitaremos qualquer medida, qualquer ação ou sentença que venha de fora das quatro linhas da Constituição. Também não podemos continuar aceitando que uma pessoa específica da região dos três Poderes continue barbarizando a nossa população. Ou chefe desse poder enquadra o seu ou esse Poder pode sofrer aquilo que não queremos”, chamando o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, para o centro do ringue.
Bolsonaro discursa para proteger os seus. Não quer que o Supremo Tribunal Federal prenda seus apoiadores quando eles dizem que o ministro Alexandre de Moraes extrapola no exercício de sua função. Nem que sejam admoestados ao criticarem ministros em público _ caso do empresário que, num bar, xingou Moraes e, denunciado por seguranças, teve que ir à delegacia dar explicações. E, nesse sentido, tudo indica que manterá a corda esticada.
Fux ainda não respondeu e os ministros do STF, em conversas reservadas, adotam a cautela. No Congresso, alguns atores viram no discurso do presidente mais uma ameaça à estabilidade política e já no twitter anunciaram algumas atitudes. O PSDB fará uma reunião para discutir os pedidos de impeachment do presidente. O vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos, afirmou que “ato de violência contra o Congresso e Supremo Tribunal Federal tornará inevitável abertura de impeachment”.
Bolsonaro, porém, tem o apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira, que tem a chave da gaveta onde estão os pedidos de impeachment já protocolados. E, para completar, as manifestações deste Sete de Setembro mostraram que ele tem apoio popular para concluir seu mandato. Harmonia, porém, é uma palavra longe de se tornar realidade nesse clima quente e seco da política em Brasília.