Brasília lidera ranking de traição na quarentena

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BRUNA YAMAGUTI*

Quando lançou o hit Infiel, será que Marília Mendonça sabia que existe até aplicativo para traição? E ele faz sucesso em Brasília, a capital das relações extraconjugais na quarentena. Segundo um site especializado em promover encontros sigilosos entre pessoas comprometidas, a procura por “escapadas” aumentou durante o período de isolamento social, e a capital federal aparece em primeiro lugar no ranking de cidades brasileiras com o maior número de inscritos.

Com mais de 65 milhões de participantes no mundo, o Ashley Madison funciona como outras plataformas de encontro, mas é direcionado para quem busca por encontros extramatrimoniais. Levantamento recente feito pela empresa mostra que a pandemia de covid-19 potencializou o interesse das pessoas em trair. Houve 20 mil novas inscrições por dia, contra 15 mil no período pré-pandemia.

Além disso, 41% dos infiéis que buscaram seu primeiro caso durante o isolamento o fizeram simplesmente porque estavam entediados, enquanto 40% foram motivados pela necessidade de “aproveitar o momento”.

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“Esses casos extraconjugais virtuais servem como uma válvula de escape para indivíduos que lidam com pressões crescentes no casamento e na vida doméstica”, aponta Paul Keable, diretor de estratégia da Ashley Madison, que acredita oferecer um serviço importante. “Com o aumento das taxas de divórcio nos países que iniciaram a reabertura, oferecemos uma opção para ajudar as pessoas a lidarem melhor.”

Por outro lado, o psicólogo especialista em relacionamentos Alexander Bez alerta que a prática da traição, em vez de aliviar, costuma acentuar as dificuldades do vínculo amoroso: “A traição provoca traumas emocionais severos, podendo ser irreversíveis para a relação. Há um prazer irracional pela fuga da responsabilidade afetiva e a principal consequência é a dor da vítima, que foi traída. Nenhuma traição é normal, sempre existem problemas conjugais relacionados”, analisa.

Tendências explicitadas

O profissional pontua ainda que a pandemia explicitou comportamentos de pessoas que já tinham tendências à infidelidade ou que já a praticavam antes. Além disso, problemas como a falta de diálogo são potencializados com o excesso de convivência. “Existe uma conduta em suprimir a demanda das vontades imediatas da mente. Sair da rotina, mas sem sair da zona de conforto. São vários os motivos que podem levar as pessoas a buscar esses sites, como curiosidade, impaciência, incompreensão e infelicidade.”

Mariana**, usuária do site de relacionamentos desde 2015, é casada há 17 anos e conta que a diminuição da qualidade e da frequência das relações sexuais com o marido a motivaram a buscar por alternativas extraconjugais: “Nós temos uma filha de 16 anos e fazemos de tudo para que o lar seja o mais saudável possível, mas, no âmbito sexual, deixa a desejar. Minha vontade de encontrar outros homens só aumentava, mas eu era muito tímida e não tinha coragem de dar o primeiro passo. Foi aí que me interessei pelo site, por ser seguro e ter pessoas com as mesmas intenções”.

Segundo Mariana, que já teve vários encontros intermediados pelo aplicativo, a quarentena intensificou as diferenças no casamento e o estresse veio à tona. “Encontrei homens com o mesmo interesse que o meu, de querer alguém somente para satisfazer sexualmente, sem cobranças”, revela. “Tive vários encontros, perdi a conta de quantos”, completa.

Apesar de tentadora para alguns, essa conduta pode levar os praticantes a um caminho solitário e sem volta ou, em outras palavras, como diria Marília, “amante não tem lar”. O especialista em relacionamentos reforça: “Não existe isso de que uma traição possa alavancar um relacionamento, como uma válvula de escape para as pressões do dia a dia. O site e o aplicativo acabam gerando uma ilusão, mas namoro e casamento fazem parte da vida real. Nada substitui o diálogo, o respeito e a compreensão. As ‘escapadinhas’, sem consentimento de uma das partes, acabam gerando transtornos ainda maiores”, conclui Bez.

*Estagiária sob supervisão de Fernando Jordão

**Nome fictício, a pedido da entrevistada

Humberto Rezende

Jornalista desde 1997.

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