Troféu cara de pau

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O troféu cara de pau vai para…ele mesmo — Francesco Schettino. O comandante do navio Costa Concordia fez o contrário do que mandam os manuais. Quando um barco está em perigo, o comandante deve ser o último a sair. Schettino foi dos primeiros. Deixou pra trás 4.500 pessoas. Questionado, ele disse que não fugiu. Escorregou. E, ao escorregar, caiu num bote salva-vidas.

Inspiração

Schettino lembra aquele homem cheio de fé que, em momento algum, duvidava da graça do Senhor. Pois é. Uma tempestade se abateu sobre a cidadezinha onde morava. Era tanta água que as ruas viraram rios. Ele subiu no teto da casa. Um barco passou e lhe ofereceu socorro. Ele recusou:

— Deus vai me salvar.

A água continuava a trajetória ascendente. Ele subiu em uma árvore. Novo barco lhe ofereceu socorro. Novamente ele recusou com a mesma resposta. Resultado: morreu afogado. Ao chegar ao céu, cobrou explicação do Senhor. Ei-la:

— Eu mandei dois barcos pra resgatar você. Você os dispensou.

Resumo da opereta: Schettino entendeu o recado. Embarcou no bote rapidinho.   Volta, fujão

Você acreditou na desculpa do capitão? O oficial da Capitania dos Portos da Itália também não. “Volte a bordo agora”, mandou ele. A ordem pôs duas pulgas atrás da orelha de moradores deste lado do Atlântico. Uma: a bordo pede o acentinho da crase? A outra: volte a bordo ou volta a bordo? As respostas são mais fáceis que a enrascada em que Schettino se meteu:

1. A bordo é locução formada por palavra masculina (o bordo). O acentinho grave tem alergia a machos. Fica longe, bem lonnnnnnnnnnnnnnnnnge dos barbados.

2. Volte ou volta? Trata-se do imperativo afirmativo. O tempo mandão não deixa por menos. Recorre a dois outros para fazer e acontecer. O tu e o vós saem do presente do indicativo. Com uma condição — sem o s final. As demais pessoas nascem do presente do subjuntivo — sem tirar nem pôr:

Presente do indicativo: eu volto, tu voltas, ele volta, nós voltamos, vós voltais, eles voltam

Presente do subjuntivo: (que) eu volte, tu voltes, ele volte, nós voltemos, vós volteis, eles voltem

Ao dizer “volte a bordo”, o capitão tratou o comandante por você. Se optasse pelo tu, daria a vez ao “volta a bordo”.