Seis por meia dúzia

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Programa eleitoral tem um montão de defeitos. É chato, repetitivo e mentiroso. Mas tem qualidades. Uma delas: amplia nossa cultura. O maior lucro fica com a linguística. Não pela variação vocabular. Nem pelo respeito à sintaxe e à prosódia. Mas pela sofisticação dos termos. Palavras gregas e latinas jogam luz na fala dos candidatos, iluminam-lhes as idéias, denunciam quem é quem.

A tautologia ganha destaque. Na boca do povo, a polissílaba sofisticada ganhou tradução em bom português: trocar seis por meia dúzia. É mais do mesmo. Raciocínio circular, fala sem dizer. Parece cachorro correndo atrás do rabo. O bicho roda em tal velocidade que deixa a impressão de que vai tirar a mãe da forca. Mas não sai do lugar. É o caso do requerimento que requer, do diretor que dirige, do gerente que gerencia.

E nossos candidatos? Esbanjam tautologias a torto e a direito. Eles querem matar a fome com comida, a sede com água, a escuridão com eletricidade. Querem diminuir o desemprego com emprego, a falta de vagas com vagas, a desonestidade com honestidade. Querem aumentar a oferta de transporte com mais ônibus e vans. Querem acabar os projetos inacabados com a conclusão das obras. Querem estimular o esporte com mais esporte.

Como chegar lá? Cadê projetos? Ninguém sabe, ninguém viu. O gato, eterno culpado, ri à toa. O tal “gato comeu” já era. Discurso vazio não enche barriga. Que busquem outro culpado.