É Copa pra lá, Copa pra cá. A cidade se enfeita. Janelas, vitrines, quadras, praças exibem as cores do Brasil. As pessoas vão atrás. Homens, mulheres e crianças vestem camisetas, calções, biquínis verde-amarelos. O marketing, claro, explora o assunto à exaustão. Bancos, bebidas, carros só falam naquilo.
As cervejas são pra lá de agressivas. Divulgam as vantagens das louras geladas. Vale tudo — mulher bonita, disputa de amigos, frases maliciosas. Depois, aparece um recadinho meio envergonhado. “Beba com moderação”, mandam umas. “Bebe com moderação”, ordenam outras. Marcelo Abi leu a mensagem. Incomodou-se com o imperativo. Depois de muito matutar, escreveu um e-mail ao blog:
— Beba com moderação? Bebe com moderação? Qual a forma nota 10?
O manda-desmanda
O imperativo, forma que dá ordem, faz pedido, manda e desmanda, tem caprichos. Cheio de manhas, exige atenção plena na formação. Quer ver?
O manda
O imperativo afirmativo é rigoroso. Divide as pessoas do discurso em dois grupos. As segundas pessoas (tu e vós), preferidas dos gaúchos, ficam de um lado. As outras (ele, nós, eles), do outro.
O tu e o vós derivam do presente do indicativo. Mas esnobam o s final. Mais simples, as outras pessoas não dão trabalho. Saem todas do presente do subjuntivo – sem tirar nem pôr. Veja o exemplo do verbo beber:
Presente do indicativo: eu bebo, tu bebes, ele bebe, nós bebemos, vós bebeis, eles bebem.
Presente do subjuntivo: que tu bebas, que você beba, que nós bebamos, que vós bebais, que eles bebam.
Imperativo afirmativo: bebe tu, beba você, bebamos nós, bebei vós, bebam vocês.
O desmanda
O imperativo negativo é elitista. Não se mistura. Sai todinho do presente do subjuntivo: não filmes tu, não filme você, não filmemos nós, não filmeis vós, não filmem vocês.
Resumo da ópera
Em “bebe com moderação”, trata-se o beberrão de tu. Em “beba com moderação”, de você. Ambas as formas merecem nota 10.
Boa escola
Gonçalves Dias estudou em boa escola. No poema “Canção do exílio”, esgrime imperativo e subjuntivo com maestria. Eis uma provinha:
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras
Onde canta o sabiá.