DAD SQUARISI // dadsquarisi.df@@dabr.com.br
Viajar é bom. Ventila a rotina, abre os olhos e afina os ouvidos. Sobretudo permite comparações. Descobre-se que as pessoas reagem de forma diferente diante de fatos semelhantes. Uma declaração de Stela McCartney serve de exemplo. A filha do ex-Beatle Paul McCarthey circula nas sofisticadas rodas londrinas. Estilista de sucesso, figura no rol das celebridades internacionais.
Ela surpreendeu o Reino Unido ao dizer que os filhos estudariam em escola particular. A razão: a escola pública deixa muito a desejar. No Brasil, a declaração soaria natural. Há mais de três décadas as classes rica e média abandonaram o ensino gratuito e se bandearam para os colégios privados. A causa é a mesma apontada pela estrela das passarelas.
A resposta da sociedade, porém, foi diferente. Diretores de escola, indignados, pediram explicações. Afinal, das instituições mantidas pelo Estado saíram cientistas, escritores, políticos, professores, advogados e todos os que ilustram o reino de Sua Majestade. Inclusive ela, Stela, estudou em colégio público.
Não só. Cidadãos participaram do debate alimentado por jornais, rádios, tevês, internet, blogues. Alguns concordaram com Stela. Outros não. Mas o xis da questão era este: a população faz a parte dela. Paga impostos. O governo tem de dar o retorno. A educação de qualidade é uma das contrapartidas obrigatórias. Estaria falhando? A resposta, graças à pressão popular, com certeza virá.
A comparação com o Brasil é inevitável. Nós aceitamos com naturalidade a degradação da escola pública, da saúde pública, do transporte público, das estradas, da segurança. A contradição: pagamos uma das cargas tributárias mais altas do mundo sem receber nada em troca. Em vez de gritar, damos um jeito. Desembolsamos mais recursos para tapar o buraco deixado pelo Estado.
Batemos à porta das escolas particulares, dos planos de saúde, da segurança privada, do carro que enfrenta congestionamentos, alto risco de acidentes, falta de vaga para estacionar. Pior: nossa tolerância é como coração de mãe. Não tem limites. A prova? Médicos dos planos de saúde cobram do segurado adicional pela consulta. Não só. Vem aí a CPMF pra “socorrer a saúde”. Sem reação, aceitamos. Pagaremos quatro vezes pelo mesmo mau serviço.