Rabo quente
As orações são como as pessoas. Algumas dão duro. Trabalham tanto que se sobrecarregam. Têm dois predicados, um verbal e um nominal. O verbal exprime ação. O nominal, o modo de ser do sujeito no momento da ação – o predicativo. Identificá-lo parece difícil, mas não é. Basta saber que ele esconde o verbo estar. Observe a manha:
O ministro entrou nervoso. O ministro entrou (e estava) nervoso. O dia amanhece bonito. O dia amanhece (e está) bonito. O vento soprava furioso. O vento soprava (e estava) furioso. *
O predicativo não para no lugar. Por isso, os professores o chamam de rabo quente. O cantinho dele é depois do verbo. Se passar pra frente, a vírgula pede passagem:
O ministro entrou nervoso na sala. Nervoso, o ministro entrou na sala. O ministro, nervoso, entrou na sala. *
O dia amanhece bonito. Bonito, o dia amanhece. O dia, bonito, amanhece. *
O vento soprava furioso. Furioso, o vento soprava. O vento, furioso, soprava.
Vem, clareza
Às vezes, o deslocamento constitui exigência da clareza. É o caso do período:
Encaminho a carta anexa.
Reparou? Parece que anexa é qualidade permanente da carta. Falso. A carta não é anexa. Está anexa. Melhor abrir alas para a clareza:
Anexa, encaminho a carta.