Tâmara e Thompson Soares Mendonça são irmãos. Aplicados, gostam de todas as disciplinas. Estudar matemática, história, geografia, artes lhes parece grande aventura. Há prazer maior que desvendar o mistério dos números, dos fatos, da Terra e da beleza? Para eles há. É penetrar o universo das línguas. Eles adoram ler, escrever, ouvir e falar. Por isso, não perdem um post sequer.
Outro dia, a Tâmara e o Thompson entraram em contato com o blog para protestar. Acham pra lá de reduzido o espaço reservado aos leitores. “As perguntas”, dizem eles, “são curiosas e úteis. As dúvidas deles são também nossas e de muitas pessoas.” Valeu o puxão de orelhas. Hoje todo o espaço é reservado aos donos e senhores do pedaço. Com a palavra, Sua Excelência o leitor.
O todo e a parte
Leio em jornais e revistas a expressão “transposição das águas do São Francisco”. Entendo que não está correta. O certo seria “transposição de águas do São Francisco”. Concorda? (Lamartine Paraguassu)
O artigo definido é pequeno, mas fala grande. A presença dele engloba. A ausência limita. Dizer “transposição das águas do S. Francisco” significa que toda a água do rio será transposta.Não é toda? Então o monossílabo não tem vez: “transposição de águas do S. Francisco”. Palmas pra você.
O elo
Encontrar a preposição certa para o contexto me dá nó nos miolos. Uma dúvida pintou hoje. Trata-se do adjetivo vinculado. Ora leio “liberdade vinculada com fiança”. Ora, “liberdade vinculada a fiança”. Pode me ajudar? (Hélio Graça)
Regência é difícil. Tão difícil que existem obras especializados no assunto. O Dicionário de regimes de adjetivos e substantivos, de Francisco Fernandes, ensina que vinculado aceita as preposições a e com. Assim: liberdade vinculada com fiança, liberdade vinculada a fiança; amor vinculado ao perdão, amor vinculado com o perdão; educação vinculada com o direito, educação vinculada ao direito.
É bom mesmo?
“Afinal, a cafeína é bom para a saúde da mulher?”, perguntou o jornal no outro dia. Gostaria de saber se a concordância está correta. É bom ou boa? (José Rodrigues)
A chave da resposta está na determinação do substantivo. Ele está acompanhado de artigo? A flexão é obrigatória. Não está? Mantém-se o masculino: É proibido entrada. É proibida a entrada. Cafeína é bom. A cafeína é boa. É permitido consultas noturnas. São permitidas as consultas noturnas.
O mandão
Sempre escrevi “reitere-se os ofícios”, “intime-se as pessoas”, junte-se os documentos”. Tenho colegas que põem o verbo no plural (reiterem-se os ofícios, intimem-se as pessoas, juntem-se os documentos). Considerando que a ordem é endereçada a uma única pessoa, o verbo se mantém no singular ou vai para o plural? (Alan Alves)
O xis da questão não é o destinatário. É o sujeito. O verbo tem de concordar com ele. No caso, ofícios, pessoas, documentos. Vai, pois, para o plural. A passiva sintética, construída com o pronome se, sempre causa confusão. Para acertar sempre, apele para o troca-troca. Passe a frase para a passiva analítica. Assim: Reiterem-se os ofícios (os ofícios são reiterados), intimem-se as pessoas (as pessoas são intimadas), juntem-see os documentos (os documentos são juntados)
Qual é?
A expressão “a grande maioria” é redundante ou está correta? (Thiago M. S. Faria)
Está corretíssima. Tanto 51% quanto 99% de algo referem-se a uma maioria embora os valores sejam muito diferentes.