Há verbos e verbos. Alguns são muito especiais. Defectivos, têm a marca da preguiça. Não se conjugam em todas as pessoas ou tempos. São, por isso, incompletos.
Por quê? Por muitas razões. Alguns, por eufonia. Não são agradáveis ao ouvido. Soam mal. Eu coloro”, do verbo colorir, está nesse grupo. “Eu abolo”, de abolir, também. Feios, não?
Outros perdem guerras. É o caso de falir. Com ele, arma-se a maior confusão. “Eu falo”, diz o comerciante que não consegue pagar os credores. Vai contar tudo? Não. Vai falir. Viu? Às vezes não se entende o recado.
Eu falo, ele fale, fale tudo. São formas de falar ou falir? A briga durou muito tempo. Falir perdeu a batalha. No acordo firmado, ficou acertada a separação. Ele só pode ser conjugado nas formas em que não se confunde com falar. Quais? Aquelas em que aparece o i depois do l. Se esquecer, lembre-se do infinitivo — falir.
No presente do indicativo, salvaram-se duas pessoas (nós falimos, vós falis). O passado escapou ileso (eu fali, ele faliu, nós falimos, eles faliram; eu falia, ele falia, nós falíamos, eles faliam). O futuro também (eu falirei, ele falirá; eu faliria, ele faliria).
E o presente do subjuntivo? Está morto e enterrado. Depois do I vem e (que eu fale). Em compensação, os outros tempos vão bem, obrigado: se eu falisse, se ele falisse, se nós falíssemos, se eles falissem; quando eu falir, quando ele falir, quando nós falirmos, quando eles falirem.
Dica
Na hora do aperto, o que fazer? Seja esperto. As formas inexistentes podem ser supridas. O verbo quebrar e a expressão abrir falência resolvem: Com os juros altos, o comércio quebra (abre falência). Deixe que os incompetentes quebrem (abram falência).
Ninguém perde uma guerra sozinho. Nem aqui, nem na China, nem na gramática. Com falir, foram derrotados florir, foragir-se, remir. Eles se conjugam do mesmo jeitinho. Só nas formas em que aparece o i.