O pizzaiolo lulista rendeu. Em comentário no Jornal das Dez, Cristiana Lobo disse que Lula “fez licença poética”. Será? Licença poética é concessão pra lá de especial pra criaturas pra lá de especiais. A língua não pode funcionar como camisa de força e inibir a expressão do artista. Ele tem, por isso, a liberdade de pisar grafias, concordâncias, regências, pontuações, etc., etc., etc. “Cacilda Becker morreram”, escreveu Drummond amparado no direito que a criação lhe assegura.
“Os senadores são bons pizzaiolos”, disse Lula. O presidente recorreu a figura de linguagem. Qual? A imagem. Pra chegar a ela, o raciocínio passa por etapas:
1ª — comparação: Os senadores são como bons pizzaiolos. A criança é tal qual anjo. (Aparecem, aí, os elos comparativos como e tal qual).
2ª — imagem: Os senadores são bons pizzaiolos. A criança é anjo. (No caso, desaparecem os elos comparativos).
3ª — metáfora: Os pizzaiolos (= senadores) entraram em recesso. Anjos (= crianças) precisam de cuidados. (Viu? O elo e o primeiro elemento da comparação sumiram. O segundo passou a significar o primeiro.)
Moral da história: pizza engorda e confunde.