DAD SQUARISI // dadsquarisi.df@diariosassociados.com.br
Parece incrível. Mas Dubai e Brasília têm pontos comuns. Ambas têm clima de deserto. Ambas têm menos de 50 anos. Ambas têm arquitetura moderna. Ambas desestimulam caminhadas pelas ruas. Ambas atraem turistas. Ambas têm a marca da impermanência.
A memória dos beduínos que viviam ali há menos de meio século desapareceu. Casas, tendas, ruas, comércio de então viraram pseudomuseu. Na cidade há uma rua que diz guardar a história local. Mas não exibe construções ou peças originais. É tudo novo, limpo, construído com material de primeira. Em suma: é mentirinha pra turista ver.
Lá nada tem a marca do tempo. Nas ruas bem cuidadas, exibem-se prédios altos, espelhados, com tinta quase fresca. Os carros são 0km. Os ônibus mantêm o cheiro de loja. As plantas, artificiais, parecem saídas da estufa. A indústria da demolição impressiona. O novíssimo substitui o novo. Edifícios recém-inaugurados dão vez a outros mais altos, mais inteligentes, mais exibidos. A paisagem de hoje dificilmente se repete amanhã.
Dubai vem à lembrança a propósito da demolição do Clube do Congresso. Não pelo prédio em si. Mas pelos murais do Athos Bulcão. Jóias da memória de Brasília viraram pó sob a força insensível das marretas. Há pouco azulejos do mesmo artista sofreram os efeitos das chamas na Igrejinha. Os cubos da fachada do Teatro Nacional foram pra UTI. Deixaram paredes nuas a se perguntarem se terão de volta as vestes de imponente simplicidade.
Uma demolição aqui, uma obra ali, um puxadinho acolá, uma mudança de destinação mais adiante, alteração de gabarito num lugar e noutro, avanço na área verde próxima ou distante…ops! Se ele pode, eu também posso. Se ali pode, por que não aqui? Assim, passo a passo, Brasília se aproxima de Dubai. Claro que não ganhará a cara da Miami deslumbradíssima de uma hora para outra. Falta-lhe dinheiro. Sobram olhos atentos. Mas, como diz o outro, de grão em grão a galinha enche o papo.