O verbo da semana? É rever. “Sem essa”, disse Joaquim Barbosa. O presidente do Supremo Tribunal Federal rejeitou o recurso para rever o mensalão. Resultado: Delúbio Soares, que esperava se livrar da prisão, ficou chupando o dedo. “Nós não somos cachorros não”, gritaram deputados em coro. Eles querem forçar Dilma a rever o jeito de tratar os aliados. A presidente nem dá bom-dia aos coitados. Pode?
Tão relevantes acontecimentos mereceram visitinha à gramática. O nó da questão: como conjugar o verbo rever? A resposta: ele é filhote de ver. Pai e filho se flexionam do mesmo jeitinho: vejo (revejo), vê (revê), vemos (revemos), veem (reveem); vi (revi), viu (reviu), vimos (revimos), viram (reviram); verei (reverei); veria (reveria); vendo (revendo); visto (revisto). E por aí vai.
Tempos do indicativo são moles como coração de vó. O problema reside no futuro do subjuntivo. Se eu rever? Se eu revir? A dificuldade é genética — herança que passa de pai para filhos. Encontrada a resposta para o primitivo, desvenda-se o mistério dos derivados. Assim: se eu vir (revir), se ele vir (revir), se nós virmos (revirmos), se eles virem (revirem).
É isso. Joaquim Barbosa disse: “Se o Supremo revir o julgamento, conduzirá ao descrédito a Justiça brasileira”. Nota 10. Como chegar lá?
É “se eu manter” pra cá, “se eu pôr” pra lá, “se eu ver, trazer, caber” pracolá. O futuro do subjuntivo é a grande vítima das pancadas gramaticais. É que ele tem um concorrente desleal. Trata-se do infinitivo. Nos verbos regulares, o futuro do subjuntivo tem a cara do infinitivo: se eu amar, se eu cantar, se eu vender, se eu partir, se eu escrever.
Na língua como na vida, quem vê cara não vê coração. Apesar da aparência, o futuro do subjuntivo não deriva do infinitivo. Deriva do pretérito perfeito. A 3ª pessoa do plural, sem o -am final, dá à luz a 1ª pessoa do tempo problemático. Veja:
Pretérito perfeito
Manter: mantive, manteve, mantivemos, mantiver(am) Pôr: eu pus, ele pôs, nós pusemos, eles puser(am) Ver: eu vi, ele viu, nós vimos, eles vir(am) Trazer: eu trouxe, ele trouxe, nós trouxemos, eles trouxer(am) Caber: eu coube, ele coube, nós coubemos, eles couber(am)
Futuro do subjuntivo: se eu mantiver, ele mantiver, nós mantivermos, eles mantiverem; se eu puser, ele puser, nós pusermos, eles puserem; se eu vir, ele vir, nós virmos, eles virem; se eu trouxer, ele trouxer, nós trouxermos, eles trouxerem; se eu couber, ele couber, nós coubermos, eles couberem.
Moral da história: as aparências enganam.