Autor: Denise Rothenburg
Os petistas analisam o quadro para 2022 com a certeza de sucesso com base em três premissas: 1) Em 2018, o candidato Fernando Haddad chegou ao segundo turno, mesmo com o ex-presidente Lula preso. Agora, Lula está solto. Logo, poderá fazer campanha Brasil afora. 2) O ex-juiz Sérgio Moro, na avaliação do PT, não tem mais empuxo para ajudar este ou aquele candidato. 3) O presidente Jair Bolsonaro já não tem a mesma “pegada” eleitoral e perdeu grandes apoios. Logo, não há motivos para evitar uma candidatura própria com o ex-prefeito na cabeça de chapa.
O PT, porém, ainda não sabe qual o grau de rejeição ao partido. É a única variável que eles consideram negativa hoje. Significa que o candidato terá que apostar mais na renovação de quadros. E aí mora o problema. A turma mais antiga não quer abrir mão da visibilidade para dar vez a novatos.
Onde mora o perigo
A ampliação da posse de armas, feita numa canetada pelo presidente Jair Bolsonaro, foi vista com muita desconfiança pela oposição. Há quem suspeite de que ele esteja criando um exército paralelo, para o caso de as coisas saírem do seu controle mais à frente.
Por falar em armas…
Os decretos também representam uma forma de o presidente dar um afago aos radicais que o apoiam, no mesmo momento em que ele começa a entregar os ministérios aos partidos, nomeando para a pasta da Cidadania o deputado João Roma, indicado do Republicanos. Até aqui, o presidente sempre dizia que não negociaria ministérios com os partidos. Essa negociação é hoje a maior arma de Bolsonaro no Parlamento.
… o cartucho de Bolsonaro está cheio
Tem muita gente no DEM com a crença de que a revolta de ACM Neto com a nomeação de João Roma para ministro da Cidadania não passou de encenação. O partido ferve e a ala independente teme que Bolsonaro, num dos seus inúmeros rompantes, diga que Neto sabia da nomeação de João Roma e não lhe disse que não o fizesse. Foi mais ou menos o que o presidente fez com Sérgio Moro, ao dizer que havia prometido ao então ministro da Justiça uma vaga no Supremo Tribunal Federal.
Agora, lascou
A retirada dos militares da fiscalização da Amazônia deixa os embaixadores brasileiros com muita dificuldade de fazer com que autoridades e instituições ambientais estrangeiras acreditem que a região está protegida e vai se desenvolver de forma sustentável. O chanceler Ernesto Araújo e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, são vistos como aqueles que apenas repetem o discurso ideológico do chefe.
Moro na foto/ Em conversas com aliados, o senador Álvaro Dias (Podemos-PR) tem dito que, se Sérgio Moro não for candidato a presidente da República, será pule de dez para o Senado. Estaria eleito sem sair de casa.
Por falar em Moro…/ A pressão sobre os procuradores da Lava Jato é vista com desconfiança por quem não se enroscou nas falcatruas relevadas pelo Petrolão. Daqui a pouco, vão dizer que o desvio de recursos e as delações premiadas não passavam de ficção.
… ele tem narrativa/ Moro ensaia o discurso de que interessa ao PT e ao presidente Jair Bolsonaro desmoralizá-lo e a Lava Jato. Se o discurso pegar, o ex-juiz se manterá como um player e a ser considerado. Porém, tanto os bolsonaristas quanto os petistas estão convictos de que a polarização de 2018 se repetirá em 2022, com Bolsonaro versus Fernando Haddad num segundo turno.
Calma, pessoal!/ A porta de um apartamento num condomínio de classe média alta em Brasília amanheceu, dia desses, pichada com uma cruz. Tudo porque um cachorrinho novo chora e um vizinho não gostou do barulho. Ora, quem não tem tolerância para conviver com essas situações ou não sabe conversar para resolver diferenças, deveria optar por morar num descampado.
A nomeação do deputado João Roma (Republicanos-BA) como ministro da Cidadania foi lida por alguns ases da política como uma forma de o presidente Jair Bolsonaro matar dois coelhos numa só cajadada. Primeiro, galvaniza a relação do Republicanos, partido de Flávio e Carlos Bolsonaro, com o governo. Em segundo, o governo acredita que a nomeação de Roma tira fôlego do presidente do DEM, ACM Neto, para a busca de caminhos alternativos rumo a 2022. Luciano Huck, por exemplo, conversa com outras agremiações e o PSDB, dividido, não tem hoje meios de formar uma parceria com o democratas ou outra legenda. Aos poucos, Bolsonaro vai tirando terreno dos adversários do seu campo político.
Entre os fiéis escudeiros do presidente, há, inclusive, quem defenda a vaga de vice para um nome do DEM. Sabe como é: com expectativa de poder, a galera sempre pensa duas vezes antes de se movimentar.
À la Flávio
Da mesma forma que Flávio Bolsonaro saiu do negócio de venda de chocolates para ficar longe de ter que responder sobre as contas da loja, o governo pretende fazer o mesmo na saúde. Há quem diga que, se substituir o ministro Eduardo Pazuello, o Poder Executivo sempre poderá dizer que o problema foi na “administração anterior”.
Tempo & razão
Os governistas consideram que outro ministro renovaria as esperanças de dias melhores em relação à pandemia. Para completar, acredita-se no Planalto, que a população nem vai se lembrar do tal “um manda e o outro obedece”, que o ministro mencionou no passado, referindo-se ao presidente Jair Bolsonaro.
Preocupante
Desde a instalação desta legislatura, foram 27 servidores diagnosticados com covid-19 na Câmara e oito, no Senado. Sinal de que ainda não dá para relaxar em relação à pandemia. Não por acaso, o presidente Arthur Lira (PP-AL) passou a cobrar que todos os parlamentares usem máscara no plenário.
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#ficaadica/ O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), telefonou para alguns senadores amigos com sugestão de perguntas ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Foi algo como apagar incêndio com querosene.
Por falar em Saúde…/ O deputado tem dito que não quer ser ministro, que já foi e coisa e tal, mas ninguém no Congresso acredita.
Sem festa, mas com irreverência I/ O carnaval virtual não perdeu o bom humor, nem a criatividade. Nas redes e em páginas oficiais de partidos de oposição, como o PCdoB, ganha o mundo a marchinha de Edu Krieger com imagens de Maria Bopp, que começa assim: “Aê Unidos da Cloroquina! Aglomera!”
Sem festa mas com irreverência II/ O refrão já está na boca dos bem-humorados da política, para inveja ao Pacotão, que este ano não sai: “Pega a grana do auxílio/ põe no meio do Centrão/ Deus proteja o filho zero um do capitão/ Se o calor está rachar, o que é que há/ Uma rachadinha não faz mal”.
“A missão deste Ministério é não deixar nenhum brasileiro para trás”
Do novo ministro da Cidadania, deputado João Roma (Republicanos-BA), considerado um dos talentos desta Legislatura, que assume com a responsabilidade de reestruturar o Bolsa Família e o novo auxílio emergencial
O novo ministro da Cidadania, João Roma, chega ao cargo como resultante de uma estratégia desenhada no Palácio do Planalto, de reforçar o Republicanos e a ala governista dentro do DEM, uma vez que Roma é ligado ao presidente do partido, ACM Neto, e já foi presidente da juventude do DEM. Na última semana, ACM Neto ponderou ao deputado que não aceitasse o cargo. Porém, o republicanos bate o pé e Bolsonaro disse que sua escolha estava feita. Era João Roma e não se falava mais nisso. Se o Republicanos não quisesse, ele buscaria um nome de outro partido. Nesse sentido, não houve jeito.
Por mais que ACM Neto tenha dito que não indicou ninguém para o governo, entre os políticos prevalece a desconfiança de que ele não disse não e que o fato de o DEM não ter fechado o apoio a Baleia Rossi na disputa pela Presidência da Câmara foi crucial para a nomeação de João Roma. Mal ou bem, é mais um nome da confiança da cúpula do DEM que vai para o governo.
Depois das duras cobranças dos senadores ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ficou difícil o governo escapar da CPI da Covid-19. Os líderes do governo dizem que o ministro se saiu bem e a oposição avalia que somente uma comissão de inquérito permitirá que se apure as responsabilidades por problemas no atendimento à população. No meio desse caminho, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), tentará ganhar mais uns dias, porém não tem como negar se todos os requisitos regimentais estiverem cumpridos.
Pacheco teve votos do governo e da oposição, e prometeu adotar uma postura de independência em relação ao Planalto. Diferentemente de Arthur Lira (PP-AL), Pacheco não deve a eleição ao presidente Jair Bolsonaro, e, sim, ao consenso que conseguiu criar na Casa, em parceria com o ex-presidente Davi Alcolumbre (DEM-AP). E não deseja quebrar a confiança de seus pares atropelando o regimento, se as premissas para a CPI estiverem preenchidas.
É pegar ou largar
No ano passado, Jair Bolsonaro propôs um auxílio de R$ 200, o Congresso subiu para R$ 500 e o presidente elevou para R$ 600. Agora, com as contas mais apertadas, essa manobra para ficar bem junto à população não vai funcionar. A base do governo terá que se contentar com o valor que for proposto pelo Executivo e ponto.
Lupa nos gastos
A oposição, porém, começou a vasculhar todos os gastos do governo para confrontar o Planalto com discursos do tipo “não tem dinheiro para o auxílio, mas tem para outras despesas não tão urgentes”. E, dessa vez, não terá a controvérsia do leite condensado.
MDB vai dar trabalho
Pelo simples fato de o líder do MDB no Senado, Eduardo Braga, ser do Amazonas, onde a situação da pandemia da covid-19 é dramática, o governo já esperava que ele fizesse muitas cobranças ao ministro da Saúde. Mas o que não se esperava era que outros senadores do partido, considerados aliados do governo, seguissem pelo mesmo caminho.
Projeto Dória em xeque
Com a inclusão do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, no leque de opções tucanas para 2022, está claro que o governador João Dória, de São Paulo, pelo menos até aqui, não conseguiu unir o partido. E reza a lenda que quem não consegue unir a própria turma, tem dificuldades de convencer os outros.
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Base, o retorno/ Aos poucos, Bolsonaro vai se reaproximando daqueles aliados dos quais tirou cargos no governo, por causa da eleição para Presidência da Câmara. O deputado Hildo Rocha (MDB-MA), por exemplo, um dos coordenadores da campanha de Baleia Rossi (MDB-SP), fez parte da comitiva à Base de Alcântara.
Começaram as entregas/ A viagem ao Maranhão foi justamente na semana em que o Diário Oficial da União trouxe a exoneração de um aliado de Hildo Rocha no governo para dar lugar a um apadrinhado do deputado Aluísio Mendes (PSC-MA), eleitor de Arthur Lira (PP-AL).
Vem mais/ Aliás, a turma do Congresso não tira os olhos do DOU e das nomeações da Câmara. Depois que Lira exonerou os ocupantes de cargos em comissão, estão todos interessados em saber quem será agraciado com a ocupação dessas vagas.
Quem já foi rei…/ A briga interna do PSDB ressuscitou alguns personagens. Além de Aécio Neves (MG), que estava mergulhado, o grupo de WhatsApp da bancada trouxe comentários do tipo “saudades de Geraldo Alckmin”.
Os estrategistas do governo no Congresso querem jogar mais luz sobre a CPI da Saúde, criada no Amazonas, no ano passado, para usar como justificativa a fim de evitar a CPI da Covid no Senado. Essa será uma das missões de Eduardo Pazuello, hoje (11/2), na exposição que fará ao Senado, reforçando que, se não fosse a atuação do governo federal, a situação estaria muito pior. Se o ministro da Saúde não for convincente, não evitará a comissão de inquérito.
O receio do Planalto é que os senadores ampliem a apuração para vários estados, deixando o governo novamente na defensiva nesse tema, justamente no momento em que o presidente Jair Bolsonaro tenta reformular o próprio discurso em relação às vacinas. Na visão do governo, daqui até 2022, não dá para deixar nenhuma aresta solta rumo à reeleição. E este é um tema que ainda deixa a desejar.
A missão de hoje I
A viagem do presidente, hoje, à Base de Alcântara, foi fechada depois que ONGs e professores universitários no Brasil e nos Estados Unidos firmaram um documento que defende a suspensão do acordo do Centro de Lançamento de Alcântara enquanto durar a gestão Jair Bolsonaro.
A missão de hoje II
O documento, de 31 páginas, está com o governo de Joe Biden. Agora, Bolsonaro quer dar visibilidade ao acordo firmado na gestão Trump e mostrar que o Brasil está fazendo sua parte.
Ganhar tempo…
O governo espera ter um tempo até a aprovação do Orçamento de 2020 para que o Congresso vote o auxílio emergencial. A avaliação interna é a de que, enquanto o Orçamento não estiver aprovado, o benefício não pode sair. Ou seja, nada será pago antes de março.
…e mudar o nome
No Planalto, também se cogita mudar o nome do auxílio para Renda Brasil ou algo do gênero. Ainda não está totalmente fechado, mas a ideia é evitar que se tenha um discurso de redução do valor pago no ano passado. A ordem é montar o discurso de “novo benefício”, diferente daquele de 2020, e dentro da responsabilidade fiscal que o momento exige.
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Nem vem/ A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, já fez chegar às autoridades que não cumprirá a decisão do Conanda de permitir relações sexuais de jovens do mesmo sexo que cumprem pena em instituições socio-educativas ou mesmo visitas íntimas. “Motel com dinheiro público não dá. Enquanto eu for ministra, é livro, bola, arroz e feijão”, disse a ministra em entrevista ao programa Frente-a-Frente, da Rede Vida.
Veja bem/ Damares cita, por exemplo, que não pode permitir colocar dois adolescentes do mesmo sexo que se dizem apaixonados na mesma cela, porque pode, inclusive, tratar-se de caso de abuso sexual, em que um dos dois tem medo de denunciar. Portanto, essa recomendação não será cumprida.
Chegou para dialogar/ Ao reunir sua equipe e a da Comissão de Orçamento para uma primeira rodada de trabalho, o ministro da Economia, Paulo Guedes, elogiou bastante a escolha da deputada Flávia Arruda (PL-DF) para presidir o colegiado, dizendo que ela tem tudo para fazer a união entre a responsabilidade social e fiscal. Flávia, por sua vez, prometeu ajudar: “A situação é muito grave, sem entendimento, as coisas só vão se agravar”.
Dupla jornada/ Primeira deputada a comandar a CMO, ela começou o dia cuidando das duas filhas, Maria Luísa e Maria Clara. Fez questão de levá-las à escola antes de ir para o Congresso. E já avisou aos colegas de parlamento: “Eu não abro mão de cuidar das minhas meninas”.
Na esteira da eleição de Arthur Lira (PP-AL) para presidente da Câmara, Jair Bolsonaro conseguiu dividir o DEM e o PSDB, enfraquecendo os partidos que, até aqui, são vistos como promessas para a construção de um adversário forte no campo eleitoral no qual o presidente nadou de braçada na eleição de 2018. No DEM, a briga continuará, pelo menos até o final deste ano, quando a ala ligada a Bolsonaro não descarta até mesmo tirar ACM Neto do comando da legenda. No PSDB, a briga entre o governador de São Paulo, João Doria, oposição a Bolsonaro, e o deputado Aécio Neves (MG), é outro fator que beneficia o presidente. O MDB, que tem dois líderes do governo, é o próximo alvo de Bolsonaro.
Doria, que de bobo não tem nada, chamou ACM Neto para conversar. Afinal, se a ala governista for majoritária no DEM e levar um pedaço do PSDB, a construção de uma candidatura contra Bolsonaro no campo do centro, em 2022, estará seriamente prejudicada. É lá que o presidente joga e jogará daqui para frente.
Maia leva algumas joias da coroa
O vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, seguirão com o deputado Rodrigo Maia (RJ) para fora do DEM. E o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta também não ficará.
Recuo tático
O MDB, que tem no comando os maiores profissionais da política, se recolheu depois da disputa pela Presidência da Câmara. A ordem é ficar quieto para ver como os partidos vão se acomodar até meados deste ano e, aí, começar a pedir cartas. O partido é congressual e assim permanecerá.
Por falar em cartas…
Numa eleição em que não haverá coligação para as eleições proporcionais, o MDB acredita que sua maior cartada será a estrutura por todo o país. É assim que o partido pretende atrair deputados de outras legendas para 2022.
O capricho de Arthur Lira
A decisão do presidente da Câmara de tirar o comitê de imprensa do lugar requer uma ampla reforma no local, num momento em que o país passa por uma escassez de recursos. Não há dinheiro para pagar o auxílio emergencial, equipar hospitais, mas haverá para mudar a sala da Presidência da Casa. Será a primeira reforma de Arthur Lira no comando. Cada um com a sua prioridade.
Renan, o líder/ Por integrar o maior partido do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), virou líder da maioria. Só tem um probleminha: não é governo. Logo, prevalecerá ali a figura de um líder experiente e independente. Que não jogará ao sabor do governo.
Tumulto geral I/ A fila para acesso dos elevadores do Anexo IV da Câmara, esta semana, está tão grande, que chegou a ser confundida com candidatos a uma vaga de emprego. A fila terminava na calçada, do lado de fora do prédio.
Tumulto geral II/ A maioria era de prefeitos, vereadores e até lobistas de alguns setores, interessados nas emendas do Orçamento deste ano. Chegou a dar briga, porque a medida de segurança sanitária proíbe mais de quatro pessoas em cada elevador que, no período pré-pandemia, subiam lotados.
E o Mourão, hein?/ Jair Bolsonaro quer deixar o vice-presidente Hamilton Mourão cada vez mais decorativo. Dilma Rousseff fez isso inicialmente com Michel Temer. Deu no que deu. A diferença era que Dilma não tinha a Presidência da Câmara, comandada por Eduardo Cunha. O presidente acredita que tem, porque ajudou a eleger Arthur Lira –– que tem fama de cumprir os acordos que fecha.
O teste da base do governo na Câmara será o auxílio reduzido
Ao colocar a proposta de autonomia do Banco Central (BC) para abrir sua gestão na Câmara, o presidente Arthur Lira (PP-AL) optou pelo tema que estava mais maduro, de forma a dar o discurso de sucesso no diálogo entre os Poderes da República. Mas, nos bastidores, todo mundo diz que a proposta não pode ser considerada um teste da base fiel ao presidente e, sim, a sinalização da Câmara de que, ali, a prioridade do presidente da Casa será a agenda econômica, sem a qual a perspectiva de sucesso eleitoral no futuro estará prejudicada.
Lira, assim como Jair Bolsonaro, sabe que, logo ali na frente, passados os temas mais fáceis, como a autonomia do BC, a coisa vai apertar. O grande teste será o auxílio de R$ 200. A oposição vai tentar elevar esse valor cortando despesas em obras que o governo deseja mostrar em 2022. Lira foi eleito com a ajuda do Palácio do Planalto para ajudar na construção dos consensos dentro daquilo que o governo deseja. Se a base aliada desandar, corre o risco de o presidente da República colocar a culpa no colo do presidente da Câmara. Bolsonaro já fez isso com Rodrigo Maia lá atrás. E nada garante que não repetirá a dose.
Reforma a conta-gotas
Bolsonaro não fará a reforma ministerial no ritmo que desejam os partidos, nem do jeito que eles pediram. E há um motivo para isso: deixar a turma com a expectativa de poder e não desagradar aqueles que o apoiam desde a campanha presidencial.
Teste de fidelidade
O presidente foi, inclusive, aconselhado a esperar passar o feriado de carnaval para anunciar o novo ministro da Cidadania. Assim, já estará resolvida a Comissão Mista de Orçamento e a Comissão de Constituição e Justiça. Há quem diga que, se houver uma rejeição ao nome da deputada Bia Kicis (PSL-DF) na CCJ, o mal-estar será grande.
Ficamos assim
Antes de colocar a autonomia do BC em votação, Lira tem encontro marcado com líderes dos partidos de oposição para estabelecer um acordo de procedimentos.
Termômetro
Lira quer aproveitar para medir como está a disposição dos oposicionistas em aceitar um valor menor do auxílio emergencial, de forma a não comprometer ainda mais as contas públicas. Ocorre que, depois de, no ano passado, a Câmara fechar o auxílio em R$ 500 e Bolsonaro subir para R$ 600 apenas para levar a melhor no eleitorado, ninguém da oposição acredita em acordo com o presidente.
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Estica e puxa/ A transferência da instalação da Comissão Mista de Orçamento (CMO) para amanhã (10/2) foi lida como um sinal de que Elmar Nascimento (DEM-BA) não desistiu do cargo.
Nem vem/ Em conversas reservadas, porém, os mais próximos a Arthur Lira dizem que o nome é Flávia Arruda (PL-DF) e ponto. Não é uma questão pessoal e, sim, de proporcionalidade. O PL é maior que o DEM e Arthur, que brigou por Flávia em dezembro, não vai ceder agora.
Sem álibi/ O deputado João Roma (Republicanos-BA) está numa sinuca de bico. Apontado como um nome para o Ministério da Cidadania, ficará mal no seu partido se for chamado e recusar o cargo. Se aceitar, fica mal com o presidente do DEM, ACM Neto. Se João Roma for ministro, a indicação será atribuída a Neto, o que dará mais munição para o grupo do partido incomodado com o governo, enfraquecendo a posição do presidente da legenda como independente. É aquela velha história do sujeito que passou por um beco no momento do crime, na hora do crime, mas jura que é inocente.
Por falar em enfraquecimento…/ Os deputados podem até permanecer no DEM, mas alguns nomes começam a olhar para a porta de saída. Na lista, estão o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, que não apoiará Bolsonaro, e o prefeito do Rio, Eduardo Paes. Mas ninguém fará qualquer movimento agora. A ordem é tentar segurar esse pessoal na legenda. Paes, por exemplo, que acabou de assumir, precisa de paz para trabalhar.
Ciro Gomes leva Miro Teixeira de volta ao PDT para coordenar a pré-campanha
Na luta por uma candidatura de esquerda capaz de atrair o centro, o ex-ministro de Ciro Gomes (PDT) acaba de conquistar um dos nomes capaz de servir de ponte para essa construção. O ex-ministro de Comunicações de Lula e ex-deputado Miro Teixeira, volta ao PDT, partido em que esteve filiado até 2013, para, a partir da semana que vem, começar a trabalhar um projeto nacional ao lado de Ciro para apresentar na campanha do ano que vem.
Miro estava na Rede de Marina Silva e depois de passar por varias legendas nos últimos oito anos, Pros, Apps (hoje Cidadania). Nesse período de isolamento social, as conversas com os antigos colegas de PDT e o com próprio Ciro foram aos poucos formatando esse retorno. “Ciro tem a situação do país na cabeça. É um cara do Nordeste que conhece o Sul”, disse Miro Teixeira ao blog, certo de que falta um planejamento estratégico para o Brasil.
“Não temos a pretensão de sairmos convencendo ninguém. Todas as atenções permanecem dedicadas à pandemia e em como reduzir número de mortes e de contaminações. E planejar, a fim de evitar no futuro o que passamos agora por falta de um projeto e de planejamento nacional. Ora, o Brasil tem história na produção de vacinas, a Fiocruz, o Butantan. Se tivesse planejado com antecedência, não estaríamos passando por isso”, diz Miro.
No momento, ele não fala do PT e nem de possíveis aliados ou adversários do próximo ano. “Quem fará esta conversa é Carlos Lupi”, diz ele, referindo-se ao presidente do PDT. Mas, nesse momento, em que juntar cartas é importante, Ciro Gomes acaba de conseguir um ás. Já é alguma coisa.
Arthur Lira tentará tirar reforma tributária de Aguinaldo Ribeiro
A reunião entre os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira, com os relatores da reforma tributária nas duas Casas não serviu para que Lira e o deputado Aguinaldo Ribeiro fizessem as pazes. Na Câmara, é dada como certa a substituição de Aguinaldo nessa relatoria, caso a reforma seja votada, primeiro, no Senado. Há quem diga que Aguinaldo só será mantido nessa vitrine se o presidente do PP, Ciro Nogueira, pedir.
Aos poucos e com muita paciência, Lira dará um jeito de afastar todos aqueles que tentaram lhe puxar o tapete, dentro do bloco original do Centrão. No caso de Aguinaldo Ribeiro, só tem um probleminha: o deputado já está nessa relatoria há algum tempo e sabe onde aperta o calo de cada setor e por dentro de onde é possível buscar acordos. Tirar por mera vingança poderá soar como um capricho que só atrasará a aprovação do texto.
Lula permanecerá “pendurado” na Justiça
As esperanças do PT, de lançar Lula como candidato em 2022, têm tudo para morrer na praia. Entre as conversas na área jurídica, as apostas são de que ele conseguirá a anulação da sentença dentro do processo do triplex no Guarujá, mas não o do sítio de Atibaia. Nesse cenário, Fernando Haddad será o candidato.
O ponto frágil é a saúde
O pedido da CPI da covid-19 no Senado é visto pelo governo como o maior ponto de fragilidade no Congresso hoje. Paralelamente, ainda tem a questão das vacinas, na qual o presidente Jair Bolsonaro fez questão de mostrar que está ao lado da Anvisa. Inclusive, nessa pressão do líder do governo, Ricardo Barros, sobre “enquadrar” a agência.
Se quebrar o acordo…
O PSL não pretende tirar a deputada Bia Kicis da indicação para a Comissão de Constituição e Justiça. O partido não tem interferido nas outras bancadas para dizer quem deve ser o postulante para compor este ou aquele colegiado. Além disso, há, entre os bolsonaristas, a certeza de que Bia está sofrendo uma campanha contra porque é aliada de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro.
… vai ter troco
Líderes de outros partidos avaliam que se alguma legenda quiser concorrer contra Bia terá problemas, porque essa escolha das comissões técnicas é regimental. Até o carnaval, porém, há muita água para rolar sob a ponte.
CURTIDAS
Ela levou a melhor/ Depois da briga, do ano passado, em torno da Presidência da Comissão Mista de Orçamento, a deputada Flávia Arruda, do PL-DF, ficará com o cargo, conforme acordo já firmado entre os partidos. Elmar Nascimento, que era o nome defendido, em 2020, por Rodrigo Maia e liderou a ala contra Baleia Rossi, será agraciado em outra posição mais à frente.
E o combustível, hein?/ A reunião para tratar de preço de combustível, hoje (5/2), foi exigência do presidente Jair Bolsonaro. É uma forma de ele sinalizar aos caminhoneiros que está ao lado deles, mesmo que não resolva o problema da categoria.
DEM vai ficar rachado mesmo/ Com a tese da fidelidade partidária, muitos interessados em acompanhar Rodrigo Maia, caso ele saia do DEM, devem recuar. É que o mandato de eleições proporcionais pertence ao partido.
Por falar em DEM…/ Maia tem sido procurado por integrantes do partido, num esforço para que reflita sobre os erros que cometeu no processo e dê um tempo antes de tomar qualquer decisão sobre o futuro. Não tem adiantado muito. O pote de mágoas continua cheio.
No papel de presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) acaba de inverter o cronograma que o governo havia montado para as reformas em 2021. A prioridade do ministro da Economia, Paulo Guedes, era a chamada PEC Emergencial, seguida da reforma administrativa, e a tributária. Tanto é que a proposta governamental sobre a tributária chegou ao Congresso na forma de uma carta de intenções, sem a formatação de um projeto de lei. Na semana passada, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), comentava com amigos que a ordem seria a PEC Emergencial, a reforma administrativa. A reforma tributária ficaria para depois, porque não seria tão tranquilo tratar desse tema na Casa com o autor da proposta, o deputado Baleia Rossi (MDB), e o relator, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) __ aliado do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, que apoiou Baleia Rossi.
Pacheco, que nada tem a ver com a disputa de poder na Câmara baixa, colocou Arthur Lira e Aguinaldo Ribeiro na mesma foto, lado a lado, logo depois da reunião na residência oficial do Senado, onde recebeu Lira e os relatores da tributária, o deputado Aguinaldo Ribeiro e o senador Roberto Rocha. Sem esses problemas políticos de inimizades, nem as arestas que restaram da disputa da Câmara, o presidente do Senado hoje tem mais condições de ocupar o espaço de centro, colocando todos à mesa. Faz política focado nos fatos e não nas intrigas e ressentimentos.
Lira já percebeu esses movimentos e foi direto: ” por sua vez, pediu a Pacheco que fosse instalada logo a Comissão Mista de Orçamento, primordial, porque o Orçamento deste ano não está aprovado. Pacheco concordou com a urgência do tema, mas lembrou que é preciso discutir esse tema com os líderes, ou seja, não dá para instalar ainda esta semana. Quanto às reformas, Lira citou ainda que, “nosso compromisso na Câmara é tratar com rapidez da reforma administrativa e, no Senado, da PEC Emergencial”. Falou ainda que “não vai haver briga entre Câmara e Senado por protagonismo” em relação às reformas.
A frase de Lira foi vista, entretanto, por alguns políticos como alguém que já percebeu que Rodrigo Pacheco não deixará o palco livre para que o presidente da Câmara desfile sozinho. Hoje cedo, Pacheco já ligou para Paulo Guedes, para tratar da PEC Emergencial, da reforma tributária e também da necessidade das questões sociais, leia-se auxílio emergencial. Ficaram de se reunir ainda nesta quinta-feira, no início da noite. O Senado, aliás, já tem sessão de votação hoje à tarde, com dois projetos de lei de conversão (nome que se dá quando há alteração de medidas provisórias), que tratam do acordo para as vacinas contra Covid-19 e ainda, da transferência para a União das ações representativas do capital social das Indústrias Nucleares do Brasil S.A. e da Nuclebras Equipamentos Pesados S.A, de titularidade da Comissão Nacional de Energia Nuclear.